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Estado de Minas

Desenvolvimento, emprego e renda maior hoje trazem de volta quem deixou a região para prosperar


postado em 09/12/2012 05:00 / atualizado em 18/12/2012 11:52

(foto: Alexandre Guzanshe/em/d.a press)
(foto: Alexandre Guzanshe/em/d.a press)

Mamonas (MG), Lagoa Grande (PE) e Jardim (CE) – Os movimentos da asa branca, pássaro pouco menor que um pombo, são acompanhados de perto pelo sertanejo, pois a chegada e a partida da ave de uma região significam o início e o fim do período chuvoso. No chamado Grande Norte de Minas e no Nordeste brasileiro, os versos estampados no alto dessa página ainda fazem parte da realidade de muitas famílias que deixam o semiárido em busca de emprego, principalmente no Sudeste. Por outro lado, devido ao aumento do poder aquisitivo do brasileiro, uma parcela grande de ex-refugiados da seca já faz o caminho de volta. Melhor: muitos que foram para o Sudeste e agora retornam à terra natal usam suas economias para abrir negócio próprio, gerando emprego e renda na região.

O retorno do pródigo, no entanto, ainda não aconteceu na casa de Ana Rodrigues, de 47 anos, moradora de Mamonas, a 300 quilômetros de Montes Claros. Em busca de emprego, cinco de seus seis filhos deixaram a cidade rumo a São Paulo. Ela espera, ansiosa, pelo dia em que eles vão voltar para ficar. “Saíram para o mundo para não passar fome”, lamenta. Dois filhos de Jucineide Justino, de 45, também se foram. Trocaram Lagoa Grande, no sertão de Pernambuco, por Petrolina, onde o emprego é farto graças à renda da área irrigada pelo leito do São Francisco. “Sei que um dia o mesmo deve acontecer com meus três filhos menores”.

“A população que migra é aquela em idade produtiva – a mais jovem. Isso causa redução da capacidade de produção das comunidades”, alerta o economista Geraldo Antônio Reis, da Unimontes, para quem o êxodo é intensificado “à medida que os municípios não são capazes de criar oportunidades de empregos e, ao mesmo tempo, não oferecem bons serviços de saúde, saneamento básico e educação”. Para se ter ideia, de 1960 a 1980, mais de 1,3 milhão de nordestinos deixaram a terra natal. Para eles, como foi para os filho s de dona Ana, a meca em questão é São Paulo.

Hoje, embora muitas famílias do Norte de Minas e do Nordeste ainda partam em busca de um futuro melhor, a migração é menor do que o da época em que o Rei do Baião gravou Asa Branca. Isso se deve a vários fatores, como investimentos privados e públicos e a expansão de programas sociais, entre eles o Bolsa Família. É preciso voltar a enfatizar que muitos do que se mandaram para as capitais do Sudeste, décadas atrás, agrora voltam para casa, depois de prosperar, para empreender. O professor Alisson Flávio Barbieri, do departamento de Demografia da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, avalia que a redução das desigualdades sociais e econômicas, até então flagrantes ante o Sudeste e o Sul brasileiros, abriu o caminho para o crescimento da economia e a migração de retorno.

As cidades médias brasileiras também começaram a atrair investimentos e a indústria foi obrigada a buscar novas áreas para se instalar, longe das regiões metropolitanas. “A diferença entre os padrões migratórios da realidade que Gonzaga vivenciou e os de hoje é que, nos anos 60, éramos um Brasil extremamente mais desigual”, reforçou Barbieri.

A redução da desigualdade social no Nordeste foi fundamental para que Jailson Sales, de 46, fizesse o caminho de volta para casa, em Exu, quase 30 anos depois de ter partido para São Paulo, onde exerceu várias funções da indústria. A última foi no setor de confecções. “Em 2010, percebi que o Nordeste havia crescido, que as pessoas passaram a ter maior renda. Decidi voltar.” Ele veio na companhia de um amigo, Luiz Antônio Rodrigues, de 61, que trocou Guarulhos pela terra de Gonzaga. Montaram uma confecção com 20 funcionários.

Um deles é Elda Pereira, de 41, que também havia migrado para São Paulo, na década de 1980, e decidiu voltar para Exu. Quando chegou no Sudeste, ela trabalhou como empregada doméstica. Anos depois, resolveu se qualificar e conseguiu o diploma de costureira. Resultado: foi contratada pela fábrica de Jailson e Luiz Antônio assim que voltou para o semiárido. “Trouxe meu marido, natural de São Paulo, comigo. Ele trabalha como mototaxista. A ideia é não sair mais daqui”, planeja. Os fluxos migratórios tendem a se estender levados pela capacidade que o Nordeste tiver para manter taxas altas de crescimento econômico, mas o fator climático influencia essa direção, alerta Alisson Barbieri.

Lucro com músicas

Ouricuri (PE) – Luiz Gonzaga comprou sua primeira sanfona, em Ouricuri, por 120 mil réis, na loja de Seu Adolfo. Era um fole de oito baixos. O ponto de venda não existe mais, porém, na cidade, há duas lojas que negociam instrumentos musicais. Na Eletrobela, uma sanfona de oito baixos sai por R$ 780. Já o acordeão de 120 baixos custa R$ 3.265,00. Jackson Alan Lacerda (foto) é vendedor no local: “A loja foi aberta, há cinco anos, num espaço próximo daqui. Crescemos tanto que há dois anos precisamos vir para esse imóvel, que é bem maior. Em média, negociamos dois foles por mês. O campeão de vendas da loja é o violão, cujos preços vão de R$ 180 a R$ 490”. (PHL)

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