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Estado de Minas

Cachaça de Salinas agora tem certificado de autenticidade

Título do Inpi de indicação geográfica dá autenticidade ao produto da região e deve aumentar o volume na exportação


postado em 23/07/2012 11:40 / atualizado em 23/07/2012 16:54

Há um século, com o nascimento do produtor rural Anísio Santiago (1912-2002), poucos poderiam imaginar a representatividade que o nome Salinas poderia ter. Até então, tratava-se apenas do nome de uma cidade situada no Norte de Minas. Mas o início da formalização da produção de aguardente na fazenda Havana (que também seria o nome de uma das marcas mais tradicionais) nos anos 1940 garantiu novo tratamento ao substantivo. De lá para cá, outros produtores de cachaça artesanal também criaram suas marcas e a região passou a ser referência nos rótulos das garrafas das melhores pingas do país. Na terça-feira, 17 de julho, um novo capítulo da história começou a ser escrito: o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) concedeu o título de indicação geográfica à cachaça produzida nos alambiques de Salinas.

Veja os produtos mineiros que já têm certificado de indicação geográfica(foto: Arte)
Veja os produtos mineiros que já têm certificado de indicação geográfica (foto: Arte)
O simbolismo do título é a oportunidade de os produtores iniciarem uma verdadeira revolução na produção, iniciada por Anísio há mais de meio século. Atualmente, somente dois dos 25 integrantes da Associação dos Produtores Artesanais de Cachaça de Salinas exportam o produto. A ideia é aproveitar o reconhecimento para multiplicar o volume nos próximos anos. “O selo vai possibilitar distinguir a autêntica cachaça de Salinas e abre as portas para os Estados Unidos e, principalmente, para a Europa”, afirma o presidente da associação, Nivaldo Gonçalves das Neves.

E ampliar a produção não significa industrialização do item artesanal. Nivaldo explica que hoje a capacidade instalada de fabricação está aquém das possibilidades. Ele afirma que, a cada hectare de cana de açúcar, é possível produzir anualmente até 13 mil litros, mas, atualmente, não passa de 7 mil litros. “Os alambiques funcionam de junho a setembro, mas, com maior demanda, pode se estender até novembro”, afirma.

A partir da indicação geográfica, os produtores que desejarem obter o selo, devem se enquadrar numa série de normas que qualificam o produto como artesenal. Entre elas, a fermentação natural da cana; a matéria-prima não poder ser queimada; o uso alambique de cobre e dorna de aço inox no processo de destilação da pinga; e a principal é a obrigatoriedade de toda a produção ser a 2,5 mil quilômetros quadrados na Região de Salinas.

Para isso, a associação deve fiscalizar rigorosamente todo o processo e pode acionar a Justiça caso algum produtor indique, de forma enganosa, na sua garrafa que o produto é originário de Salinas. “A indicação geográfica é uma forma de evitar que outras marcas tomem carona em um nome famoso. No caso da cachaça, trata-se um rótulo propriamente brasileiro, mas a de Salinas fica duplamente qualificada”, afirma o coordenador do Setor de Indicação Geográfica do Inpi, Luiz Cláudio Dupim.

O título atribuído à cachaça de Salinas não é o primeiro concedido ao produto. Pioneira na produção nacional, Paraty, no interior fluminense, também já havia conquistado a certificação. Em Minas, além da pinga, outros cinco produtos já obtiveram o mesmo status: café do cerrado mineiro e da Serra da Mantiqueira, queijo Minas do Serro e da Serra da Canastra e as peças artesanais de estanho de São João del-Rei. Isso coloca o estado na primeira posição com mais produtos certificados, ao lado do Rio Grande do Sul. E pode ser o primeiro isolado se os biscoitos de São Tiago obtiverem também o reconhecimento.

Preconceito vencido Rotulada como uma bebida das classes mais pobres, a cachaça ganhou ares sofisticados ao terem marcas produzidas artesanalmente. Além disso, por ser a principal matéria-prima da caipirinha, conquistou turistas dos quatro cantos do mundo. Agora pode “invadir” de vez mercados exigentes, como Estados Unidos e Europa. Mesmo com uma capacidade de produção de 1,2 bilhão de litros, menos de 1% da cachaça produzida anualmente é exportada. No caso de Minas, a proposta não é apenas crescer o volume vendido. “O que nós temos que buscar é uma posição da cachaça de alambique diferenciada da cachaça industrial”, afirma Neves.

E o potencial é promissor. Bastou a canetada do presidente norte-americano, Barack Obama, que reconheceu a bebida como genuinamente brasileira, para que a procura pelo produto tivesse aumento da demanda. No primeiro semestre desse ano, a exportação de cachaça para os EUA aumentou 12,62%, se comparado com igual período do ano passado. E a tendência é que o mercado se expanda ainda mais com o advento da Copa do Mundo e com a certificação.

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