Uma amiga lamentava as dificuldades que a vida lhe reservava naquele momento. “O que terei feito de errado?”, se indagava como se a vida nos respondesse com castigos quando as coisas não corressem como o esperado e desejado ou, por outro lado, com prêmios quando optássemos por caminhos outros. Por mais que nossas escolhas não resultem naquilo que acreditamos ser o melhor, não significa que tomamos o caminho errado. Inadequado segundo nossas expectativas, talvez, mas somos guiados preferencialmente por aquilo que acreditamos ser o melhor, nem que seja só para nós mesmos.
Teria sido um desastre se todas as minhas escolhas tivessem sido bem sucedidas, no que se refere à sua concretização, sobre a ótica do desejo momentâneo. Imagino o caos. Mas que é duro conviver com a realidade, isto é. Sabemos muito bem como as coisas funcionam, a dinâmica da vida, porém insistimos em bater a cabeça e por isso sofremos. Temos como certo e imutável que todos morreremos um dia e muitas vezes não aceitamos a morte, nem mesmo de alguém que viveu muito mais que a média da expectativa de toda uma população. Sabemos que o melhor para qualquer ser humano é a independência, mas fazemos de tudo para que nossos filhos não se soltem de nossas rédeas. Sonhamos com a aposentadoria na expectativa de termos mais tempo para nós, mas não sabemos lidar com as horas de folga que se abrem em nossas agendas. Compramos uma peça de roupa acreditando ser a mais bonita, mas logo a desprezamos por que basta olhar uma nova vitrine e outra passa a ser nosso objeto de desejo.
Temos desejos inadequados aos montes o que muitas vezes nos fazem parecer insaciáveis. Somos seres mimados, queremos porque queremos e ponto final. Achamos que sabemos tudo, principalmente sobre nós mesmos, quando de fato ninguém mais que nós mesmos tem a capacidade de nos surpreender. Nos surpreendemos ao fazer um balanço dos desejos que perseguimos anos atrás. E nossas maiores surpresas dizem respeito aos valores que adotávamos o que provavelmente acontecerá no futuro com muito daquilo que valorizamos hoje. É nessa hora que vem a sensação de alívio por nem todas nossasescolhas terem sido concretizadas. Nossas vidas seriam bemdiferentes, sem dúvida, mas seríamos mais felizes?
Ninguém sabe a resposta. Sabemos o que somos hoje, fruto do que escolhemos, e que colheremos amanhã o que semearmos. É melhor que sejam conscientes nossas escolhas e, por mais que as tenhamos desejado, que saibamos usar a nosso favor suas respostas.