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Estado de Minas

De manobra em manobra


postado em 24/03/2019 05:07

 

Esta semana precisei usar a calçada que há em frente a algumas revendas de automóveis que ficam na descida da Avenida Raja Gabáglia, pouco depois do trevo do BH Shopping, no Bairro Santa Lúcia. Passo de carro por lá ao menos duas vezes na semana e sempre me chamou a atenção a ocupação do local pelos veículos expostos à venda. A pé foi difícil transpor tantos obstáculos e não aguentei ficar calada enquanto por ali caminhava.

Na primeira revenda ouvi de dois manobristas bem constrangidos que eles já iam tirar os carros, quando lhes perguntei se calçada não era lugar reservado para pedestres. Na segunda revenda o alvo de minha observação foi um vendedor com ares de quem tem autoridade para mandos e desmandos e, como era esperado, constrangimento passou longe dali.

– Isto aqui está uma festa hoje! Comentei e recebi de volta um belo sorriso típico de quem acredita estar diante de uma cliente em potencial.

Mas a fisionomia logo mudou quando a ele também perguntei se calçada não era para uso de pedestres a que ele prontamente respondeu:

– Também! E foi logo explicando que passeio se presta também onde se faz manobra. Era carro demais para tanta manobra e tão pouco espaço verdadeiramente disponível, mas foi a aposta que ele fez.

Como boa brasileira que sou, entendo perfeitamente o significado preferido que nosso povo dá à palavra manobra. Mais do que ajeitar os carros para lá e para cá de forma a caberem dentro de uma vaga real, o que se fazia ali era uma artimanha, um artificio para ajeitar espaços fictícios até que um agente da ordem passe dando uma corrigenda ou ... “deixa pra lá”.

Ao entrar no prédio, me vi diante do porteiro ao telefone conversando exatamente com a revenda pedindo que retirassem os carros da calçada. Negava ter sido alertado por uma chata que acabara de adentrar a portaria. Rimos os dois da sintonia de tentarmos  fazer a corrigenda simultaneamente sem combinação prévia.

– Todos os dias tenho que pedir ao menos duas vezes para que removam os carros. Senão, meu patrão (o síndico) me mata, pois quando há multa não vem em nome da loja e sim do condomínio e a culpa recai, mais uma vez, sobre o mais fraco.

Os proprietários das lojas sabem que estão errados e mais vale arrumar desculpas para usar com os vizinhos e com os cidadãos que passam por ali. Afinal, o tempo passa, fazemos nossos negócios, nos divertimos, manobramos a vida aqui e ali.

Me fez lembrar um cidadão nervoso que, ao perceber que a discussão na qual estava envolvido não ia acabar muito bem para ele, soltou o seguinte argumento:

– Acabei de enterrar minha mãe semana passada e este cara vem me afrontar agora dessa forma?

Bem, mesmo que estivesse sendo desrespeitado pelo homem com quem discutia, não vejo como tal argumento se encaixava na conversa. Fato é que ninguém mais que nós mesmos somos vítimas de nossas manobras sempre que tentamos justificar o injustificável.


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