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postado em 26/07/2014 06:00 / atualizado em 23/07/2014 15:20

Iano Andrade/PR

Em julho do ano passado, no auge dos protestos que marcaram a Copa das Confederações, o pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FVG) Pedro Trengrouse foi uma voz dissonante. Ele alertou que o custo dos estádios era perfeitamente suportável pelo Estado brasileiro porque se tratava de um percentual ínfimo do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Praticamente não foi ouvido. Hoje, ele mantém esse ponto de vista; considera a Copa um sucesso, mas afirma que o governo cometeu dois erros. O primeiro foi o de não ter informado melhor a população sobre o custo dos estádios; o segundo foi o de ter associado a Copa à melhoria da infraestrutura do país, com as obras de mobilidade e ampliação dos aeroportos, por exemplo. Em entrevista ao Pensar & Agir, Trengrouse analisou os protestos, a Copa e o futuro do país. Abaixo, os melhores trechos da entrevista.

Protestos de 2013

A Copa das Confederações, ano passado, deixou claro que o Brasil tinha total condição de fazer a melhor Copa do Mundo da história, considerando um campeonato com 64 jogos e a participação de 32 países. A onda de protestos que tivemos não tinha nada a ver com a Copa. O Ibope fez pesquisa que revelou que apenas 5% da população tinha alguma coisa para reclamar em relação à Copa. A verdade é que a imensa maioria das pessoas protestava era pela melhoria da saúde, da educação, do transporte público e da política brasileira de forma geral. Eram contra uma série de questões estruturais do Brasil. Porém, os protestos apontavam para a possibilidade de algo semelhante ocorrer durante a Copa do Mundo, este ano, o que não aconteceu.

Fracasso dos protestos deste ano

As manifestações deste ano reuniram meia dúzia de gatos pingados, inclusive com uma característica curiosa: até os black blocs marcaram seus protestos de forma que não houvesse conflito com os horários dos jogos, porque eles também queriam ver o Brasil em campo. O que ficou claro, este ano, foi o apoio maciço da população à Copa. Muito mais gente se reuniu para assistir aos jogos do que para protestar. Houve outra razão para isso: eles tentaram focar os protestos no slogan Não vai ter Copa, mas isso não pegou porque a população já havia demonstrado apoio à Copa. O resultado foi claro: este foi o campeonato com a maior demanda por ingressos da história, foi o de maior visibilidade dos patrocinadores e, consequentemente, o de maior receita da Fifa. Foi também o de maior mídia global da história. Sem dúvida, foi a maior Copa da história, a ponto de a imprensa britânica ter dito que, a partir de agora, toda Copa deveria ser realizada no Brasil.

Erro do governo

O governo cometeu o erro estratégico de ter tentado associar a Copa do Mundo à melhoria da infraestrutura do país. Não precisava. Dizer que a Copa acelerou estes investimentos é, de certa maneira, uma afronta à nossa inteligência. Não é porque nós vamos receber visita que vamos arrumar a casa. Uma coisa importante, que ninguém nega, é que o brasileiro é apaixonado por futebol. A Copa é uma grande festa e, por maior que seja, é um evento pequeno perto do que é a economia do Brasil, do potencial do Brasil e também de seus problemas. Se o Brasil precisa de mais aeroportos é porque tem hoje uma demanda aérea muito maior que a que tinha há 20 anos. Assim, quando o governo associou o campeonato mundial às obras de infraestrutura, acabou prometendo muito e entregando pouco. Não precisava ter feito isso. O metrô é fundamental para a maioria das grandes cidades brasileiras. É o caso da extensão do metrô do Rio até a Barra, que vem sendo prometida desde 1992, mas não sai. Entra governo, sai governo, a promessa é a mesma e não se consegue fazer nada. O país tem problemas estruturais para realizar suas obras.

Fundação Getúlio Vargas/Divulgação


Burocracia paralisante

JK conseguiu construir Brasília, mas, hoje, não se consegue construir uma ponte porque há uma burocracia de controle que é mais importante que a realização da obra. Com isso, o Brasil não consegue mais terminar Belo Monte, não consegue terminar estradas, não consegue terminar o metrô. Não é porque o governo não quer. Mas, sim, porque há um arcabouço institucional que paralisa a nação. Não foi um problema do governo Fernando Henrique, nem do Lula nem é da Dilma. Os problemas são os mesmos.

