Em qualquer levantamento que se faça sobre a influência dos grandes estilistas franceses na história da moda, um nome aparece sempre: o de Cristobal Balenciaga, espanhol que nasceu em 1985 e que só deixou de impressionar o mundo quando, voluntariamente, saiu de cena em 1968. Sua última revolução foi indireta. Quando a moda francesa teve que enfrentar o avanço da swinging London e a paixão da juventude por Mary Quant, a criadora da minissaia, o nome mais forte que apareceu foi o de Courrèges. Depois de passar 10 anos trabalhando com Balenciaga, Courrèges criou o impensável: um vestido curtíssimo, mas sabiamente estruturado, perfeito. Tinha aprendido todos os segredos da alta-costura com seu mestre.
Balenciaga começou cedo. Aos 20 anos abriu sua primeira maison de couture, em San Sabastian. Outras logo se seguiram, em Madri e Barcelona, batizadas como Eisa, para homenagear a mãe, que se chamava Eisaguirre. Quando a guerra civil explodiu na Espanha, ele tomou o caminho de Paris.
Sua estratégia deu tão certo que já em 1937 ele abriu sua primeira casa em Paris, num endereço e tanto: Avenida George V. Seu estilo fez sucesso desde as primeiras coleções, por causa da perfeição de seu corte. Balenciaga tinha um diferencial: cortava tanto com a mão direita quanto com a esquerda, era ambidestro. Já na época, chamava a atenção a modelagem de suas mangas de mantô, de cava quadrada, absolutamente perfeita tanto na frente quanto nas costas da peça. Nos seus desfiles, outra coisa que chamava a atenção era o uso constante do preto (“um preto espanhol, profundo, junto do qual todos os outros pretos pareciam ser cinza”).
A guerra chegou e a maison Balenciaga atravessou o período com a austeridade que era sua marca.
CONTRA O NEW LOOK Nos anos 50, quando o new look criado por Christian Dior redesenhou a silhueta feminina, com sua cintura muito ajustada e suas saias amplas e no meio das pernas, Balenciaga tratou de nadar contra a corrente. Nascia então o semi-fitted look, que passou a simbolizar a elegância da época. Os decotes descobriram o pescoço, o busto era vagamente percebido através de criativos drapês, que formavam a parte superior da roupa, deixando os ombros desnudos.
Arquiteto do estilo, escultor, Balenciaga pode ser classificado também como pintor. O uso que fez das cores em suas criações deixa isso bem evidente. Depois do ‘preto espanhol’, freqüentemente associado ao marrom, ele partiu para as cores. Foi o estilista que mais soube usar o rosa intenso, chegando até ao violeta.
INSPIRAÇÃO ESPANHOLA Mesmo tendo feito toda a sua carreira em Paris, Balenciaga não se esqueceu da Espanha onde nasceu, país cuja força inspirou muitos de seus sucessos. E alimentou seu gosto pelo fausto, pelo luxo. Inspirou-se nas capas dos toureiros, no penteado das mulheres, na rede dos pescadores. Mas também nos quadros de Velasquez e suas gloriosas infantas; Goya e seus jogos de rendas pretas sobre fundo rosa; Zurbaran e seus volumes, seus drapeados, seu bombé. Nessa seqüência de telas, de jogos de luz e sombra, foi que Balenciaga se apaixonou pelos tecidos irisados e os veludos, todos de difícil execução.
QUEM USAVA Costureiro das cabeças coroadas européias, Balenciaga era o preferido também das grandes artistas e dos nomes mais importantes do jet set internacional. Ele vestia everybody who is somebody. Barbara Hutton, a milionária norte-americana, comprava de uma só vez 30 modelos; Ginger Rogers, a atriz, exigia que as provas de suas roupas fossem feitas no Plaza de Paris, e Marlene Dietrich fazia questão de dizer que “uma só prova de roupa em Balenciaga vale por três de qualquer outro costureiro”. O vestido de noiva que criou para a princesa Fabiola da Bélgica, em cetim orlado de vison, transformou-se em notícia internacional.
NOVOS TEMPOS A transitoriedade da moda encaminhou os compradores para novos estilos. E os compradores norte-americanos, os que realmente conseguiam manter as grandes maisons francesas, começaram a se interessar por Londres. A efervescência dos sixties não interessava nem um pouco a Balenciaga.
O último trabalho que fez foi o vestido de noiva da duquesa de Cadix – ele deixou a moda como se fosse um desfile. Que, como manda a tradição da alta-costura, terminam todos com uma noiva.