Índios Krenak lamentam situação do Rio Doce e querem água limpa
Daniel Camargos
Enviado especial
Resplendor – Os indígenas da etnia Krenak possuem uma relação ancestral com a terra e lamentam a situação do Rio Doce – o Watu, no idioma nativo. Na Reserva Krenak em Resplendor, no Vale do Rio Doce, Apurinã Krenak, de 31 anos, diz que não perde a esperança de ver o rio com vida novamente, porém, lamenta a falta de informação: “Queria uma resposta certa sobre a qualidade da água, mas, mesmo que falem que não tem problema, eu não tenho coragem de ir lá e pescar para comer”.
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Os Krenak são os últimos botocudos do Leste, nome atribuído pelos portugueses no final do século 18 aos grupos que usavam botoques auriculares e labiais. Os botocudos ocupavam uma área extensa que englobava o Oeste do Espírito Santo, o Leste de Minas Gerais e o extremo sul da Bahia. Em 1808, duas cartas régias foram expedidas declarando guerra aos botocudos. Várias juntas militares foram criadas, assim como quartéis, destacamentos e divisões militares, que deram origem às cidades do Vale do Rio Doce.
Séculos depois da guerra em que foram quase devastados, a morte, ou kuen, em Krenak, voltou a ser uma palavra presente no cotidiano. Apurinã perdeu duas vacas, que beberam água do rio logo após a lama passar e não resistiram. “Demorou 15 dias depois do rompimento da barragem para a lama passar aqui. Todo dia íamos para a beira do rio e ficávamos esperando ela chegar. Um amigo disse que a cena era igual aos familiares de um morto esperando o corpo chegar para o velório”, compara.
Medidas de recuperação
Por meio de nota encaminhada por sua assessoria de imprensa, a mineradora Samarco informou as medidas adotadas para a recuperação do meio ambiente na Bacia do Rio Doce, atingida pela lama que vazou da Barragem do Fundão.
De acordo com a empresa, já foram iniciadas as obras para a construção de diques nas proximidades da barragem rompida. Essas estruturas irão conter os sedimentos, liberando água mais limpa e também impedindo que as chuvas levem material sólido para o Rio Gualaxo. Quando concluídos, os diques terão capacidade de reter cerca de 2,7 milhões de metros cúbicos de material.
Ainda segundo a Samarco, a Barragem de Santarém está sendo dragada e, nas cidades de Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado, a limpeza das áreas atingidas pela lama já começou. A mineradora afirma que todas as ações adotadas foram aprovadas pelos órgãos ambientais competentes.
A companhia acrescentou que tem 170 pontos de monitoramento da qualidade da água do Rio Doce. No mar, são 28 pontos. A Samarco reafirmou que os rejeitos não oferecem riscos à saúde humana e ao meio ambiente. Por fim, a nota anuncia que uma consultoria internacional, a Golder Associates, especializada em engenharia, meio ambiente e emergências ambientais, foi contratada para executar o plano de recuperação ambiental.