Eventos paralelos

Se nós investimos R$ 9 bilhões para construir estádios, poderíamos ter investido uma quantia grande, também, para criar 500 eventos que poderiam ter levado o povo para as ruas para assistir à festa, como o Alzirão, que acontece no Rio desde a Copa de 78, na Tijuca. O Brasil tem vocação para isso. No país do carnaval e do réveillon, nós poderíamos ter transformado a Copa do Mundo em algo para todo mundo. Não é justo que o brasileiro pague a conta da Copa e assista aos jogos da forma que assistiu.

Custo dos estádios

Ocorreu um erro grave do governo, que poderia ter feito uma comunicação melhor, de tal forma que a população pudesse ter compreendido o que foram os gastos com os estádios. A conta é simples. Foram investidos R$ 9 bilhões ao longo de três anos para a construção e reforma dos estádios. Isso dá R$ 3 bilhões por ano. O Brasil tem um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 4,3 trilhões. Trocando em miúdos, isso significa o mesmo que uma pessoa que ganha R$ 4,3 mil por ano investir R$ 3 nos estádios da Copa. É muito pouco perto do que é o cenário macroeconômico do Brasil. Mas isso não foi corretamente explicado à população. De forma que, no início, o que ficou foi a ideia de que os estádios estavam saindo a preços muito altos, o que não é verdade.

Elefantes brancos

É preciso analisar com cautela a informação de que em algumas capitais nós teremos elefantes brancos. O estádio de Brasília não se transformou nisso. Em um ano, desde que foi inaugurado, ele recebeu mais que o dobro de público que o antigo estádio havia recebido em 36 anos. O estádio de Brasília tem hoje as maiores médias de público e renda do futebol brasileiro, enquanto o Maracanã deu um prejuízo de R$ 4 milhões no primeiro ano de funcionamento. Muita gente fala também no atraso das obras. Mas o estádio de Brasília foi entregue adiantado em relação à data prevista. E nós temos é que bater palmas quando uma obra é realizada em um prazo mais rápido do que o estipulado no cronograma. Mesmo os custos não estão fora do que é praticado nos outros países. Um exemplo: a França está construindo três estádios para a Eurocopa ao custo de 1 bilhão de euros cada. Nossos números não estão muito diferentes disso.

Estrutura compartilhada

Outro aspecto importante a ser ressaltado como legado imaterial da Copa é o fato de se ter conseguido que o projeto Copa fosse um projeto de Estado, não de governo. Desde que o Brasil foi anunciado como sede da Copa de 2014, nós tivemos eleições municipais, estaduais e de presidente da República. Houve mudanças de governos, mas os projetos continuaram sendo realizados. Isso foi um aprendizado muito importante que pode servir para que outros projetos sejam levados adiante com base no mesmo modelo de gestão compartilhada e colaborativa entre governo federal, estados, municípios e iniciativa privada e que são extremamente importantes para que o Brasil possa se desenvolver. Um exemplo de área em que esse modelo pode ser replicado é o da matriz energética. Todo ano nós corremos o risco de apagão; há também a discussão de questões novas, como a do possível uso das águas do Rio Paraíba do Sul para abastecer a cidade de São Paulo. Temos também questões ambientais, de fronteira, de segurança pública que são estratégicas para o país inteiro, independentemente de quem seja o governante.

Yasuyoshi Chiba/AFP Photo


Aprendizado positivo


O aprendizado propiciado pela Copa foi bom. Mostrou que é importante que o país trabalhe de maneira organizada e colaborativa; que os governantes tenham condições de organizar e resolver os problemas que o Brasil tem como um todo e cuja solução interessa a todos, não apenas a este ou aquele governador ou prefeito. Temos que deixar de lado as questões bairristas e individuais e passar a pensar o país como um todo. E a Copa permitiu isso. Se você analisar mais a fundo, verá que os três principais pré-candidatos a presidente participaram desse processo: Aécio Neves, enquanto governador; Eduardo Campos, enquanto ministro de Lula e, mais tarde, como governador de Pernambuco; além da Dilma, que era ministra da Casa Civil e depois se tornou presidente da República. Então, o cenário da Copa foi um cenário do qual todo mundo participou na forma de um trabalho integrado e colaborativo entre os diversos entes federativos, de partidos e ideologias muito diferentes.

Aumento do turismo

O legado principal deixado pela Copa, a meu ver, foi a alegria demonstrada pelos brasileiros de receber pessoas do mundo inteiro e poder aproveitar momentos inesquecíveis. O maior legado são as boas lembranças deixadas pela Copa no coração de pessoas do mundo inteiro. Isso vai ter um impacto enorme no turismo, porque o Brasil teve uma visibilidade internacional que nunca havia tido.
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