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Estado de Minas ESPECIAL RIO+20 REFLEXÕES

O futuro do planeta

Conferência define caminhos para o desenvolvimento sustentável. Agenda empresarial brasileira está em sintonia com boa parte do documento


postado em 02/07/2012 11:29 / atualizado em 02/07/2012 11:34

Marina Grossi é economista e presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds) desde 2010. O Cebds é uma associação civil, sem fins lucrativos, fundada em 1997 para promover o desenvolvimento sustentável entre as empresas que atuam no Brasil. Como coordenadora do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, Marina Grossi foi negociadora do Brasil na COP do Clima. Atuou nas negociações do Protocolo de Kyoto, representou o G-77 mais China na área de Mecanismo Financeiro, foi assessora do Ministério da Ciência e Tecnologia e fundou a Fábrica Éthica Brasil.

“O Visão Brasil 2050 consolida a posição de vanguarda das lideranças empresariais nacionais”


A Rio+20 terminou, mas certamente os reflexos de tudo aquilo que a conferência produziu poderão ser observados por um longo tempo. A Rio+20 deu início a um diálogo aberto sobre desenvolvimento sustentável que evoluirá nos próximos anos até que metas e objetivos sejam definitivamente compromissados no âmbito global. O documento acordado no início da noite de 22 de junho, no Riocentro, entre 193 chefes de governo e de Estado, é um ponto de partida, uma base para que cada país construa e promova um ambiente propício para a transição para um modelo de desenvolvimento mais sustentável.

Independentemente das críticas, muitas delas justas diante da falta de ambição das propostas elencadas nas suas 53 páginas, é possível interpretar o documento “O futuro que queremos” como um passo à frente, uma vez que definiu um caminho para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, mencionou pela primeira vez o capital natural, estabeleceu (também pela primeira vez) alguma legislação internacional sobre os oceanos e incentivou o consumo sustentável. Se não foram fixadas metas, ao menos foi alcançado o consenso entre 193 países, cada um com interesses próprios e diversos, em sua maioria não convergentes. Numa manobra bem-sucedida da diplomacia brasileira, foi evitado o retorno do fantasma de Copenhague, que rondou os primeiros dias dessa conferência, especialmente durante as reuniões preparatórias – as chamadas Prepcon –, quando o texto tinha 80 páginas e menos de 20% de consenso.

Boa parte do conteúdo de “O futuro que queremos” já é uma realidade na agenda das empresas associadas ao Cebds para os próximos anos, o Visão Brasil 2050, documento prospectivo lançado na Rio+20. O lançamento da publicação do Cebds foi um importante momento do setor empresarial brasileiro no contexto da Conferência da ONU, uma vez que traça um norte para as empresas na trilha do desenvolvimento sustentável. Além do Brasil, os conselhos empresariais da Turquia e da Polônia apresentaram seus documentos durante a Rio+20, entre outros cerca de 20 países que fizeram suas adaptações regionais.

O Visão Brasil 2050 consolida a posição de vanguarda das lideranças empresariais nacionais, que, ao longo dos últimos 20 anos, vêm se mobilizando em busca de uma mudança estrutural no modelo de desenvolvimento do país. Trata-se da adaptação para a realidade brasileira do Vision 2050, documento produzido pelo Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD, na sigla em inglês), com o objetivo de oferecer a visão de um futuro sustentável e como é possível atingir esse patamar nos próximos 40 anos.

A publicação brasileira trabalha com nove pilares temáticos: Valores e comportamento, Desenvolvimento humano, Economia, Biodiversidade e florestas, Agricultura e pecuária, Energia e eletricidade, Edificações e ambiente Construído, Mobilidade e Materiais e resíduos. O cenário atual do país é apresentado como ponto de partida para uma visão de curto, médio e longo prazos, facilitando assim a identificação de objetivos que precisam ser alcançados no planejamento estratégico das empresas e do país.

