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Estado de Minas

Entre erros e acertos


25/10/2020 04:00 - atualizado 22/10/2020 14:45

Giovanna Letícia Ribeiro Soares, de 13 anos, diz que o suporte oferecido pela escola foi fundamental nesse processo (foto: Arquivo pessoal)
Giovanna Letícia Ribeiro Soares, de 13 anos, diz que o suporte oferecido pela escola foi fundamental nesse processo (foto: Arquivo pessoal)


Ainda no início de 2020, tudo parecia normal: acordar cedo, ir para a escola e estudar nos períodos extras para cumprir os deveres curriculares. De repente, tudo mudou. Os conteúdos, antes passados de forma presencial em salas de aula, foram integralmente disponibilizados virtualmente.

O ato de chegar à escola foi trocado por um aviso de acesso permitido na tela do computador. E as lembranças dos colegas de classe, agora, quase se limitam a um microfone ligado ou desligado, com uma imagem estática.

Em um mundo de incertezas e com inúmeras consequências emocionais, em função da pandemia e do risco de contágio, os alunos precisaram lidar com essas mudanças e se adaptar ao novo modelo de ensino.

Tudo isso para que, apesar das adversidades, o ano não se tornasse perdido e pudesse agregar conhecimento. “No começo, foi tudo muito difícil”, avalia a estudante do 7º ano do Colégio Santa Maria de Minas, Giovanna Letícia Ribeiro Soares, de 13 anos.
  
“Em casa, temos muitas distrações durante a aula, como os sites que podem ser abertos, sem ninguém para nos vigiar ou pegar o nosso celular. Nesse ponto, acho que o desvio de atenção foi o meu maior desafio, pois é muito mais fácil perder o raciocínio ou a explicação a distância. Mas lutei contra essas tentações, tentei adaptar meu quarto, onde estudo, tirando as coisas que me distraem e colocando-as em outros cômodos. E, assim, apesar do cansaço em ficar tanto tempo em frente à tela do computador, consegui aprender tudo o que foi passado até aqui e fixar a matéria”, completa a jovem.

Segundo Giovanna, o suporte oferecido pela escola também foi importante nesse processo de aprendizado. Para além do esforço pessoal, a estudante relata que algumas medidas foram tomadas pelo colégio a fim de dinamizar as aulas e possibilitar a transposição de obstáculos obtidos no modelo virtual. A princípio, apesar de a grade contar com um horário a mais para repor os dias perdidos em razão da pandemia, as aulas passaram a ser administradas de forma a não ser totalmente expositivas.

INSATISFAÇÃO 

Diferentemente de Giovanna, a estudante do 9º ano da rede pública de ensino Raissa Mendes Duraes, de 15, conta que teve muita dificuldade para aprender neste modelo remoto, muito em função dos desafios da adaptação. Segundo a jovem, os pais precisaram se desdobrar para arcar com os gastos com internet e notebook, a fim de que a filha pudesse acompanhar os conteúdos disponibilizados pelo colégio.

Porém, apesar disso, muitas dúvidas não foram sanadas e ela precisou buscar meios por si própria para satisfazer as necessidades de aprendizado. “Eu não sabia mexer em muitas das plataformas que precisamos para o estudo em casa e, mesmo meus pais buscando melhorar minha forma de aprender, tenho tido muitas dificuldades. Infelizmente, não consegui aprender nada e tenho recorrido às ferramentas de internet para me ajudar. Além disso, são muitas atividades para uma data prévia curta. Tem me prejudicado bastante por ser meu último ano no fundamental”, desabafa.

EMOCIONAL 

O aprendizado não é único a sofrer interferências da ausência do ambiente escolar e proximidade com professores e colegas. Para Giovanna, o emocional tende a se abalar muito neste período, o que, de acordo com a estudante, também influencia na aquisição de conhecimento. “É tudo muito cansativo, sentimos falta de ver outras pessoas e os tipos de tarefas on-line são mais difíceis. Então,  ficamos mais abalados e cansados mentalmente.”
 
