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Estado de Minas

Universidades públicas e privadas de Minas firmam parcerias internacionais

Convênios fortalecem a infraestrutura, para atrair mais professores e estudantes de outros países


postado em 11/09/2014 00:12 / atualizado em 11/09/2014 08:37

Junia Oliveira

A Escola de Engenharia e outras unidades de ensino do câmpus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais, na capital, já recebem interessados em cursos de graduação e pós-graduação vindos do exterior (foto: Euler Junior/EM/D.A Press.)
A Escola de Engenharia e outras unidades de ensino do câmpus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais, na capital, já recebem interessados em cursos de graduação e pós-graduação vindos do exterior (foto: Euler Junior/EM/D.A Press.)

Foi-se o tempo em que o conhecimento se limitava aos muros das instituições de ensino superior. Na universidade do século 21, não há barreira geográfica. Seja aluno ou professor, hoje, sai na frente quem enxerga a sala de aula como parâmetro para ir além. Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), internacionalizar é a palavra da vez. Mais do que mandar estudantes para o exterior, ela quer trazer o mundo para dentro dela. Fazer dos câmpus um ambiente no qual todas as línguas são faladas e compreendidas é uma de suas principais metas. Um desafio e tanto, pois, historicamente, a balança das exportações supera, e muito, a das importações. Oferecer atividades em outros idiomas é uma das saídas, que estão sendo procuradas também por federais do interior e instituições particulares.

O número de estudantes da universidade, de graduação e pós-graduação, que deixaram o câmpus para fazer uma parte do curso em instituições estrangeiras mais do que triplicou nos últimos três anos, saltando de 391 em 2010 para 1.274 em 2013. Somente no primeiro semestre deste ano, 1.909 alunos foram selecionados para buscar conhecimento em outros países. Dados do governo federal revelam que a mineira é a primeira entre as universidades federais e a segunda instituição do país que mais envia alunos ao exterior pelo programa Ciência sem fronteiras: foram 1.561 de graduação, 296 de doutorado (dos quais 271 na modalidade sanduíche) e 110 pós-doutorandos.

Para o professor colombiano Luis Cano, a UFMG avança para ser referência no planeta(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Para o professor colombiano Luis Cano, a UFMG avança para ser referência no planeta (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)


Há cerca de 370 convênios em vigor, 131 programas de intercâmbio e 270 instituições parceiras de 38 países. No sentido contrário, o crescimento de estudantes vindos de outros países entre 2010 e 2013 não chegou a dobrar. Eram 375 há quatro anos e pulou para 510 ano passado. Este ano, 226 vieram para a graduação. Estudantes da Europa, América Latina e África são a maioria entre os estrangeiros em mobilidade na UFMG, responsáveis por 90% desse fluxo.

GRADUAÇÃO FORTE O reitor Jaime Arturo Ramírez afirma que duas frentes devem ser observadas para fortalecer as parcerias com universidades estrangeiras e atrair estudantes e pesquisadores de outros países. A primeira é identificar temas importantes para a UFMG e também para as possíveis parceiras. A outra é investir em infraestrutura para acolher quem vem de fora, além de oferecer atividades em outras línguas. “A UFMG vai adotar medidas para aumentar a internacionalização, mas sem perder de vista a formação e os grupos de pesquisas consolidados, senão, ninguém vai querer vir. Somos reconhecidos no exterior por causa da graduação forte, bem como a pós-graduação e as pesquisas, os nossos carros-chefes.”

O diretor de Relações Internacionais da UFMG, Fábio Alves, concorda que a universidade do futuro passa pela internacionalização. A ideia é promover ações multilíngues e multiculturais nos três câmpus da universidade: Pampulha, Saúde (na Região Hospitalar de BH) e Montes Claros (Norte de Minas), incentivando a o vaivém de estudantes e professores. Pensando nisso, três políticas foram adotadas para enfrentar o desafio.

REFERÊNCIAS Competir sim, mas se destacar nos rankings internacionais de educação é condição fundamental para atrair estrangeiros na visão do professor colombiano Luís Cano, de 35 anos. Pós-doutorando em física, ele deixou Bogotá há três anos e meio, depois de conhecer um professor da instituição num congresso. “As pessoas sempre olham os rankings, que são uma referência e fazem a diferença. E, assim, preferem a USP (Universidade de São Paulo, que ocupa a 150ª posição). Mas a UFMG está se tornando forte. É uma questão de tempo para essa situação mudar.”

“Vender-se para o mundo”, no melhor dos sentidos, é a estratégia que o venezuelano naturalizado espanhol Luís Castillo, de 31, sugere à UFMG para atrair mais estrangeiros. Aluno de doutorado, ele deixou a Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha, para se dedicar à pesquisa na área de tradução, na Faculdade de Letras.

De olho no espaço latino

O foco prioritário das ações na UFMG são o continente americano, principalmente o espaço latino. Uma das propostas sob coordenação das pró-reitorias de Graduação e Pós-Graduação é um novo modelo de oferta de disciplinas em inglês e espanhol. A medida ainda não foi definida, mas cogita-se oferecer matérias temáticas e de modalidade livre, que não integrem, necessariamente, a grade curricular. “Cultura, artes, mineração, demografia. É uma série de disciplinas que podem interessar pesquisadores e alunos estrangeiros e que trabalhem em interface com nosso contexto”, explica o diretor de Relações Internacionais, Fábio Alves.

