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Estado de Minas

Conheça o legado oculto de Niemeyer para Minas

Arquiteto deixa dois projetos destinados a universidades no estado. Com a morte do mestre das curvas, eles podem sair do papel. Resta apenas uma barreira: a falta de recursos


postado em 09/12/2012 06:00 / atualizado em 09/12/2012 08:36

 



O arquiteto Oscar Niemeyer, morto quarta-feira, aos 104 anos (ele faria 105 no dia 15), deixou sua genialidade em dois projetos destinados a universidades em Minas Gerais, ambas elaboradas devido a amizade com outro intelectual, o educador e antropólogo Darcy Ribeiro, falecido em fevereiro de 1997, e que ainda continuam no papel. As entidades envolvidas nos projetos anunciam a mobilização para transformar em realidade as construções em Montes Claros, terra de Darcy, para que se somem ao legado de mais de 600 obras monumentais de Niemeyer espalhadas pelo mundo afora. Para isso, terão que superar uma barreira: a falta de recursos.

Um dos projetos é a construção do Museu do Homem, idealizado por Darcy, desde a década de 1970, que inicialmente seria implantado no câmpus da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mas que acabou sendo engavetado ainda naquela época. Agora, com a interferência da Fundação Darcy Ribeiro (Fundar), a UFMG decidiu levar a proposta para a terra do educador. Na cidade do Norte Minas também existe um projeto de autoria de Niemeyer que está na dependência de recursos para ser viabilizado: a construção de uma capela ecumênica na sede da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), cujo câmpus recebeu o nome de Darcy Ribeiro.

Montes Claros, graças ao filho ilustre Darcy, tem uma condição privilegiada no acervo oculto deixado por Niemeyer. O presidente da Fundação Darcy Ribeiro e sobrinho do educador, Paulo Ribeiro, revela que, por causa da ligação com Darcy, Oscar Niemeyer doou outros dois projetos destinados à cidade e que acabaram não sendo concretizados, devido à escassez de verbas ou mesmo pela falta de interesse de gestores que passaram pela prefeitura: de um museu de história natural (elaborado no início da década de 1960) e de um centro de educação, com biblioteca, videoteca, concha acústica, cinema, teatro e uma grande piscina, datado de 1992.

Valor reduzido

Paulo Ribeiro anuncia que a mobilização agora é pela implantação do Museu do Homem, que teve a denominação alterada para Museu Darcy Ribeiro. Para isso, foi iniciada uma ação conjunta entre a UFMG e a Fundação Darcy Ribeiro. Uma das metas para viabilizar a construção é readequar e reduzir o valor do projeto, orçado em R$ 180 milhões – o objetivo é diminuir o custo para cerca de R$ 60 milhões. O novo local também já foi escolhido: um terreno dentro do Instituto de Ciências Agrárias (ICA) da UFMG em Montes Claros.

A proposta surgiu em 1976, por iniciativa do antropólogo. “A ideia do conteúdo do museu foi do Darcy, contando a história dos últimos 10 mil anos da humanidade e do próprio processo de formação do povo brasileiro, com o projeto arquitetônico ficando a cargo de Niemeyer”, informa o presidente da Fundação Ribeiro. Segundo ele, a proposta é de que o projeto seja erguido numa área de 18 mil metros quadrados, no câmpus da UFMG em Belo Horizonte. Os trabalhos iniciais para a viabilização do empreendimento contaram com a participação da professora Gilca Alves Waistein, primeira presidente da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), ligada à UFMG.

Segundo o presidente da Fundar, depois da elaboração da planta por Oscar Niemeyer o projeto do Museu do Homem contou com a simpatia do então governador de Minas, Aureliano Chaves. “Mas, como o país estava em plena ditadura e o Niemeyer era da esquerda, com o Darcy sendo extremamente perseguido pelos militares, o projeto acabou engavetado”, diz ele.

