Jornal Estado de Minas

Ideias de vanguarda



Novos materiais, reaproveitamento de tecidos, técnicas manuais, versatilidade. Em mais uma edição do Fumec Forma Moda, fica evidente a intenção dos novos estilistas de se conectar com o que o público espera. “Temos muitos trabalhos voltados para um espírito de vanguarda e soluções mais diferentes no mundo da moda. Não dá para ficar preso ao que está disponível, é preciso buscar ideias novas”, resume o coordenador do curso, Antônio Fernando.


De uma forma ou de outra, todas as coleções carregam o conceito de sustentabilidade. Como observa o professor, os alunos já estão mais conscientes de que devem produzir respeitando o meio ambiente. Ainda nesse caminho, há muitas roupas versáteis, que podem ser usadas de várias maneiras e que podem fazer parte de inúmeras composições. Além disso, as mãos dos estilistas estão muito presentes, seja em rendas pintadas a mão, acabamentos de amarrações ou detalhes em crochê. “O consumidor está muito exigente, então quer uma roupa com algo a mais, uma identidade forte e outros valores.

Também não quer nada feito em série, por isso valoriza o saber manual”, analisa.


Conectada com a sustentabilidade, Mariana Barros desenvolveu a sua coleção de lingerie pensando em causar o menor impacto possível ao meio ambiente. “É o que precisa acontecer em todas as áreas do design. O planeta não pode aceitar mais uma degradação em massa. Tudo o que for produzido tem que ser de forma consciente, e o público pede isso”, defende.


Uma das propostas de Mariana era trabalhar exclusivamente com materiais reaproveitados. Por isso, ela utilizou retalhos de fábricas têxteis, rendas retiradas do enxoval da sua avó e tecidos para cortinas e cobre-leitos que não chegaram a ser usados. No fim das contas, a estilista conseguiu juntar seda pura, seda com algodão, rendas, tule bordado, shantung e viscose. “Recebi muito mais do que usei, porque só quis aproveitar os materiais que dessem conforto e que deixassem o corpo transpirar”, informa.


Batizada de “La vie en rose”, a coleção também passeia pelo conceito loungewear, que contempla roupas para ficar em casa com o máximo conforto, por isso tem uma variedade grande de peças.

São nove no total: camisola, capa, penhoar, casaco, macacão, espartilho, calcinha, top e cinta-liga. “Pensei em uma coleção feminina e muito romântica, voltada para uma mulher que se veste para si mesma e que tem uma consciência ambiental grande”, define.


Do início ao fim, Mariana pensou na sustentabilidade, tanto que investiu em tingimentos naturais. Jatobá, pau-brasil, cebola, café e chá-preto foram os materiais usados para colorir as peças em tons pastel e envelhecidos. A ideia dela era levar um perfume vintage para a coleção, apontando para a atemporalidade. “Fui estudar a história da moda para trazer elementos que funcionariam em qualquer época. Não queria fazer nada sobre tendência, que dura três meses e depois vai para o lixo.”
Decidida a fugir do usual, Isabela Itabayana não fez uma única compra em fábricas de tecidos. Todos os materiais, de origem industrial, foram encontrados em lojas de construção e pescaria. As roupas, por exemplo, são de plástico e látex.

“Comprei o látex natural, que vem da seringueira e passa por um processo industrial para virar uma espécie de folha, como se fosse um tecido. A diferença é que as roupas não podem ser costuradas, são coladas”, informa. A partir dessa matéria-prima, ela criou um vestido preto e duas calças legging, uma azul e outra vermelha.


Plástico já não é mais uma novidade na moda, mas Isabela conseguiu inovar ao produzir uma peça em uma termoformagem a vácuo. Até então, a máquina, muito utilizada na indústria, não havia transformado plástico em roupa. Depois de muitos testes, chegou-se ao busto (ou espartilho) aquário, que comporta água dentro, assim como o reservatório para peixes.

FUTURISTA Já que a intenção era ser diferente, a estilista criou um universo para inserir as peças, que ela define como pós-humano, orgânico, fluido e futurista. “Trabalho com figurino, então sempre quis mostrar que a roupa vai além do dia a dia, é uma forma de expressão e de contar uma história. Existem elementos que podem ser comerciais, mas o trabalho tem caráter experimental”, avisa. Com inspiração aquática, a coleção recebeu o nome de Agnatha, a superclasse de peixes sem mandíbula, que são considerados primitivos ou evoluídos, dependendo da comparação.


Para reforçar o conceito da coleção, Isabela optou por desenvolver também os acessórios. Os óculos de acetato têm formato de peixe, inclusive com barbatanas, enquanto os sapatos, revestidos com vinil, foram desenhados com um rabo de peixe na parte de trás.


Maquiador desde antes de entrar para o curso de moda, Rodrigo Caetano não tinha dúvida de que focaria o seu trabalho em beleza. Logo, veio a ideia de levar para a passarela pinturas corporais em uma apresentação mais para performance que desfile.

“Decidi trabalhar com argila e fui traçando as linhas, distorcendo, apagando, aumentando e diminuindo, para causar estranheza no público. Queria fazer com que as pessoas refletissem sobre padrão de beleza”, destaca. Com as pinceladas, ele cobriu todo o corpo das modelos, que usavam um macacão de tule transparente.

.