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Design autoral

Marcas mineiras de calçados se distinguem pela produção artesanal , sem perder de vista a ousadia


postado em 25/11/2018 05:06

Tânia Diotaiuti acreditou no sonho de abrir uma sapataria de luxo(foto: divulgação)
Tânia Diotaiuti acreditou no sonho de abrir uma sapataria de luxo (foto: divulgação)



O que fez de Cândida Andrade uma grande designer de sapatos foi seu traço completamente autoral. Em uma época em que as cópias estrangeiras eram comum entre os estilistas brasileiros, ela se destacava pelo trabalho de criação, da modelagem às estampas, lançando, inclusive, um solado que foi repetido à revelia pelos concorrentes. Marcou época entre as décadas de 1980 e 1990.


Quase 40 anos depois, duas jovens designers, Marcela Torres e Marina Lerbach, seguem a cartilha de Cândida espalhando criatividade e atitude nos calçados da Nuu Shoes. Apesar do pouco tempo de existência, apenas três anos e meio, a marca está nos pés da moçada cool que gosta de moda e de propostas arrojadas e se tornou conhecida entre a galera que assina desfiles e editoriais fashion.


A Nuu Shoes nasceu adepta do slow fashion, com produção em pequena escala, sem comprometimento com tendências preestabelecidas e deu seus primeiros passos em  bazares e eventos alternativos. De imediato caiu nas graças dos fashionistas e de outros estilistas que curtem a mesma filosofia e que atuam de forma semelhante na comercialização de seus produtos.


De lá se disseminou e caiu no Minas Trend, participando, primeiramente, do prêmio Empresa Tendência, promovido pela Codemig, e, mais recentemente, do salão de negócios em estandes patrocinados pelo Sindicalçados – Sindicato da Indústria de Calçados de Minas Gerais -, mas sem perder a identidade e o propósito. Os clientes de atacado foram chegando, pequenas lojas que dialogam com a marca, escolhidas a dedo. As coleções podem ser encontradas também no Grande Hotel Ronaldo Fraga.


Marcela Torres é filha da designer de calçados Paula Bahia, tem 29 anos, e começou sua carreira trabalhando com a mãe na fábrica homônima. Entre o curso de direito e a faculdade de moda, optou pela segunda opção. Frequentou outra boa escola, a da também mineira Elisa Atheniense, estilista de bolsas, cujo trabalho é conhecido em todo o Brasil, e da qual foi assistente.


Quando resolveu alçar voo solo, se juntou a Marina Lerbach, e criaram a Nuu Shoes. Para Paula Bahia, a escolha foi uma grande surpresa e uma certeza da continuidade de seu trabalho, que beira os 30 anos de estrada. “Ela iniciou comigo, mas tinhas ideias próprias, que a marca não comportava. Seguiu o próprio caminho inovando e ele está dando certo”, salienta com orgulho.


Marina Lerbach, 31 anos, cursou moda e design de produto paralelamente. O encontro com Marcela gerou uma amizade e, posteriormente, a sociedade. A afinidade com a sócia permite que criem coleções a quatro mãos. “Assentamos, pensamos o que vamos fazer, partimos para a pesquisa iconográfica e cada uma vai desenhar. Quando apresentamos os desenhos é incrível, eles conversam entre si, são muito parecidos. A partir daí, fizemos as escolhas aproveitando as ideias ou, às vezes, mixando-as para chegar a um resultado final”, ela conta. Se antes as duas sócias atuavam na base do “faz tudo”, hoje as questões administrativas são mais definidas e a label já possui um showroom, no bairro da Floresta, com atendimento com horário marcado.

Liberdade Para Marina, o que mais define a label que comanda é a liberdade de criação, além da artesania e da atemporalidade. A produção, embora ainda pequena, passa por vários processos manuais e exige acompanhamento constante, devido às dificuldades de elaboração. Parte dela é feita dentro da fábrica da Paula Bahia; o resto é terceirizado em outra empresa. “Estamos conversando para concentrar tudo aqui, já que as duas histórias não brigam entre si, pelo contrário, uma completa a outra”, afirma Paula, frisando que, apesar de alternativos e inovadores, os sapatos da Nuu Shoes são requintados e primam pela qualidade de acabamento.