 
Raissa Mendes Durães, de 15 anos, conta que teve muita dificuldade para aprender no modelo remoto, muito em função dos desafios da adaptação (foto: Arquivo pessoal)
Raissa Mendes Durães, de 15 anos, conta que teve muita dificuldade para aprender no modelo remoto, muito em função dos desafios da adaptação (foto: Arquivo pessoal)
 
Além do abalo emocional, outros sentimentos afloraram em Giovanna neste momento: o de gratidão, o de máximo respeito e, também, o de tristeza. “Fico muito feliz e grata pelo esforço dos professores e, apesar de já admirá-los, hoje carrego ainda mais respeito por cada um deles. Infelizmente, muitos alunos não entenderam a essência do ensino remoto e desperdiçaram várias oportunidades. Senti muita maldade e injustiça nisso, pois de um lado houve e há muito apoio e de outro descaso”, lamenta.

Além de “matar” a saudade do ambiente escolar, dos professores e amigos, a estudante acredita que, com a volta às aulas presenciais, os desafios de aprendizagem serão reduzidos.

“Tem toda uma expressão corporal, o professor está ali vendo você, o que ajuda a tornar mais fácil detectar alguma dificuldade. Todo o ambiente tem a ver com a aprendizagem e existem muitas pessoas que têm dificuldade em estudar em casa, porque não moram sozinhas, têm irmãos mais novos e muitas distrações. Acho que fará toda a diferença esse retorno.”

Raissa concorda com Giovanna. “Em sala de aula, os professores podem nos explicar melhor as matérias e nos ajudar nas dificuldades. Acredito que será bem melhor e, também, será importante para recuperarmos o que não aprendemos no modelo remoto. Além disso, poderemos voltar a ter contato, mesmo que distante, com professores e amigos, o que contribui em todos os sentidos”, afirma.

*Estagiária sob supervisão da editora Teresa Caram




Gratidão: só você julga certo?


“2020: no começo estava tudo bem, os nossos pais nos deixavam nas escolas sob cuidado de profissionais que nem eles sabiam como eram essenciais, e no final, quando já tínhamos aprendido tudo, só sabiam de frações do nosso dia, contadas por nós. Quando, de uma hora para outra, fomos surpreendidos por uma abrupta transformação.

E foi aí que nos deparamos com um tal de novo normal, em que toda a nossa vida passou a ser por trás das telas. Pronto! Agora nos encontrávamos isolados, um termo muito famoso nesse período. E em meio a essa desesperadora novidade, num piscar de olhos estávamos vivendo o incerto ensino a distância.

Esse mundo era novo. Novo para todos, principalmente aos professores, que foram acostumados a trabalhar vendo pessoas, e agora estavam diante de vários logins, sem a certeza de estar proporcionando o melhor aprendizado.

Eles, sem medir esforços, tentaram se adaptar o mais rápido possível, buscando o melhor para nós; e em resposta, grande parte dos alunos, aproveitando-se de seus conhecimentos cibernéticos, burlaram as regras propostas. Os pais assistiam a toda essa lamentável atitude de seus próprios filhos e acharam que a solução seria recorrer ao colégio e solicitar a mudança de atitude dos professores.

Ao contrário do que essas atitudes mereciam, nossos guerreiros sempre estiveram ali, com toda a humildade, pedindo ajuda aos alunos, perdendo noites de sono, tentando aprender ao máximo, buscando aulas e deveres mais dinâmicos, fazendo jus ao título de professores.

Não demorou muito e todos abriram os olhos, reconhecendo a responsabilidade que os professores carregam, e sempre tiram de letra.

Nos orgulhamos e somos gratos pela educação que nos foi proporcionada, e pelos educadores que sempre zelaram pelo nosso caráter e pela nossa aprendizagem, se importando sempre com a nossa humanidade.

Portanto, suplicamos que valorizem o trabalho e o esforço de cada um, antes de julgar e culpar terceiros, e que valorizem a oportunidade que temos. Afinal, o período foi e está sendo difícil para todos.”


* Carta aberta de Giovanna Letícia Ribeiro Soares, de 13 anos, em resposta à gratidão que sente pelo trabalho realizado pelos professores, principalmente neste momento de pandemia, escrita em conjunto com duas colegas – Maria Luiza Oliveira, de 12, e Isabela Borges da Silva, de 13


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