Competência sem ousadia


GF/DIVULGAÇÃO
GF/DIVULGAÇÃO (Foto: GF/DIVULGAÇÃO)
Luiz Fernando Motta

 

Manter a energia e o frescor depois de 25 anos de carreira não é uma tarefa fácil. A tentativa do Garage Fuzz, um dos principais nomes do hardcore melódico nacional, parece ter sido essa em seu novo disco, Fast relief, lançado no fim do ano passado. A banda de Santos, no litoral paulista, consegue cantar seus dramas de maneira bastante enérgica, mas longe de empolgar como nos trabalhos anteriores.

O grupo estava há 10 anos sem lançar um álbum de estúdio. As faixas de Fast relief, sexto disco da carreira dos paulistas, começaram a ser compostas há nove anos, de maneira instrumental. As músicas só começaram a ganhar as letras e a linha vocal de Alexandre Cruz nos últimos dois anos. Durante todo esse processo de criação, a banda passou por mudanças, com a substituição do guitarrista Fernando Zambeli por Fernando Basseto, dono do estúdio onde as músicas foram gravadas.

O grupo, que já lançou trabalhos por selos importantes – OneFoot, Thirteen, Highlight e Spicy – desta vez escolheu fazer todo o processo por conta própria. Fast relief é considerado pelos próprios integrantes como “o disco mais independente da carreira”, o que, a priori, já traz uma expectativa muito grande pela sonoridade dos primeiros álbuns. No entanto, o que se vê são canções extremamente bem gravadas – sim, isso pode ser um fator negativo no hardcore – e com grande detalhamento de arranjos. Essa mudança também é reflexo da entrada de Basseto, guitarrista bastante técnico.

VELOCIDADE Até mesmo os vocais, que costumavam aparecer sobrepostos pelo volume dos instrumentos em trabalhos marcantes como Relax in your favorite chair (1994), estão mais destacados no novo disco. As baterias de Daniel Siqueira, o baixo de Fabrício Desouza e os riffs de guitarra de Wagner Reis imprimem velocidade durante a maior parte do álbum. Algumas músicas, como The dark side of, On the wall corner e Pay your dues pegam pesado e lembram bandas do Stoner Rock nacional, como o Black Drawing Chalks e o Hellbenders.

Outras, como a faixa título do álbum – que já ganhou um clipe – e Your not so real life! têm momentos de calmaria e sonoridade mais pop. A referência da banda para essa alternância é o oceano, representado na identidade visual do disco – capa e encarte – nas fotografias de Jair Bortoleto.

O despertar reflexivo suscitado pelo mar está presente nas letras, que têm caráter bem pessoal. Os temas continuam transitando entre dor e esperança. Vício em cocaína dá o tom de Kids on sugar e a perseguição obcecada por dinheiro é tema de Rewind speech. Enquanto isso, o hit Fast relief fala sobre seguir em frente e a necessidade de se sentir vivo.

O Garage Fuzz se mantém vivo com esse trabalho e deve continuar agradando aos fãs, que são devotos praticamente incondicionais do grupo santista. Fast relief é um disco competente, mas pouco ousado para uma banda de tamanho reconhecimento no meio underground, sobretudo ao pretender fazer “o disco mais independente da carreira”.


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