Blade Runner – O caçador de andróides, filme cult do princípio dos anos 1980, mix de gênero noir e ficção científica, impactou decisivamente a vida de Marcelo Durães. Tanto é que, na época, ele lançou uma marca de moda masculina que tinha o mesmo nome da película distópica de Ridley Scott. E a alfaiataria que comanda com a mulher, Simone Martins, há 27 anos, também se chama Blade Alfaiataria. Para completar, o irrequieto Marcelo anexou Blade ao sobrenome – e assim ficou conhecido.
Mas, independentemente dessa história, o dublê de empresário e alfaiate se encaixa perfeitamente naquele ditado antigo que diz que “quem sai aos seus, não degenera”. Marcelo é filho do famoso alfaiate mineiro Hermano, que confeccionava ternos para a fina flor da sociedade de Belo Horizonte. Foi criado dentro de uma alfaiataria, apreendeu os ensinamentos do pai e vem repetindo o mesmo sucesso paterno trabalhando, há quase três décadas, para clientes de classe abastada, de diferentes gerações, que prezam a perfeição do feito sob medida.
São empresários bem-sucedidos, executivos em ascensão, jogadores de futebol, artistas, que frequentam o atelier do Bairro Cruzeiro, cuja decoração arrojada – há até uma bicicleta pendurada na grade que cerca a casa – reflete a personalidade irreverente do dono, atrai os mais jovens e não afasta os mais velhos. A atmosfera do local é bem cool.
Entre tradição e modernidade, Marcelo tem soluções para todos os públicos. Detalhes especiais, como pespontos coloridos nos bolsos ou lapelas e tecidos mais atrevidos para os primeiros e o rigor do clássico para a segunda turma.
Contudo, a maioria das pessoas chega até ele por meio de indicações. “Elas já sabem que o produto é excelente e com a confiança de que vão recebê-lo no prazo combinado.” Entre a clientela variada, destacam-se os noivos. Eles têm um papel importante na economia do ateliê. Cada casamento representa um mínimo de cinco ternos, entre família e convidados, que escolhem ali, com atendimento exclusivo, como querem se vestir na ocasião.
“Recebemos gente de todo o Brasil e do interior de Minas”, enfatiza Marcelo, lembrando que o atelier adota o bespoke, técnica originária da Inglaterra, especialmente das casas especializadas da Rua Savile Row, em Londres, que significa peças únicas, criadas para alguém sob encomenda, margeando a criatividade e anecessidade de cada um, de acordo com personalidade e biótipo.
“Tiramos as medidas e construímos a peça junto com o cliente, que vai escolher o tecido, a padronagem, a cor, o forro e até o botão. É alta-costura masculina”.
Marcelo acredita que a primeira visita ao alfaiate é um rito de passagem. É como se existisse uma certa liturgia nesse processo entre o momento da escolha do traje, das provas, até a entrega da peça. Bom lembrar que a confecção de um terno pode consumir até 72 horas de costura a mão.
Por isso, são muitos os casos de clientes que compram ternos em maisons famosas recorrerem à alfaiataria para que se façam os ajustes necessários ao bom caimento no corpo. Esse é mais um serviço oferecido pela Blade, cuja lista inclui o atendimento para crianças e mulheres. Sim, mulheres. Desde que Yves Saint-Laurent popularizou o smoking feminino para noites de gala, elas têm investido no modelito glamouroso. A influencer Cris Valias, por exemplo, encomendou o seu modelito na Blade. O resultado é elegância pura. Afinal, voltando mais atrás, o sucesso de Chanel deve-se à sua inspiração no guarda-roupa dos homens.
Linha gourmet Durante alguns anos, Marcelo e Simone alugaram casa em Tiradentes e foram testemunhas de todas as edições do festival de gastronomia da cidade.
Revendo sua trajetória, Marcelo relembra os primeiros tempos da empresa. Comunicador nato, batia ponto no Restaurante Chico Mineiro para fazer lobby com os empresários que frequentavam o lugar. “Quase todos fizeram ternos comigo”, afirma.
“A marca bombou na mídia, Caetano Veloso usou na capa da Vogue. A Blade aconteceu em São Paulo. Tivemos várias lojas nos shoppings de Belo Horizonte”, ressalta. Porém, após quatro anos no mercado, um novo ciclo chegou e com ele veio a ideia de investir em uma alfaiataria paralela à do pai, mas no mesmo formato ateliê. Deu muito certo.