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Estado de Minas MERCADORES DE PÃO E SONHOS

Feira de Caruaru em Pernambuco: a feira onde há de tudo

Feirantes transformam a venda de produtos básicos em centros de compras diversificados, oferecendo de alimentos a itens importados


postado em 12/12/2012 06:00 / atualizado em 14/12/2012 10:38

Feira de Caruaru movimenta a economia de centenas de cidades do PE(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Feira de Caruaru movimenta a economia de centenas de cidades do PE (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Porteirinha (MG) e Caruaru (PE) – O feriado de 7 de setembro de 1929 representou um marco na economia de Belo Horizonte. Naquele dia, uma feira a céu aberto, próxima à Praça Raul Soares, foi criada para abastecer os 47 mil moradores da então jovem capital com produtos do agronegócio mineiro. Oito décadas depois, quando a população já soma 2,4 milhões de pessoas, o lugar é considerado um dos principais endereços comerciais do estado. Mercadorias do agronegócio dividem espaço, hoje, com bens industrializados nacionais e de origem estrangeira. Trata-se do Mercado Central, um dos principais cartões-postais da cidade e garantia de lucro certo para os comerciantes.

Distante quase 2 mil quilômetros de BH, em Caruaru (PE), chamada de a Capital do Agreste, a feira local também prosperou, tanto que atraiu grandes empresas para a região e foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). De uma cidade a outra, a economia de centenas de municípios é movida por feirantes que vendem de alimentos in natura a mercadorias industrializadas. A importância da atividade no fomento da renda e no abastecimento da população é o tema da quarta reportagem da série O Brasil de Gonzaga, que o EM publica até amanhã, aniversário do centenário de nascimento do Rei do Baião.

Confira a galeria de fotos

As matérias traçam um paralelo entre a economia e a percepção do desenvolvimento que o sanfoneiro transmitiu na composição e interpretação de músicas consagradas. É o caso de A feira de Caruaru, composta pelo pernambucano Onildo Almeida. “A canção rendeu a Gonzaga seu primeiro Disco de Ouro”, conta, orgulhoso, Onildo, autor de outras canções que lideraram paradas de sucesso na voz do filho mais ilustre de Exu (PE). “Muita coisa mudou na feira desde que escrevi a letra. Agora há até lojas de porte maior”, diz o compositor durante uma visita ao lugar, onde boa parte dos comerciantes aderiu às vendas por meio dos cartões de débito e crédito.

A moeda de plástico continua comprando produtos típicos da região, mas também mercadorias pirateadas. O próprio Onildo, durante o passeio em que acompanhou a reportagem do EM, adquiriu um CD pirateado de suas músicas. Pagou R$ 2 pelo produto, que garantiu ao dono da barraca um lucro de 100%. Na venda vizinha, observou tênis importados e sombrinhas produzidas na China. O compositor previu a invasão de produtos asiáticos, como destacam os últimos dois versos da múscia: “De tudo que há no mundo, tem na feira de Caruaru”.

Veja as curiosidades do movimentado mercado



Mas o cartão-postal do agreste ainda mantém mercadorias tão antigas quanto a canção de Onildo. Não foi difícil encontrar, por exemplo, o chamado caneco acuvitêro, um candeeiro, usado para iluminar lares carentes de energia elétrica, como destacado na letra. Feirante em Caruaru há 20 anos, Celina Batista negocia cerca de 60 acuvitêros por mês, ao preço unitário de R$ 3. Boa parte da clientela, acrescenta a comerciante, usa o objeto em sítios, onde a energia pode falhar a qualquer momento. Tambémno Norte de Minas o arcuvitêro é encontrado com facilidade.

Parceiro de Gonzagão, Onildo Almeida reconhece os novos tempos do comércio(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Parceiro de Gonzagão, Onildo Almeida reconhece os novos tempos do comércio (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
E há produtos novos, coloridos, vendidos por ambulantes que não perdem a oportunidade de ganhar dinheiro nas feiras do sertão. Em Porteirinha, a 600 quilômetros de BH, o ambulante Leandro Júnior Cândido Nascimento aproveita a feira, às sextas-feiras, para vender relógios e calculadoras. Ele ganha em média R$ 1,5 mil ao fim do mês. “Estou no ramo há 14 anos”, conta. Há poucas semanas, porém, Leandro decidiu ingressar no mercado formal, tornando-se um empreendedor individual, categoria criada pelo governo federal em 2010 para enquadrar quem fatura até R$ 60 mil por mês. Um dos benefícios é a garantia de aposentadoria.

Aos 23 anos, Bárbara Vieira está longe de se aposentar, mas até lá ela deseja ter poupado uma boa reserva financeira. Para isso, dedica boa parte de seu tempo à lanchonete que montou, há dois anos, no Mercado Central de BH. Batizada de Sabores e Ideias, a empresa é especializada em salgados e produtos típicos de microrregiões do Brasil. Ela oferece refrigerantes produzidos em Divinópolis, São Luís (MA), Chorozinho (CE) e, a partir de 2013, adianta: “Minha pretensão é importar (bebidas do gênero) de várias partes do mundo”.

Ouça a música A Feira de Caruaru

Vizinho do comércio de Bárbara Márcio Batella, sócio da Casa Horizonte, negocia produtos comercializados na antiga feira da capital mineira, como queijos e doces. A diferença é que a barraca tem novidades do mundo moderno, a exemplo do bacon em pó. O quilo da mercadoria é oferecido por R$ 32. “Ele realça o gosto de pratos típicos, como feijoada e tutu. Caiu no gosto dos clientes, pois tem boa saída – cerca de 10 quilos por mês”, comemora Batella.

OXENTE

Coincidências da vida


(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Crato (CE) –Oano de 1929 não foi um marco apenas para a economia de BH. Foi, também, uma referência na vida de Luiz Gonzaga. Naquele ano, o então adolescente de 17 anos, futuro Rei do Baião, fugiu para o Crato, na Região do Cariri, depois de levar uma sova da mãe, Santana. O motivo foi justo: proibido de namorar a filha de um coronel, em Exu (PE), Gonzaga se armou de uma faca, pois estava dispostoa usá-la contra o desafeto. No Crato, embarcou num trem para Fortaleza (CE). Hoje, a antiga estação é um centro cultural. Outro terminal foi construído ao lado.

A linha férrea até a capital do Ceará está desativada.Onovo terminal é usado por passageiros do VLT, meio de transporte mais moderno que o metrô (foto). A nova linha liga Crato à vizinha Juazeiro do Norte. (PHL)

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