Flávia Ayer
O que se espera do Natal? Normalmente, confraternização, alegria, esperança. Pois para os 4,1 milhões de candidatos à espera do resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), dessa combinação natalina, só restou tempo para a esperança, além de muito estudo e ansiedade. Como as notas do Enem, principal porta de entrada para o ensino superior no país, estão previstas para serem divulgadas apenas sexta-feira, dia 28, estudantes estão de castigo no período das festas de fim de ano, grudados nos livros e apostilas. Na ponta do lápis, são quase dois meses de incerteza desde a aplicação das provas em 3 e 4 de novembro. A agonia é maior ainda para os 60.264 candidatos que concorrem a uma vaga na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que usa o exame como primeira etapa do vestibular.
Sem o resultado, também não há como se planejar e o jeito é tentar conciliar as festividades mantendo a disciplina nos estudos. Passado o Natal e seguindo o conselho dos professores, a candidata ao curso de arquitetura e urbanismo Vanessa Del Papa de Lacerda, de 18 anos, não vai desgrudar do computador para conferir se o Ministério da Educação (MEC) vai liberar as notas antecipadamente. “Acredito que o resultado poderia ter saído antes do Natal, pois muitos dos que estão fazendo cursinho e estudando diariamente não têm certeza se passaram para a segunda etapa. Isso pouparia desgaste, tempo e preocupação”, comenta.
Empenhada em conquistar uma vaga na UFMG, para Vanessa, que concluiu este ano o 3º ano do ensino médio, são sete dias úteis por semana e o tempo de descanso é cronometrado.
Na casa da estudante Marcela Sá, de 17, candidata ao curso de medicina, a árvore de Natal está ao fundo da mesa de estudos. Para ela, a proximidade com o fim do ano, depois de 12 meses de dedicação, só faz aumentar o cansaço. “Manter o foco fica cada vez mais difícil, pois há muita distração à nossa volta. Muitos colegas sabem que não têm como passar e ficam saindo, indo passear”, conta Marcela, que se divide entre as aulas do cursinho preparatório para a segunda etapa e os exercícios em casa, num total de mais de 12 horas de estudos por dia. “No meu caso, acertei um número de questões que não dá para ter certeza da aprovação, por isso, estou numa expectativa ainda maior”, diz.
GASTOS E, se não bastasse o desgaste emocional, estudantes têm gastado bastante dinheiro na tentativa de se preparar melhor para a segunda etapa do vestibular, mesmo sem saber se foram aprovados. É o caso de Pedro Henrique de Leite de Castro, de 17, que sonha em conquistar uma cadeira no curso de direito da UFMG.
A divulgação tardia do resultado do Enem não alterou apenas a rotina dos estudantes, mas de toda a família. Mãe de Mariana, candidata ao curso de direito, a professora Maria Emília Santana Costa, de 51, não programou absolutamente nada, nem para o Natal nem para o réveillon. “Nem estava sabendo que dia era Natal”, conta. O marido dela mora na Itália e a família não pode planejar uma viagem. “Queria viajar, mas por causa do resultado não tivemos condição de sair daqui.
Leilão de vagas
Além de ser primeira etapa em diversos vestibulares no país, com a nota do Enem, estudantes podem participar do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), do Ministério da Educação (MEC). Trata-se de um leilão de vagas nas principais instituições de ensino superior do país. O Sisu ocorre duas vezes por ano, sempre no início do semestre letivo. A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a maior do estado, ainda não aderiu ao sistema. Na instituição, o Enem vale como primeira etapa. A segunda etapa está marcada para o período de 13 a 20 de janeiro. Dos mais de 60 mil inscritos, somente um terço será convocado a fazer as provas.