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Milão como referência

Além da proeza de manter o line-up com tantos nomes consagrados, semana de moda italiana continua a apresentar coleções que exalam criatividade e propõem caminhos inesperados


postado em 03/03/2019 05:09

Fendi(foto: Miguel Medina/afp)
Fendi (foto: Miguel Medina/afp)



A Itália não perde a chance de surpreender. Em mais uma edição da Semana de Moda de Milão, o luxo ultrapassa barreiras e ganha contornos exagerados, divertidos e contrastantes. Pelo visto, as grandes marcas já se convenceram de que a sua sobrevivência depende de muita criatividade. A Moschino assina a coleção mais inesperada, que tem de estampa de notas de dólar a bolsa no formato de pasta de dente. O desfile da Fendi ganhou destaque por ser o último sob o comando de Karl Lagerfeld.
A Gucci partiu de máscaras para criar um mundo enigmático na passarela. Alessandro Michele entende que elas são um “poderoso filtro que constantemente seleciona o que queremos compartilhar sobre nós e o que queremos esconder em vez disso.” Levando essa ideia para a moda, as roupas são um meio eficiente de expressar a nossa personalidade.
Em uma coleção nada básica, o estilista não economizou na mistura de cores, tecidos e estilos. Luxo e esportivo se encontram, por exemplo, em um look composto por vestido de festa com miçangas, meia calça de renda, meião de tricô e protetor de joelhos (muito comum de ver em jogadores de vôlei).
A modelagem mais afastada do corpo reforça a intenção do criador de fazer moda sem gênero. Dessa vez, Michele insistiu na composição de casacos alongados com calças largas. “Adoro casacos e tentei enfatizar os elementos interessantes de sua construção.” Os ombros são estruturados e, em alguns casos, pontiagudos, enquanto a cintura marca a silhueta. Já as mangas aparecem ora curtas, deixando o punho da camisa de baixo à vista, ora longas, tampando parte das mãos.
Sobre as calças, em alguns looks elas aparecem ajustadas no tornozelo. O estilista usa elástico, botões e laço do próprio tecido para dar outra cara à barra.
Os acessórios ganharam protagonismo na coleção da Gucci. Além das máscaras, orelhas de ouro e colares de spikes, bem no estilo punk, que mais aparecem coleiras. Foco, ainda, nos tênis, coloridos e com detalhes em neon, que se assumem substitutos do salto alto.
Pode até ser que pouco se aproveite da roupa, mas o desfile da Moschino conseguiu ser pura diversão. Jeremy Scott transformou a passarela naqueles programas de TV que distribuem prêmios. Enquanto umas modelos desfilavam, outras posavam ao lado de eletrodomésticos, aparelhos de ginástica ou uma Ferrari vermelha. Dessa forma, o estilista mostra que a moda não precisa ser levada tão a sério. “Um pouco de leveza, um pouco de diversão, não há nada de errado nisso.”
As estampas não poderiam ser mais irreverentes. Passaram pela passarela roupas de nota de dólar, rótulo de refrigerante, embalagem de cereal e figurinhas de caça-níquel. As bolsas também não fugiram ao tema e surgiam em formato de cheque, tubo de pasta de dente, ferro de passar roupa, garrafa de champanhe e máquina de lavar roupa. O auge do desfile se deu quando entrou na passarela uma capa gigante que representava um jantar com carne, purê de batata, cenoura e ervilha.


Scott abusou do dourado para mostrar um luxo intencionalmente cafona. As joias também eram exageradas. Numa busca por sensualidade, a marca investiu em roupas bem justas ao corpo, barriga de fora, enormes fendas e saias curtas.
Miuccia Prada explorou várias facetas do romance nesta edição da Semana de Moda de Milão. De um lado, o amor clássico, representado por flores – que aparecem em estampas, aplicações, rendas e no decote de um vestido de gala, além de um coração e um raio simbolizando o amor à primeira vista. Do outro lado, o amor sombrio, decifrado através do uso predominante de preto, roupas militares, a estampa de Frankenstein e sua noiva e as tranças idênticas às da personagem da Família Addams.


