Modelagens extravagantes dominaram as passarelas em Paris. Nos desfiles da última Semana de Alta-Costura, os estilistas abusaram de geometrias fora do padrão para criar volumes que surpreendem. Os tecidos ganharam camadas, babados e plissados. As mangas não são apenas bufantes, em alguns looks elas surgem com formas e alturas inesperadas. O colo também ganhou uma atenção especial com golas que ultrapassam o pescoço. A seguir, como três grifes – Dior, Chanel e Iris van Herpen – exploraram os volumes nesta temporada.
O desfile da Dior propôs uma imersão no universo do circo. A grife montou um picadeiro nos jardins do Museu Rodin e levou para a passarela o grupo britânico Mimbre, formado só por acrobatas mulheres. “O legado do circo para a Dior é muito forte, então tentei traduzir esse universo com a minha linguagem”, pontuou a estilista italiana Maria Grazia Chiuri, primeira mulher a ocupar o posto de diretora criativa da francesa Dior.
As acrobatas emolduravam os passos das modelos, que tinham lágrimas pintadas nos olhos, como os pierrots. Aliás, muitos elementos lembravam pierrots, colombinas e arlequins, entre eles golas de tule volumosas, desenhos geométricos (principalmente losangos, círculos e listras) e a combinação de preto e branco. Ainda no tema circo, casacos, blazers e jaquetas reproduziam o visual dos trajes dos domadores, enquanto looks brilhantes (incluindo meia-calça) remetiam ao collant dos acrobatas. Entre os bordados, tigre pulando um aro em chamas, malabarista se equilibrando em bicicleta e domador rodeado de animais.
A estilista usou várias estratégias para criar volumes nas roupas. Podemos citar mangas bufantes, golas que ultrapassam o pescoço, tules que fazem as vezes de asas, calças amplas na perna e justas nos tornozelos, decotes tomara que caia com babados, plissados exagerados, modelagens geométricas e saias que mais parecem crinolinas. Vestidos de festa dividiram espaço com uma alfaiataria luxuosa. “A alta-costura precisa usar uma nova linguagem.
Os volumes foram essenciais para contar a história da coleção da Chanel, que se passa no século 18. O estilista Karl Lagerfeld abusou de babados, mangas bufantes, tules armados nos ombros, laços enormes, baloné e saias em camadas. Ao mesmo tempo, deu um toque de modernidade aos looks ao usar, por exemplo, couro em jaquetas e saias, comprimento mídi (que deixa os tornozelos à mostra), inclusive no clássico tailleur, e decotes. Tudo isso ambientado em um jardim mediterrâneo, com piscina e tudo, montado no Grand Palais, que contrastava com o frio congelante lá de fora.
Karl Lagerfeld não apareceu ao fim do desfile (algo que não acontecia há décadas) alegando cansaço, mas foi ele quem pensou e desenhou toda a coleção. A inspiração vem de uma exposição em cartaz no Museu Cognacq-Jay, em Paris, sobre mercadores que vendiam obras de arte, joias, porcelanas e outras preciosidades da época e ajudaram a desenvolver o mercado de luxo parisiense. O resultado, naturalmente, é a presença ainda mais marcante do trabalho artesanal.
As roupas encheram a passarela de flores em vários materiais e texturas: plumas, rendas, lantejoulas pintadas a mão e até mesmo flores naturais resinadas. Desta vez, o look de noiva da Chanel mostrou um denso bordado de flores prateadas, da cabeça aos pés. A modelo parecia ter saído da piscina, apesar de toda a sofisticação, já que vestia um traje de banho metalizado, com maiô no estilo engana mamãe (com recortes nas laterais), touca e chinelos de salto, além do extenso véu.
Iris van Herpen está acostumada a fazer interpretações da natureza na passarela. Então, para ela os volumes são indispensáveis. Nesta temporada, a estilista partiu de estudos sobre criaturas híbridas, que são uma mistura de humanos com animais. “Olhei para a evolução da forma humana, sua idealização através do tempo e a hibridação das formas femininas dentro da mitologia”, complementou a holandesa, que buscou referências no livro Harmonia macrocósmica, um atlas publicado no século 17. Além de mapas constelares, ele contém representações de seres mitológicos e astrológicos.
ORGÂNICO Os vestidos funcionavam como uma extensão do corpo das modelos. A estilista se valeu de recursos como plissados manuais, recortes a laser e volumes (especialmente nos ombros) para criar formas orgânicas que poderiam lembrar pétalas, asas de insetos, o movimento das águas ou qualquer outro elemento da natureza. Saias esvoaçantes levavam fluidez para a passarela, enquanto modelagens estruturadas deixavam os looks mais rígidos.
A holandesa desenvolveu as estampas em parceria com o ex-engenheiro da Nasa Kim Keever, que hoje trabalha com fotografia e pintura. Imagens de nuvens coloridas foram impressas em organzas translúcidas, criando um efeito borrado. Além disso, ela utilizou um material plástico para fazer ondas tridimensionais. Em movimento, os looks tecnológicos distorciam o contorno dos corpos.