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Estado de Minas

Projeto Rocinha Mais Verde quer ensinar crianças a cultivar alimentos orgânicos


postado em 31/05/2012 15:32 / atualizado em 01/06/2012 20:01

O terreno de pouco mais de 30 metros quadrados é um oásis verde na imensidão de concreto e tijolos da Rocinha, uma das maiores favelas da América Latina, na zona sul do Rio de Janeiro. O pequeno canteiro é o primeiro de muitos que o projeto Rocinha Mais Verde/Green My Favela, criado há cerca de cinco meses, pretende implantar nos terrenos abandonados e depósitos de lixo da comunidade. A finalidade é fazer com que as crianças cultivem alimentos orgânicos, além de criar mais espaços verdes no morro.

Felipe Silva, de 8 anos, e o irmão Flávio Silva, de 11 anos, foram os primeiros a chegar para o transplante das mudas. Ajudaram a arar a terra, catar as pedras e se divertiram com as minhocas encontradas. “Não precisa ter medo, pode pegar, ela não faz nada”, disse Flávio para uma colega ao lado, com a minhoca entre os dedos. Gelson Souza, 11 anos, disse não gostar de mexer com terra, mas dava apoio ao irmão Gerson Souza, 8 anos, que animado fazia os buracos para receber as mudas de couve.

A risonha Stefany Pereira, 10 anos, entrou tímida pelo portão do pequeno canteiro. Inicialmente, não quis participar do plantio, mas minutos depois já estava com as mãos sujas de terra, contando até dez em inglês e pedindo para que a fotografasse.

“Cerca de 95% das favelas são uma Amazônia de concreto. Queremos ocupar os terrenos vazios, limpá-los e criar jardins orgânicos”, explicou um dos idealizadores e coordenador do projeto, Tio Lino, como é conhecido na Rocinha, onde mora há mais de 60 anos. “Nossa meta é que as crianças aprendam a plantar e consumir seu próprio alimento brincando. Também queremos desenvolver pequenas hortas em parceria com as creches da comunidade para as crianças se alimentarem melhor, sem agrotóxico.”

As atividades ocorrem duas vezes por semana no terreno ao lado da Creche Alegria da Criançada, na localidade do Valão. Além do cultivo da terra e plantio, há dias para a observação de sementes com o uso de microscópio, desenhos das frutas e vegetais cultivados no terreno, entre outras atividades. “No jardim, as atividades também servem de lazer e as mães sabem que as crianças estão seguras dentro da comunidade”, explicou Lino.

Para a artista plástica Lea Rekow, que idealizou com Tio Lino a criação do canteiro, é fundamental que a comunidade sinta o espaço como dela e assuma integralmente a responsabilidade de mantê-lo. “Em todos os projetos que desenvolvi nos últimos dez anos, em outros países, sempre tive a convicção de que deveriam ser feitos para a comunidade e pela comunidade. Para mim é fundamental empoderar as pessoas do local nesse processo de plantio e cuidado dos jardins de forma autônoma,” destacou a australiana, moradora da cidade há cerca de 3 anos.

Lea contou ter conhecido projetos bons e interessantes feitos por estrangeiros que não tiveram êxito pela falta de comprometimento e interesse da comunidade. “Não significa que, como estrangeira, devo abandonar o projeto depois de implementá-lo. Posso continuar colaborando, alimentando o site, por exemplo, procurando financiamento, mas as decisões e o manejo precisam ser transferidos para quem vai usufruir do projeto.”

O projeto foi recém-selecionado pelos organizadores da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) para ser visitado durante o encontro, programado para junho, na capital fluminense. Por causa dessa seleção, o projeto receberá R$ 8 mil que serão usados para comprar mais adubo, sementes e fazer oficinas sobre plantio orgânico e permacultura (sustentabilidade dos assentamentos humanos).

A comunidade da Rocinha tem 100 mil habitantes e foi ocupada por policiais, após décadas de domínio do tráfico armado. A previsão do governo do Rio é implementar uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na comunidade ainda neste ano.

Tio Lino desenvolve trabalhos com as crianças da Rocinha há mais de 20 anos e mantém a Escolinha Rocinha Mundo da Arte com ajuda de doações. Para ele, mais importante do que implantar unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em favelas é investir na educação e no saneamento básico, além de criar áreas de lazer adequadas para os jovens e as crianças. “Consegui tirar 47 jovens do tráfico ocupando-os com arte. Só com arte. Essas crianças precisam de cuidado, atenção e ocupação,” destacou o artesão.

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