DUALIDADE Contrastes inesperados provocavam o olhar. A estilista da Prada combinou vestidos de festa com sapatos tratorados e coturnos pesados (um dos modelos tem bolsos acoplados); saia de renda com casaco no estilo militar; conjunto esportivo com camisa social e sandálias de salto alto e brilhos. Até mesmo a trilha sonora combinava dois mundos: heavy metal e música instrumental. Como explicou Miuccia, a dualidade de materiais “transmite uma sugestão de dois amantes se encontrando”.


É bom ficar de olho em tomara que caia, comprimento midi e casacos com as mangas abertas.
Na coleção batizada de Elegância, a Dolce&Gabanna mostrou inúmeras possibilidades para a mulher se destacar. Os estilistas Domenico e Stefano sugerem o uso do brilho de brocados e lantejoulas ou estampa de leopardo. Cores vivas, como rosa, amarelo e vermelho, ou só preto, definido como “sensual e dramático”. Vestido de festa ou alfaiataria. Florais ou estampas que reinterpretam obras surrealistas. Volume ou peças que modelam o corpo.


A alfaiataria é explorada do início ao fim. A dupla consegue combinar peças extremamente femininas com elementos do guarda-roupa masculino, entre eles gravata, colete e fraque. Casacos tipo capa ajudam a reforçar o conceito de elegância. De modo geral, os ombros seguem estruturados, as cinturas ficam mais acentuadas e o comprimento midi se sobressai. Os bordados, como sempre, são um ponto importante do trabalho da marca. A apresentação começou, inclusive, com o vídeo “Feito a mão”, que mostra os estilistas em ação, desenhando, costurando e acompanhando provas de roupa.


No meio do desfile, cinco “noivas” quebraram a sequência de estampas e exibiram na passarela vestidos brancos. A intenção de Dolce e Gabanna era criar uma silhueta de nuvens de tule para dar a sensação de um dia de casamento mágico, com muito romantismo.

 

 

Coleção de despedida

Muito do que se viu na passarela da Fendi lembrava, naturalmente, o estilista alemão, que direcionou o trabalho da equipe até o último momento. A começar pelo monograma que ele criou para a marca italiana. O símbolo FF, que era chamado de “grafia de Karl”, estampava de meia calça a casaco. Lagerfeld também se fez presente em camisas de golas altas, pontiagudas e com botões, na mesma linha das que ele usava, fazia chuva ou sol.Em destaque, amarrações que formam um laço nas costas, saias plissadas em tecidos leves e estruturados e peças em couro cortado a laser, que fica parecendo uma tela vazada. Há também casacos com mangas abertas, alguns no estilo capa. As peles, que fazem parte da história da Fendi, não ficaram de fora. Looks em tons neutros ganharam pitadas de amarelo, azul, verde, laranja, vermelho e rosa.O clima era de homenagem e despedida, já que a marca ocupou a passarela dois dias depois da morte do seu diretor-criativo. O desfile terminou ao som de uma das músicas preferidas do alemão – Heroes, de David Bowie – e na sequência um vídeo o mostrou desenhando a roupa que ele usava no dia em começou a trabalhar no ateliê. Silvia Fendi, neta do fundador, classificou a relação entre Fendi e Lagerfeld como “a mais longa história de amor da moda”. Não tem nada de exagero, já que o estilista dirigiu a marca por longos 54 anos.Ainda não se fala em sucessão, mas, ao que tudo indica, Silvia terá a missão de dar continuidade ao legado de Lagerfeld na marca da família.

