A gastronomia tem um importante papel a desempenhar na sustentabilidade e na preservação de produtos tradicionais da culinária mineira, em geral produzidos de forma artesanal, em fazendas ou nas cidades, por pessoas ou microindústrias que utilizam mão de obra e matérias-primas locais. O Minas+Viva discutiu formas de preservar processos produtivos artesanais, valorizar a produção agroindustrial e o pequeno produtor, além de oferecer aos participantes uma oficina de culinária sobre alimentos saudáveis. Foram apresentados cases de sucesso e discutidas questões, como a proibição do uso de tacho de cobre e da colher de pau na produção de doces.
Valorizar a culinária local é um dos objetivos do projeto Conspiração Gastronômica, idealizado pelo empresário Ralph Justino e pelos chefs Eduardo Maya e Eduardo Avelar, apresentador do programa Sabores de Minas, da TV Alterosa. Para Avelar, a valorização dos pequenos produtores deve ser buscado em Minas, a exemplo do que já é feito rotineiramente no exterior.
“O mundo inteiro pratica isso. Os grandes restaurantes, de diferentes países, buscam o pequeno produtor que está ali no seu entorno, valorizam a cultura local e fomentam o desenvolvimento cultural e social de sua região”, explica. Para ele, o Minas+Viva é importante porque abre discussão sobre os produtos locais e propõe a revisão de conceitos, leis e regras de fiscalização, de forma a desmistificar algumas ideias e, ao mesmo tempo, reforçar os modos tradicionais de produção. “Precisamos resgatar a cozinha de quintal e pensar em produzir esse tipo de coisa. São produtos locais, bastante valorizados, que fazem toda a diferença na nossa culinária”, reforça o Ivo Faria, do restaurante Vecchio Sogno, de Belo Horizonte. Para Eduardo Maya,o mineiro precisa ser mais audacioso em relação à sua gastronomia. “Precisamos superar nosso complexo de vira-lata e seguir o exemplo da cozinha internacional, que dá nome e sobrenome aos produtos que utiliza na elaboração de seus pratos.”
A diretora de marketing da rede de supermercados Super Nosso Gourmet e representante da Associação Mineira de Supermercados (Amis), Rafaela Nejim, afirma que o setor tem interesse de criar, nos supermercados, espaços para produtos tipicamente mineiros e, com isso, fomentar os mercados locais. No entanto, explica que ainda há dificuldades burocráticas que impedem a chegada desses produtos até o consumidor. “O supermercado quer vender, o consumidor quer comprar. Agora, precisamos reduzir a burocracia para abrir esse espaço dentro dos supermercados.”
Na mesa dos mineiros
A valorização da produção local pode estar acoplada a uma política de governo, como ocorreu com o queijo canastra, que há 10 anos estava condenado a desaparecer, mas recebeu apoio dos três principais órgãos de fomento agropecuário – Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Instituto Mineiro de Agropecuária (Ima) e Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) – do governo de Minas. O primeiro passo foi a realização, em 2000, de um levantamento da situação do produto nas principais regiões produtoras do queijo canastra no estado.
Dois anos depois, houve a regulamentação da produção e o início de uma política de valorização do produtor artesanal. “Antes, ele tinha vergonha de dizer que fabricava queijo. Hoje, com o amparo da lei, essa realidade mudou”, afirma Marinalva Soares, coordenadora técnica da Emater.
Ela explica que, apesar das dificuldades enfrentadas pelos pequenos produtores, o apoio técnico oferecido pelo programa ajuda a manter a atividade, garantindo a permanência do produto na mesa dos mineiros. “O saber fazer é do produtor. Entramos com outro tipo de estrutura”, diz Marinalva, que ressalta o significado da parceria entre o governo de Minas e os produtores.