O diretor acredita que essa será também uma oportunidade de os alunos brasileiros da UFMG desenvolverem proficiência linguística na interação com colegas de outros países e de criar um ambiente com várias línguas e culturas. A expectativa é de que o plano comece a ser implementado dentro de um ano. “Não é formação curricular em língua estrangeira. Queremos oferecer disciplinas que atraiam o aluno estrangeiro para integralizar o percurso curricular na universidade de origem dele.”

Professor de zoologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) Mário Cozzuol, argentino que mora no Brasil há 18 anos e em BH há oito, considera que atividades em outro idioma são menos importante se considerado o problema de estrutura, que vai da qualidade aos laboratórios e a alojamentos para quem vem de fora. “Muitas das condições de trabalho são precárias, mas a gente se vira. O difícil é comparar isso com outras instituições mais preparadas.”

Particulares investem


A internacionalização passa também pelas instituições particulares. Na Fumec, é grande o investimento para atrair mais estudantes e professores estrangeiros. Ela tem parcerias e convênios com instituições da Argentina e dos EUA para receber alunos de graduação, pós-graduação e de cursos de especialização. Cerca de 60 argentinos chegarão neste semestre para participar da Feira de Tecnologia Aplicada a Gestão Empresarial (Fetage).

Coordenadora do setor de Relações Internacionais, Climene Arruda diz que a oferta de módulos de pós-graduação em inglês e espanhol são outra estratégia para atrair estudantes estrangeiros. Projeto implantado recentemente e que tem gerado interesse de universidades dos EUA, Argentina, Colômbia e México são os cursos de português e de cultura brasileira para estrangeiros. “É um ganho acadêmico e um enriquecimento cultural muito grande para alunos e professores.”

No Centro Universitário Newton Paiva há uma aluna de Angola e dois professores estrangeiros nos cursos de engenharia – um da Rússia e outro do Peru. Parceria com a Universidade Livre da Colômbia para intercâmbio de estudantes e pesquisadores e promoção de palestras e eventos conjuntos e simultâneos nos dois países é uma das ações de investimento na internacionalização.

No Centro Universitário UNA, a parceria é com a Universidade da Flórida (EUA), que manda cinco alunos de engenharia para ficar um semestre em BH. O convênio foi firmado há dois anos e 20 estudantes já participaram. Na PUC Minas, há 60 alunos estrangeiros. De acordo com a Assessoria de Relações Internacionais, são 152 convênios bilaterais com universidades de todo o mundo. As vagas são concedidas em reciprocidade, tanto na instituição estrangeira quanto na PUC Minas, para alunos de graduação, pós-graduação e professores. (J.O)

Programa para romper barreiras

Mostrar ao mundo o que é feito no interior de Minas. Com essa meta, a Universidade Federal de Lavras (Ufla), no Sul do estado, quer deixar para trás as barreiras geográficas. A instituição lança um plano de internacionalização, que vai de premiações de docentes por publicações no exterior a acordos com instituições dos EUA e europeias para intercâmbio de professores de pós-doutorado. A Ufla investe em estrutura para receber pesquisadores estrangeiros. A primeira etapa, a construção de 30 quitinetes, estará pronta até o fim do ano. Há, ainda, um hotel com 80 leitos.

A Ufla terá ainda escritório na Bélgica, que servirá como base na Europa, com foco em agricultura, floresta, biotecnologia vegetal e animal e bioprocessamento. As mais recentes parcerias, segundo o reitor José Roberto Scolforo, são com universidades da Bélgica, Holanda e EUA . “Estamos plantando as bases para que a Ufla seja, daqui 20 ou 30 anos, uma das maiores do mundo.”

Na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), alunos estrangeiros poderão morar nas repúblicas federais. Este ano, a instituição, conveniada com mais de 40 universidades do exterior, recebeu 43 estudantes de diferentes nacionalidades. A proposta é que as repúblicas federais destinem vaga de acordo com a disponibilidade da casa. Assim, aquelas que têm número maior de lugares disponíveis terão prioridade na recepção dos estrangeiros.

FUTURO A internacionalização como perfil da universidade do século 21 foi um das conclusões do III Encontro Internacional de Reitores, no fim do mês passado, no Rio. Na ocasião, cerca de 40 acordos foram firmados entre instituições de ensino. As quatro universidades brasileiras mais bem conceituadas vão se juntar a quatro instituições espanholas para fortalecer a internacionalização. As federais de Minas (UFMG), do Rio Grande do Sul (UFRGS) e as estaduais de São Paulo (USP) e Campinas (Unicamp) firmaram parceria com as universidades Autônoma de Madri, de Barcelona, Carlos III e Pompeu Fabra.

Reitor da Carlos III, Daniel Peña disse que uma universidade internacional é aquela com proporção de pelo menos 50% dos alunos de outros países. Segundo ele, 40% de seus alunos têm experiência no exterior. “Há uma série de vantagens: fonte de renda, fonte de desenvolvimento para o país e foco de atração de empresas, que querem compartilhar pesquisas.” O reitor da Universidade de Oxford, na Inglaterra, Andrew Hamilton, foi além: “A internacionalização é a chance de a universidade lidar com desafios do século 21”. (J.O)


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