Dois anos e cinco meses depois que se tornou público o desaparecimento e morte de Eliza Silva Samudio, a Justiça condena os primeiros dois dos oito réus no processo. Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, amigo de infância e braço direito do goleiro Bruno Fernandes das Dores de Souza, foi condenado por sequestro, cárcere privado e homicídio triplamente qualificado. Ele não poderá recorrer em liberdade e deverá cumprir uma pena de 15 anos, 12 deles em regime fechado. Já Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do jogador, foi condenada pela participação no sequestro de Eliza e de Bruno Samudio, filho da modelo e do atleta que à época tinha cinco meses de idade. Ela teve a pena estipulada em cinco anos em regime aberto. Apesar de condenada, Fernanda chorou de alívio ao fim do júri, já que poderá responder em liberdade. Os demais réus, entre eles o goleiro Bruno, devem ser julgados apenas em março de 2013.
Segundo o promotor Henry Vasconcelos de Castro, apesar das condenações, não é possível afirmar que há um vencedor no Júri. "Dizer que o resultado foi satisfatório é complicado, porque uma pessoa morreu, então não há uma vitória, e sim uma maneira de recomposição", opinou pouco antes da leitura da sentença.
A condenação foi anunciada às 23h53, quando a magistrada retornou ao Salão do Júri depois dos sete jurados, seis deles mulheres, terem se reunido em uma sala separada no Fórum Doutor Pedro Aleixo, em Contagem.
A quarta-feira foi o dia de maior trabalho para os jurados, que permaneceram dentro do fórum por mais de 21 horas. A sessão começou por volta das 8h30 e só terminou às 4h30 de quinta-feira. Os trabalhos vararam madrugada por causa da surpreendente confissão de Macarrão, que atribuiu ao goleiro Bruno toda a articulação do plano para dar fim à vida da mulher que lhe exigia o reconhecimento da paternidade do filho e consequente pagamento de pensão alimentícia, mediante ameaça de manchar a imagem pública do atleta. Foi feito um acordo entre a defesa de Macarrão e a promotoria. A juíza Marixa concordou em estender os trabalhos pela madrugada, pois o promotor Henry Vasconcelos de Castro tinha receio de que o réu, ao voltar para a Penitenciária Nelson Hungria, voltasse atrás, mediante algum tipo de coação, na decisão de revelar, mesmo que parcialmente, a execução do crime.
Ânimos exaltados
O debate entre acusação e defesa, que antecedeu o veredicto, foi marcado por troca de farpas entre as duas partes. Enquanto o promotor tentava evidenciar as provas do processo, os advogados dos réus rebatiam as acusações e tentavam desqualificar as investigações policiais e a lisura do processo judicial.
Nas duas horas que lhe foram concedidas, o responsável pela acusação buscou evidenciar ao Conselho de Sentença as contradições dos réus durante os interrogatórios e evidenciar as provas constantes no processo.
Para mostrar as contradições nas falas de Macarrão, o promotor valeu-se, sobretudo, dos registros de ligações telefônicas e do depoimento de Jorge Luiz Rosa, primo do goleiro Bruno, à época adolescente, que narrou à polícia e ao Juizado da Infância e Juventude, com riqueza de detalhes, todos os passos do sequestro e execução de Eliza Samudio. A bilhetagem dos telefonemas também foram cruciais para que o promotor apontasse como Fernanda mentiu ao se esquivar do cárcere de Eliza e do bebê. "Fernanda, aquela dissimulada, disse que não viu Eliza ferida. Como uma mulher não iria reparar detalhes físicos de uma rival, com quem disputava um amante?", cogitou Henry Vasconcelos.
O promotor destacou ainda que três fatores foram cruciais para elucidação do crime: o resgate do filho de Eliza, a apreensão da Land Rover usada no sequestro da ex-modelo e a perícia feita no veículo, na qual ficou constatada a presença do sangue da vítima.
O defensor de Luiz Henrique Romão, o Macarrão, preferiu tentar convencer o júri de que seu cliente não merecia ser punido por todos os crimes que foi denunciado. Para isso, usou a confissão de seu cliente para poder sensibilizar os jurados. Em suas argumentações, ele chegou a pedir para os jurados não condená-lo por sequestro e cárcere privado de Eliza Samudio e do bebê, e pela ocultação de cadáver da vítima, mas apenas pela coparticipação por homicídio.
Já a defensora da ex-namorada de Bruno, Carla Silene, não usou todo o tempo que lhe era devido para fazer sua argumentação.
Amizade eterna que a força do tempo destruiu
O momento mais marcante deste primeiro julgamento dos réus acusados de envolvimento no sequestro e assassinato de Eliza Samudio foi na quarta-feira, quando Macarrão, pela primeira vez, falou sobre o crime. E quando decidiu dar a sua versão do caso, surpreendeu a todos. Ele atribuiu toda a culpa pelo crime ao seu fiel escudeiro e patrão, Bruno Fernandes. Ele foi enfático ao afirmar que "se tem alguém que acabou com a vida de alguém, foi o Bruno, que acabou com a minha vida". Ele ainda desabafou, dizendo que o silêncio ao qual se recolheu durante todo este tempo foi um martírio para ele e que a amizade, marcada em sua pele, acabava naquele momento.
Em seu depoimento, Macarrão desmentiu a versão prestada anteriormente à Justiça, no qual contava ter deixado Eliza em um ponto de táxi, e revelou que levou a modelo até um homem que desembarcou de um Palio preto na Região da Pampulha. Macarrão ainda contou que, pressentindo que iriam executar a modelo, tentou aconselhar o amigo. "Eu falei com ele, Bruno, estou te falando como irmão, deixa essa menina em paz, deixa essa menina", contou. O goleiro, no entanto, teria respondido, batendo no peito: 'deixa comigo. Eu sou o Bruno.
Embora tenha saudado Macarrão pela coragem de fazer tal confissão, o promotor Henry Vasconcelos afirmou depois que ela foi parcial. Ele buscou ao máximo amenizar o seu envolvimento no crime, se retirou da cena da execução de Eliza, livrou Fernanda, Wemerson e Elenilson do envolvimento com o caso e não revelou o nome do assassino. Conforme o promotor, ele tem medo de ser assassinado por Bola, matador profissional apontado no inquérito policial como o executor da vítima..