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Estado de Minas

Conheça a história da estudiosa das crianças Helena Antipoff

Psicóloga e educadora russa Helena Antipoff morreu há 40 anos em Ibirité, na Grande BH, onde abriu escola para jovens excepcionais e abandonados. Também é fundadora da Pestalozzi


postado em 03/05/2014 08:00 / atualizado em 03/05/2014 08:31

(foto: ARQUIVO O CRUZEIRO/EM - 11/1/73)
(foto: ARQUIVO O CRUZEIRO/EM - 11/1/73)

Há 40 anos, Minas Gerais se despedia de uma de suas filhas mais queridas, a psicóloga e educadora russa Helena Antipoff, que desempenhou papel de grande relevância no estabelecimento das áreas de estudo e pesquisa em psicologia e educação em nosso país. As instituições cuja criação foi iniciada ou orientada pela educadora nos anos de 1930 e 1940 – Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais e Sociedade Pestalozzi do Brasil – visavam cuidar das crianças e adolescentes excepcionais, particularmente daqueles que apresentavam deficiências ou problemas de saúde mental, com metodologias inovadoras e bem articuladas às descobertas científicas mais avançadas da época.

Presidente do Centro de Documentação e Pesquisa Helena Antipoff, a professora de psicologia da educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Regina Helena de Freitas Campos vem pesquisando a contribuição da educadora. Segundo ela, Antipoff participou ativamente do movimento de renovação das escolas públicas mineiras e na formação de educadores e de psicólogos. Além da atuação como professora, pesquisadora e criadora de instituições educacionais como as sociedades Pestalozzi de Minas Gerais e do Brasil e o Complexo Educacional da Fazenda do Rosário, esteve envolvida em várias outras iniciativas na promoção da educação dos excepcionais e da formação de professores e especialistas para o ensino especial, a educação rural e a educação pública em geral.

Educada em São Petersburgo, Paris e Genebra, e tendo trabalhado em instituições de abrigo e educação de crianças abandonadas e em situação de risco social na Rússia revolucionária, entre 1917 e 1924, e posteriormente como professora assistente na Universidade de Genebra, entre 1927 e 1929) Helena foi convidada a dirigir um dos primeiros laboratórios de psicologia estabelecidos em Minas Gerais, ligado à Escola de Aperfeiçoamento de Professores de Belo Horizonte, em 1929. No Laboratório de Psicologia da Escola de Aperfeiçoamento, as pesquisas realizadas por Antipoff e suas alunas tinham por objetivo descrever as características psicológicas e psicossociais de crianças e adolescentes das escolas públicas de BH.

“O foco de investigação eram os ideais e interesses das crianças, seu desenvolvimento cognitivo e socioafetivo, sua vida na família e na escola. A ideia, inspirada em Rousseau, era que o conhecimento da criança e do adolescente era necessário para melhor orientar sua educação”, conta a pesquisadora. Em 1939, Antipoff fundou a cadeira de psicologia na recém-fundada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de Minas Gerais, continuando seu trabalho de formação de educadores licenciados no nível superior. “Nessa posição, ela contribuiu para a educação das primeiras gerações de psicólogos brasileiros e ajudou a iniciar o movimento pela regulamentação legal da profissão.”

Helena participou de movimento de renovação da escola pública e atuou na promoção da educação dos excepcionais (foto: Luiz Alfredo/O Cruzeiro/EM -10/10/1963)
Helena participou de movimento de renovação da escola pública e atuou na promoção da educação dos excepcionais (foto: Luiz Alfredo/O Cruzeiro/EM -10/10/1963)

Psicologia

Também continuou a expandir as aplicações da psicologia à educação, tanto como psicóloga como por meio de seus alunos e alunas, que vinham de diversos estados brasileiros e também de outros países da América Latina para aprender com ela novos métodos na educação de crianças excepcionais ou na formação de professores para as escolas públicas, tanto no meio rural quanto no meio urbano. Em 1972, tornou-se professora emérita na Faculdade de Educação da UFMG por sua contribuição inestimável para a teoria e a prática da psicologia e da educação e para a formação das novas gerações. Maria do Carmo Coutinho de Moraes, hoje diretora da Associação Pestalozzi, lembra de Helena na Escola Estadual Sandoval Soares de Azevedo, em Ibirité. “Eu a via muito rapidamente, era uma das cerca de 200 alunas do internato. Depois, durante um curso de especialização, fiz meu estágio na Fazenda do Rosário e tive maior contato com sua proposta educacional”, recorda-se.

Helena Antipoff se destacou, especialmente, pela preocupação em colocar o conhecimento da psicologia a serviço da educação, promovendo o conhecimento das características psicológicas e psicossociais das crianças e adolescentes brasileiros e interpretando-as levando em consideração o contexto sociocultural. Foi pioneira na educação dos excepcionais e na formação de educadores para escolas urbanas e rurais, propondo métodos inovadores baseados na integração entre teoria e prática, na formação de atitudes democráticas e no respeito aos direitos humanos. As propostas pedagógicas das instituições educativas que Antipoff iniciou (Sociedades Pestalozzi para a educação de excepcionais e Instituto Superior de Educação Rural para a formação de educadores para o meio rural) continuam a inspirar os educadores na atualidade por sua originalidade, densidade teórica e relevância social.

 

Saiba mais
Complexo Educacional do Rosário

A Fazenda do Rosário foi a maior obra de Helena Antipoff. Seguindo orientação do Bureau International des Écoles Nouvelles, a escola rural foi instituída para aplicar os métodos da Escola Ativa na educação de crianças excepcionais em ambiente adequado. A partir dessa escola para crianças excepcionais, a Fazenda do Rosário foi progressivamente enriquecida com novas iniciativas que visavam à integração da escola à comunidade rural adjacente. A filosofia educativa rosariana enfatizava, por um lado, a necessidade de integração à comunidade das crianças recebidas pela Sociedade Pestalozzi – crianças abandonadas, com sérios problemas de ajustamento. Por outro lado, buscava-se levar à comunidade rural de Ibirité os benefícios civilizatórios da escola. Era enfatizada a liberdade de escolha do educando, a atividade consciente, a sociabilidade e a tomada de decisões em grupo. Em vez de incentivar a competição, como no sistema escolar regular, a pedagogia rosariana privilegiava a cooperação: o aprendizado deveria se fazer em um ambiente de ajuda mútua e de liberdade para experimentar.
 


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