Transferência

Procurada pela Fundar mais de 30 anos depois, a UFMG decidiu desengavetar o projeto do Museu do Homem, sendo iniciada uma articulação para captar recursos no setor público e com outros parceiros. O reitor da universidade, Clélio Campolina, designou o professor Fabrício Fernandino, diretor do Museu de História e do Jardim Botânico da UFMG, para trabalhar nesse resgate. Fernandino destaca que, a partir do entendimento com a Fundação Darcy Ribeiro, foi decidida a transferência do projeto para Montes Claros, “de tal forma que, com sua viabilização, possamos homenagear o Darcy pela sua genialidade de pensamento e também o próprio Oscar Niemeyer”, explica.

O professor da UFMG informa que, em meados deste ano, ele e Paulo Ribeiro se reuniram com profissionais do escritório de Niemeyer, no Rio de Janeiro, para discutir o projeto do museu. A conclusão a que chegaram foi de que para ser construído seguindo integralmente a proposta inicial, o empreendimento custaria R$ 180 milhões. “Mas esse montante é inviável para o setor público. Por isso, teremos que readequar o projeto e baixar os custos”, observa Paulo Ribeiro, lembrando que a obra em Montes Claros vai abranger cerca de 250 municípios mineiros.

Fernandino explica que já foi elaborado um esboço da readequação do projeto, cujo custo seria reduzido para cerca de R$ 60 milhões. “A ideia é diminuir os gastos, usando materiais mais baratos e novas tecnologias, mas sem que o projeto venha a perder nenhuma característica original do traço de Niemeyer”, afirma ele. Entre outras atrações, revela o professor, o Museu Darcy Ribeiro terá salas dedicadas a diversas ciências, como história e antropologia, e centros de estudos e materiais relativos à formação do homem brasileiro (portugueses, índios e negros). A ideia é que o museu sirva de laboratório para a própria UFMG e para outras instituições.

Traços inéditos do mestre

 

PROJETO MUSEU DO HOMEM

Visa à construção de um grande museu sobre os últimos 10 mil anos da humanidade e a formação do homem brasileiro, inicialmente destinado à UFMG em Belo Horizonte. Mas agora foi iniciada luta para a implantação em Montes Claros, com o nome de Museu Darcy Ribeiro.
Quando foi elaborado: 1976
Valor: foi orçado em R$ 180 milhões, valor considerado “inviável” pelas entidades envolvidas na concretização da obra, que querem reduzi-lo para R$ 60 milhões.
Situação: o projeto não foi executado por falta de recursos, mas também teria sofrido boicote por causa da perseguição da ditadura a Darcy Ribeiro e ao próprio Oscar Niemeyer. Cópias dos croquis estão na UFMG.

CAPELA ECUMÊNICA

Visa à construção de uma capela ecumênica na sede da Universidade Estadual de Montes Claros, que leva o nome de Câmpus Darcy Ribeiro.
 Quando foi elaborado: 1998
Valor: R$ 800 mil (em 1998)
Situação: não foi executado por falta de recursos. Os croquis estão com a Unimontes, cuja direção anuncia que continua na luta para conseguir verbas para erguer a capela.

CENTRO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E CENTRO DE CULTURA E LAZER EM MONTES CLAROS

Visa à construção de um local para promover cursos para professores, tendo anexa área destinada a lazer e cultura, com espaço para exibição de filmes e vídeos, biblioteca e uma grande piscina.
Quando foi elaborado: 1992
Valor: orçado em US$ 2 milhões (R$ 4,18 milhões, no câmbio atual)
Situação: o projeto foi recebido na gestão do ex-prefeito Mário Ribeiro, que não executou a obra por falta de recursos. Os prefeitos seguintes abandonaram a ideia da construção. O presidente da Fundação Darcy Ribeiro, Paulo Ribeiro, diz que guarda cópias dos croquis.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL EM MONTES CLAROS

Quando foi elaborado: 1962
Valor: não tem levantamento do custo
Situação: o projeto teria sido encomendado a Oscar Niemeyer pelo
ex-prefeito Simeão Ribeiro, com a interferência de Darcy Ribeiro. A viúva de Simeão, Terezinha Ribeiro Pires, diz que o ex-prefeito comentava sobre o assunto, mas que ela não sabe onde se encontram o original ou a cópia do projeto.

 

 

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