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Estado de Minas 20 ANOS DEPOIS

Vai ser um acerto de contas?

Da Rio92 até hoje muita coisa mudou na geopolítica mundial e, apesar de vários acordos, emissões de CO2 aumentam a cada ano


postado em 10/06/2012 06:00 / atualizado em 07/06/2012 13:36

O cenário mundial mudou muito entre a conferência da ONU ocorrida em 1992, no Rio de Janeiro, e a que começa quarta-feira, principalmente a geopolítica. Em 92, o mundo mal havia saído da guerra fria, e a divisão entre países pobres e ricos, entre o Norte e o Sul, ainda era muito forte. A China era a nona economia mundial; hoje é a segunda. O Brasil patinava em abrir suas portas ao mundo e ainda estava às voltas com o controle da inflação. Hoje, faz parte do seleto grupo dos países emergentes e está conseguindo o feito histórico de amenizar a distância que, por aqui, sempre separou ricos e pobres.

Na área ambiental, muita coisa mudou entre 1992 e 2012. Ainda assim, continuamos emitindo quantidades cada vez maiores de dióxido de carbono, o CO2, um dos principais gases causadores do efeito estufa, e não conseguimos que todos os países assinassem o Protocolo de Kyoto, acordado em 1997 no Japão. O documento previa que todos os signatários reduziriam suas emissões entre 2008 e 2012 em 5,2% em relação ao que emitiam em 1990. Mas a meta nunca chegou a ser alcançada e as emissões explodiram no ano passado, como recentemente informou a Agência Internacional de Energia (AIE).

O alerta de que o aquecimento global não era uma ficção foi dado em 2007 pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), um organismo das Nações Unidas do qual fazem parte alguns dos mais renomados cientistas do mundo. No início daquele ano, eles advertiram que o mundo caminhava para uma crise climática sem precedentes caso não houvesse redução das emissões.

Nos últimos 20 anos, dois outros fatos agravaram as condições climáticas do planeta: o aumento da população mundial em 1,5 bilhão de habitantes e o crescimento desenfreado do consumo, produzido pela ascensão de pessoas que antes viviam na pobreza em países como China, Brasil e Índia – os chamados emergentes – à classe média.

A junção de todos esses acontecimentos leva, inevitavelmente, à ideia de que a Rio+20 deveria ser também uma prestação de contas em relação ao passado e, ao mesmo tempo, um esforço pela continuidade do que foi decidido em 1992 e não chegou a ser colocado em prática. A principal crítica que dois ex-ministros do Meio Ambiente, Marina Silva, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT); e José Carlos Carvalho, que trabalhou na gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e esteve à frente da Secretaria de Estado de Meio Ambiente do governo de Minas Gerais nos dois mandatos de Aécio Neves (PSDB) fazem à Rio+20 diz respeito à impossibilidade, pelo temário do evento, de buscar novos acordos globais em torno dos grandes problemas ambientais da atualidade.

“Não há nenhuma grande questão a ser decidida durante a Rio+20”, afirma José Carlos, que considera a conferência um evento revisor, cuja função é fazer o acompanhamento das decisões tomadas em eventos anteriores. Para ele, a Rio92 representou um avanço muito grande porque colocou a variável ambiental, de maneira definitiva, nas decisões internacionais, ainda que os acordos daquele ano não tenham sido integralmente implementados.

Para Marina Silva, o mundo chegou à Rio+20 em débito com os acordos de 1992. A ex-ministra considera que, do ponto de vista da conscientização sobre a gravidade da crise ambiental, houve um avanço, que foi, porém, acompanhado da criação de mecanismos que garantissem a implementação efetiva dos acordos aprovados na Rio92. “Infelizmente, o clima é de uma ação muito aquém dessa consciência”, afirma ela, lamentando o fato de o tema “meio ambiente” não ter sido posto como o ponto central da Rio+20.

LENTIDÃO
Para o jurista Paulo Affonso Leme Machado, vice-presidente do Centro Internacional de Direito Ambiental Comparado, é normal que convenções sobre temas de alcance global sejam de implementação lenta. “Nenhuma convenção ou declaração gera milagres”, afirma Machado, que em 1992 foi o coordenador-geral da reunião de juristas da área ambiental realizada na Praia do Flamengo. Para ele, o legado mais importante da Rio92 foi o da conscientização ambiental. “O grande milagre é informar as pessoas.”

Há dois anos, ativistas do Greenpeace montaram banner gigante com mensagens ambientais para o então presidente Lula em frente à Esplanada dos Ministérios, em Brasília(foto: Roberto Jayme/Reuters)
Há dois anos, ativistas do Greenpeace montaram banner gigante com mensagens ambientais para o então presidente Lula em frente à Esplanada dos Ministérios, em Brasília (foto: Roberto Jayme/Reuters)
 
 
 

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