“Não podemos dizer que fugimos 100% das tendências, porque é impossível na moda. Mas se optamos por um modelo Oxford, por exemplo, ele vai ter o toque da marca. Assim como mantemos no mostruário as peças que têm mais resultado com algumas variações”, enfatiza Marina. Segundo ela, o primeiro ano do negócio foi de experimentação; daí para frente, ele entrou em outra etapa. “Estamos investindo no crescimento da empresa”, ressalta.

Sofisticação italiana O que leva uma oftalmologista de sucesso a deixar de lado uma carreira estabelecida para se tornar uma sapateira? Sim, porque é desta forma que Tânia Diotaiuti se define. Há três anos, ela abriu uma sapataria, a La Collezionista, na rua Ceará, para materializar o desejo de colocar no mercado calçados femininos fabricados de forma manual, valorizando os conceitos de luxo e design.


Para tanto, restaurou uma linda casa antiga, tombada pelo Patrimônio Histórico, no bairro Funcionários, com direito a loja, atelier e um jardim nos fundos. Mas, bem antes disto, depois de se decidir pela mudança de vida e compreender que nunca é tarde para correr atrás de um sonho, passou um ano e meio na Itália aprendendo tudo sobre sapatos. Mais ainda, sobre a excelência dos calçados italianos.


Os três anos da La Collezionista podem ser resumidos em um exercício de aprendizado, dedicação e persistência. “É uma estrada longa. Foram muitos cursos, muitas conversas, muita apropriação do assunto, mas posso dizer que a marca vai em um crescente dentro do seu segmento”. Tânia argumenta que tem que ser levado em conta o fato de ter aberto o negócio em um momento econômico difícil e que essas dificuldades aumentaram de lá para cá. “Mas, ao longo do tempo, as pessoas foram conhecendo a sapataria por meio do boca a boca, no tête- à- tête, o número de clientes aumentou, a venda por cliente também, e estamos sobrevivendo”, relata.


O importante, segundo ela, é que o espírito inicial que a motivou a dar a guinada na vida profissional continua presente – o feito à mão, o sem pressa, são a essência da grife. As mulheres que chegam à loja apreciam tudo que ela lhes oferece: design autoral, qualidade, acabamentos primorosos, além do conforto dos calçados. O calçar bem é a meta de Tânia. Cada croqui nasce com todos os elementos nos quais a designer acredita e que vão fazer a cliente se identificar e dar valor ao produto. “Para mim, é uma questão ideológica. Sai de uma profissão estável, fiz esta opção, e estou levando-a à frente”, resume.


Porém, nem tudo são flores. Uma das maiores dificuldades - admite - é encontrar mão de obra especializada. Atualmente, ela conta com um prestador de serviços em Belo Horizonte e outro em São Paulo. “O processo artesanal implica em muita paciência: é desenvolver uma forma e ter que mexer nela para aprimorá-la. É um ir e voltar, muitas vezes desgastante. Apesar de buscarmos o melhor da excelência, a manualidade tem suas limitações e o resultado não vai ficar como o industrializado”, confessa.

Conciliação A produção da La Collezionista é pequena, assim como as grades, para que tudo se encaixe na proposta de ser diferente. “Não quero volume, minha criação é autoral”, assegura a designer. Na busca do ideal, as matérias primas, couros e películas, são sempre nobres. “Às vezes, quero usar uma pele que vai encarecer o sapato, mas não me furto, porque acho que há gente que vai olhar para aquela peça com o olho igual ao meu, ver o que eu vejo. Então sigo em frente. O maior problema de quem trabalha com criação é conciliá-la com dinheiro”, afirma.


Nesse processo de conciliação, a sapataria serve como termômetro do gosto das pessoas. Alguns modelos que deram certo voltam às prateleiras atualizados com uma nova cor, textura ou variação de salto. Esse expediente também faz parte da filosofia de atemporalidade cultivado pela marca.


De acordo com Tânia, estilo e durabilidade têm que andar juntos para fazer jus ao custo do produto que a La Collezionista oferece. Porém, ser atemporal não significa que falte arrojo no processo criativo. Muito pelo contrário, a designer sabe se apropriar com sabedoria das tendências da moda em cada momento e aplicá-las sutilmente em cada par de sapatos. “A sapataria tem uma cara contemporânea com um toque de ousadia.”
A novidade agora é a entrada da Label no e-commerce, uma forma de chegar mais perto dos consumidores. “Entramos timidamente, mas já estamos tendo uma boa visibilidade”, garante.


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