Jornal Estado de Minas

E agora que acabou a bebida?

Estava em uma festa quando observei a aflição do casal anfitrião. Ele saiu de mansinho, como quem vai comprar algo que naquele momento parecia essencial para que o evento prosseguisse. Para um bom observador é fácil perceber os passos e a movimentação ansiosa daqueles que custam a aceitar que algo não saiu conforme o previsto. Junto foi um parente próximo que se expressa pouco, cuja ausência não poderia ser percebida muito rapidamente.


Não demorou já estavam de volta e, com cara de desolados, procuraram a dona da casa. “Não achamos nada aberto aqui por perto para comprar mais espumante”, comunicaram-lhe. Em um primeiro momento o que sentiam ser um motivo de fracasso, acabou se transformando em um pequeno detalhe.


Confesso-me amante de bebidas como prosecco, espumante e champanhe, mas saber que numa festa não há ou acabou o estoque não é um tipo de informação que me chateia ou faz com que o ambiente se torne sem graça ou sem atrativos.

Havia outras opções de bebida e de entretenimento. Afinal longe de ser o que se serve em bandejas o que um evento social pode oferecer de melhor. Aliás se há uma coisa que me admira em muitos jovens atualmente é que para eles o caos seria se faltasse água para beber, o resto é supérfluo.


Percebi que ninguém mais além dos donos da festa se chateou, a maioria nem sequer percebeu. Continuou deliciando o que lhe era oferecido, enquanto se preocupava em não perder uma única piada, não deixar passar oportunidades de dar belas gargalhadas e despretensiosamente colocar a conversa em dia.


Poucos dias antes deste encontro, eu retornara de uma viagem a Inglaterra onde fizemos questão de receber os vizinhos de prédio de meu filho que lá reside. Preocupados em fazer o melhor possível, discutimos o que poderíamos servir, quando fomos informados de que as pessoas normalmente comem antes de ir para a casa uns dos outros.


- Faça algo leve, mãe, só para acompanhar a bebida que, com certeza, cada um trará.


- Mas somos brasileiros, filho. Não consigo não pensar em encher a mesa.


Ele acabou passando uma mensagem para todos contendo tudo o que ofereceríamos para que pudessem dosar melhor o quanto seria prudente comer antes de ir. O melhor disso tudo é que ninguém se preocupa com quantidade. Se acabar, acabou. Simples assim.


Não que eu ache que o melhor a fazermos seja ir para a casa dos outros de barriga cheia, como faziam os pais com seus pequenos a décadas atrás para que não dessem vexame e quisessem comer tudo o que vissem pela frente. Mas que poderíamos aprender a conviver com a ideia de que nem sempre temos o controle da situação e o quanto isso é saudável, isso bem que poderíamos!

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