 

 

O legado de Lagerfeld

 

No meio da moda, existe, sim, uma unanimidade. Pelo menos quando se fala em Karl Lagerfeld: vai ser difícil encontrar outro estilista como ele. Apesar de ser uma figura controversa, que distribuiu ao longo da vida muitas declarações polêmicas, o estilista alemão tinha um olhar amplo (até fotografava as campanhas), um primor na construção das roupas e, principalmente, uma imagem icônica, que conseguiu chegar mais longe que a da marca onde trabalhou. No caso, nada menos que a Chanel.
Usando cinco anéis, um em cada dedo, Danielle Benício faz uma pausa na atribulada rotina entre Belo Horizonte e São Paulo para falar sobre Karl Lagerfeld. A estilista de noivas olha para a sua mão e se dá conta do tanto que ele é uma inspiração. Quando não estava com luvas, o alemão colocava anéis em todos os dedos. “Foi uma perda irreparável para quem gosta de alta-costura. Ele é um dos poucos estilistas que realmente escreveu um capítulo na história da moda mundial”, aponta.
Se no estilo pessoal é assim, imagina no trabalho. Danielle se formou na França e sempre se espelhou no homem

“visionário e muito criativo”. Há um pouco de Lagerfeld em cada babado, tule, renda ou camélia. “A noiva dele sempre muito fluida, leve, bem épica, mesmo quando tinha volume, e o meu vestido tem muito disso. Gosto dessa leveza e suavidade.”
Por causa de Lagerfeld, a Chanel se tornou uma referência de peso para Danielle. “Sou encantada pela marca. Ela faz uma moda clássica, limpa, chique e eterna, com uma costura realmente muito diferenciada.” A estilista sempre fica de olho nos lançamentos da maison francesa e, quando está em Paris, tem que visitar as lojas. No guarda-roupa, ela guarda com carinho peças da Chanel que comprou “como investimento” e que devem ser usadas até pelas filhas.


O estilista Renato Loureiro teve o privilégio de assistir da plateia dois desfiles da Chanel em Paris. Em um deles, nos jardins do Museu do Louvre, ele ficou frente a frente com o estilista. “Fui para atrás da tenda e vi o Lagerfeld esperando uma entrevista. Na mesma hora em que ele entrou no ar, incorporou o personagem e começou a gesticular, a se abanar com um leque, até a voz mudou. Isso aumentou ainda mais a minha admiração por ele”, conta.


Lagerfeld não influenciou diretamente o trabalho de Loureiro, mas o ajudou a entender que era possível fazer do básico algo moderno, caso é o caso do tailleur Chanel. “O que mais me chamava a atenção no trabalho dele era a estrutura das roupas. Isso ele sempre fazia muito bem.” O estilista mineiro acompanhava os desfiles, mesmo de longe, para observar a evolução dos shapes a cada coleção, ou seja, se a ombreira tinha aumentado, a cintura subido ou a manga estava mais volumosa.
Na opinião de Loureiro, o alemão vai fazer falta principalmente pela presença marcante. “Lagerfeld não era só reconhecido pela moda, mas pelo que ele provocava nas pessoas. Ele era um cara controverso, que sempre falava o que dava na cabeça.”


Para além das roupas, a professora da Universidade Fumec Carla Mendonça enxerga que o legado de Lagerfeld está em mostrar a importância do marketing para a carreira de moda. “Ele sempre entendeu o tanto que as pessoas amavam a imagem de moda, e sempre construiu uma imagem muito forte. Isso tem muito a ver com a ideia de que está vendendo sonho puro, e não apenas uma roupa incrível”, analisa.


Carla destaca o desfile em que a passarela se transformou em um supermercado, com direito a carrinho de compras, e uma parceria, até então inédita, com uma rede de fast fashion. Sem falar na própria imagem do estilista. “Qual outro estilista conseguiria estampar uma camiseta uma com a própria imagem? Ele faz dele uma comódite, isso é sacada muito boa.”
Na Chanel, a professora da Fumec destaca o mérito do alemão de explorar a linguagem tradicional da casa em uma proposta completamente tecnológica. “Ele olhava para trás, mais pela construção perfeita da roupa. Lagerfeld era um cara de muita pesquisa do têxtil, e isso é uma marca muito forte dele.” Sobre a sucessão, Carla não tem dúvida de que a estilista Phoebe Philo (que já passou por Chloé e Céine) seria perfeita para a Chanel, por ter uma noção de elegância bem contemporânea, que não é careta


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