Da Pampulha ao Centro Administrativo do governo estadual, no Bairro Serra Verde, na Região de Venda Nova, foram quase sete décadas de sonhos, trabalho e amor concreto por BH. Nesse período, Oscar Niemeyer concebeu o conjunto arquitetônico da orla da lagoa, composto pela Igreja de São Francisco de Assis, Casa do Baile, Museu de Arte (antigo cassino) e Iate Clube, deixando também o traço de sua ousadia em prédios das praças da Liberdade, Raul Soares e Sete, do Bairro Santo Antônio e do Mangabeiras.
Já no interior mineiro, a relação começou mais cedo, em 1938, com a construção do Grande Hotel em Ouro Preto. Cataguases e Juiz de Fora, na Zona da Mata, e Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, registram obras com a marca do gênio do modernismo.
Para o professor da Escola de Arquitetura da UFMG, Flávio Carsalade, “a Pampulha representou a maioridade da arquitetura brasileira. Enquanto o mundo ainda valorizava o ângulo reto, ela explodia em curvas”. Esse traçado, afirma, teria origem nos contornos da mulher brasileira e das montanhas, sendo um dos exemplos mais sensíveis dessa marca registrada a Casa do Baile.
Com efeito, vai ficar na história uma das frases de Niemeyer que resumem essa pensamento: “Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein”. E evocou Minas, lembrando que as curvas estavam presentes nas “velhas igrejas barrocas”.
Depois de Brasília e Rio de Janeiro, BH é a capital com maior número de obras de Niemeyer. A sua produção arquitetônica na cidade esteve ligada, direta ou indiretamente, à figura política de JK como prefeito (1940–1945) e no período como governador de Minas (1951–1955).
“Niemeyer fez uma arquitetura de qualidade.
A historiadora Thaís Pimentel, autora de dissertação de mestrado sobre o Edifício JK, de 1950, na Praça Raul Soares, considera Niemeyer “o arquiteto do século 20”, pela leveza, ousadia e criatividade do seu traço. “A Pampulha inova, conseguiu traduzir o sentimento e a estética do século 20.” O Edifício JK, no entanto, foi renegado pelo modernista, que o viu como filho bastardo..