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Estado de Minas

Corpo de Niemeyer será velado hoje no Palácio do Planalto


postado em 06/12/2012 06:53 / atualizado em 06/12/2012 07:21

(foto: Wanderlei Almeida)
(foto: Wanderlei Almeida)

Rio de Janeiro - O prefeito do Rio, Eduardo Paes, confirmou que o corpo de Oscar Niemeyer vai para Brasília, onde será velado nesta quinta (6), no Palácio do Planalto. Paes esteve no Hospital Samaritano, em Botafogo, prestando os pêsames à família do arquiteto. Segundo o prefeito, após o velório na capital federal, o corpo de Niemeyer retornará ao Rio de Janeiro e será velado no Palácio da Cidade, sede da prefeitura, em Botafogo, que ficará aberta à visitação pública. O enterro, de acordo com Paes, ocorrerá na sexta-feira (7) à tarde, no Rio de Janeiro.

Confira toda a trajetória do artista de traço inconfundível

Ícone da arquitetura moderna e um dos brasileiros mais reconhecidos no mundo, Oscar Niemeyer morreu ontem no Rio de Janeiro, às vésperas de completar 105 anos, no próximo dia 15. Ele estava internado desde 2 de novembro, no Hospital Samaritano, em Botafogo, na Zona Sul. A morte dele foi confirmada às 21h55. O último boletim médico divulgado no início da noite informava que o estado de saúde do arquiteto havia piorado e era considerado grave. Segundo o hospital, Niemeyer respirava com a ajuda de aparelhos e encontrava-se sedado por causa de uma infecção respiratória. Inicialmente vítima de desidratação, ele também teve problemas nos rins e era submetido a hemodiálise, além de fisioterapia respiratória. Pela manhã, o arquiteto sofreu uma parada cardíaca.

Em entrevista coletiva no fim da noite, muito abalado, o médico que cuidou do arquiteto por 15 anos, Fernando Gjorup, explicou que a infecção pulmonar, apontada como causa morte, foi consequência óbvia do processo pelo qual Niemeyer vinha passando. Ao mesmo tempo em que o médico afirmou que, por causa da situação do paciente que se agravara durante o dia, admitia-se que a morte pudesse acontecer, ele confessou que por diversos momento esperava que o arquiteto surpreendesse, como o fez diversas vezes, recuperando-se e recebendo alta. Niemeyer foi internado várias vezes ao longo dos últimos anos.
Segundo Gjorup, pelo menos 10 familiares estavam ao lado de Niemeyer no momento de sua morte. O médico disse que o arquiteto conversou com a equipe que o atendia sobre a vontade de realizar novos projetos, mesmo aos 104 anos. Ainda de acordo com Gjorub, Niemeyer só perdeu a consciência, pela manhã, após ser sedado. “Ele não gostava de falar sobre a saúde dele, mas sabia que já tinha passado da metade da vida. Ele nunca falou sobre morte, só falava em viver. A equipe médica tinha esperança, mas havia a fragilidade de um senhor de 104 anos”, disse Gjorup. “Ele era muito mais do que um paciente. Para mim era um amigo.”

Biografia - Da boemia à fama internacional

Maior arquiteto brasileiro, Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares Filho nasceu em 15 de dezembro de 1907, no bairro das Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Boêmio, concluiu o curso secundário somente aos 21 anos, idade em que se casou com Annita Baldo, filha de imigrante italianos, com quem teve somente uma filha, a galerista e designer Anna Maria. Anna Maria, que deu ao arquiteto cinco netos, 13 bisnetos e quatro trinetos, morreu em 6 de junho deste ano, aos 82 anos, em decorrência de um enfisema pulmonar. Segundo depoimento de Niemeyer, foi o casamento que o fez compreender a responsabilidade e o direcionou para o trabalho com seriedade.

Em 1929, Niemeyer se matriculou na Escola Nacional de Belas Artes no Rio. Saiu de lá em 1934 com o diploma de engenheiro arquiteto, e um ano depois iniciou sua vida profissional no escritório de Lúcio Costa, autor do plano piloto de Brasília, mesmo sem ganhar nada. Após a construção da nova capital federal, já em 1960, Niemeyer tornou-se coordenador da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Brasília (UnB). Em 1963, durante a Guerra Fria, foi nomeado membro honorário do Instituto de Arquitetos dos Estados Unidos e ganhou o Prêmio Lênin da Paz.

O arquiteto filiou-se ao Partido Comunista em 1945, visitou a União Soviética e se tornou amigos de líderes socialistas, como o cubano Fidel Castro. Surpreendido em 1964 pelo golpe militar e impedido de trabalhar no Brasil, Niemeyer mudou-se para Paris, onde abriu um escritório na famosa Champs-Élyseés e ganhou clientes do mundo inteiro e reconhecimento internacional. Voltou ao Brasil nos anos 1980 e, em 1990, desligou-se do Partido Comunista, decepcionado com os rumos da legenda.

Viúvo desde 2004, Niemeyer, então com 98 anos, decidiu se casar com Vera Lúcia Cabreira, 60 anos, sua secretária há seis décadas. A cerimônia, em 16 de dezembro de 2006, na casa dele, no Rio, contou com a presença de apenas um juiz e duas testemunhas. A família só foi comunicada no dia seguinte.

O caráter e a generosidade do Escultor de Espaços, segundo o poeta Vinícius de Morais, sempre tiveram destaque entre os que conviveram com ele. O arquiteto não hesitou em desprezar honrarias em prol de suas idéias, tendo se desligado da Academia Americana de Artes e Ciências em protesto contra a guerra do Vietnã. Ajudou na manutenção do líder comunista Luís Carlos Prestes, que não dispunha de renda própria na velhice, e fez diversos projetos gratuitamente, em benefício das causas que inspiravam sua construção. Chegou a projetar uma casa para seu motorista em uma área cercada de favelas, no Rio.

(foto: Arquivo O Cruzeiro/EM. Brasil)
(foto: Arquivo O Cruzeiro/EM. Brasil)
Prêmios

Pelo caráter único e pelo conjunto inigualável de obras, Niemeyer foi eleito, em 2007, o nono gênio mundial vivo em uma lista da empresa Syntetics. Além desse título, recebeu, ao longo de sua vida, diversos prêmios, entre os quais, além do Prêmio Lenin da Paz, na URSS, o Prêmio Pritzker de Arquitetura, nos Estados Unidos; Prêmio Príncipe das Astúrias, na Espanha; Cavaleiro Comendador da Ordem de São Gregório Magno, no Vaticano; Prêmio Unesco, em 2001; e título de Arquiteto do Século 20, no Conselho Superior do Instituto de Arquitetos do Brasil. Autor de diversos livros, Niemeyer também nos premia com narrativas de suas viagens, projetos e acontecimentos por meio de livros, entre eles Quase memórias; Minha experiência em Brasília; A forma na arquitetura; e Conversa de arquiteto.


 

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