Como principais desafios dessa agenda, o Visão Brasil 2050 aponta a necessidade de incentivar atividades de baixo carbono, instituir pagamentos por serviços ambientais e estimular iniciativas sustentáveis para as áreas de habitação, saneamento, mobilidade, resíduos sólidos e formação profissional. A recomendação de um forte investimento no ensino básico, fundamental, médio e técnico é considerada estratégica para garantir a inovação, indispensável para a sustentabilidade.

Além do Visão, o Cebds apresentou na Rio+20 o projeto-piloto Rio Cidade Sustentável como uma experiência de sucesso de transformação social e infraestrutura urbana com foco em sustentabilidade, com possibilidade de ser replicada em outras regiões do país e também do exterior.

Realizado nas comunidades pacificadas da Babilônia e Chapéu Mangueira, no Leme, na Zona Sul do Rio, o projeto visa ao trabalho integrado a partir da articulação de diversos agentes. Além de interferir nas três dimensões da sustentabilidade – econômica, social e ambiental –, o Rio Cidade Sustentável é executado a partir da sinergia entre empresas de diferentes segmentos, governos, terceiro setor e comunidades. O projeto prevê sete frentes de atuação com objetivos e iniciativas predefinidos: melhoria habitacional sustentável, infraestrutura urbana verde, agricultura urbana orgânica, turismo comunitário, sustentabilidade nas escolas e nos lares, gestão comunitária de resíduos e desenvolvimento de empreendedores locais.

Nesse projeto, os governos do estado e do município oferecem o suporte financeiro e institucional. As ONGs disponibilizam suas expertises para a capacitação de moradores em ações específicas. E as empresas, sob a liderança do Cebds, apresentam suas inovações e soluções sustentáveis. No período de um ano, o Rio Cidade Sustentável contou a adesão de 12 empresas públicas e privadas (Itaú, Bradesco, Michelin, Philips, Votorantim, Even, Dow, Hydronorth, Souza Cruz, Vale, GoodYear e Coca-Cola), além do apoio da Caixa Econômica Federal, Sebrae, Firjan e Instituto Pereira Passos. Essa experiência será replicada em Belo Horizonte, a partir de um Memorando de Entendimento formalizado entre a prefeitura e o Cebds durante a Rio+20.

Essas foram apenas duas das dezenas de contribuições apresentadas pelo setor empresarial brasileiro na Conferência da ONU visando acelerar o processo de migração das empresas para um modelo de desenvolvimento sustentável. O amadurecimento do setor privado e o reconhecimento da sua importância foram confirmados na presença das empresas em praticamente todos os cerca de 500 eventos oficiais e nas inúmeras iniciativas isoladas, apresentadas a milhares de pessoas que, direta ou indiretamente, participaram do evento.

A Rio+20 foi também a Conferência da ONU que marcou a primeira vez em que as Nações Unidas buscaram a participação ativa dos Major groups, nos quais as empresas estão incluídas. Inúmeros compromissos voluntários foram assumidos pela comunidade empresarial mundial por meio do Business Action for Sustainable Development (Basd) – representante oficial do setor de negócios e indústria junto à ONU –, do Pacto Global e das instituições financeiras – 35 empresas de 12 países assinaram declaração em que se comprometem a trabalhar para integrar capital natural na contabilidade e processo decisório empresarial. No Business Day, evento realizado pelo Basd durante a Rio+20, a palavra de ordem entre os mais de 800 empresários – entre CEOs e diretores de grandes corporações – foi dar escala às soluções sustentáveis inovadoras.

Em suma, o setor empresarial brasileiro e mundial – representado pelo Cebds e WBCSD – reafirmou na Rio+20 sua posição de defesa junto à ONU de um posicionamento mais enfático em relação à transparência, inclusão das externalidades, direcionamento de incentivos e taxas para a economia verde e fortalecimento das parcerias público-privadas. É preciso pensar diferente e estabelecer uma governança complexa para endereçar essas questões. Passados 20 anos, sabemos que a sustentabilidade é o único caminho capaz de proporcionar crescimento econômico aliado ao bem-estar da população.

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