Nascido no Dia de Santa Luzia (13 de dezembro), Luizinho herdou do pai, Januário, a paixão pelo fole. A agilidade com que tocava sanfonas de oito baixos, ainda na adolescência, animava os arrasta-pés em sua terra natal, Exu (PE), no sopé da Serra do Araripe. Já adulto, depois de servir o Exército em Belo Horizonte, Juiz de Fora, Ouro Fino e outros quartéis Brasil afora, o seu vozeirão, o vasto repertório e a facilidade com que tirava o som do instrumento musical – agora um fole de 120 baixos – conquistaram uma legião de fãs nos quatro cantos do país. Luizinho, então, passou a ser conhecido como Luiz Gonzaga (1912-1989), o Rei do Baião.
“Quando dei baixa do Exército e saí de Minas Gerais, já estava ficando mineiro”, disse ele certa vez. O ritmo musical criado pelo filho de Januário é um marco na cultura nacional. Suas músicas lideraram paradas de sucesso, tal qual o Xote das meninas. Mas Gonzaga não usou o acordeão apenas para divertir o público. Ele aproveitou o sucesso do baião para revelar, como nenhum outro artista de sua época, um Brasil até então desconhecido de boa parte da população.
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A lista de músicas que abordam temas econômicos, assim como foi o sucesso do sanfoneiro de Exu, é grande. Em alusão ao centenário de nascimento do Rei do Baião, comemorado na próxima quinta-feira, o Estado de Minas publica, a partir de hoje, a série O Brasil de Gonzaga. A partir dos versos de algumas das canções mais representativas do artista, é traçado um paralelo entre o país de hoje e o cantado por ele. A reportagem percorreu 15 municípios de Pernambuco, da Bahia, do Ceará e do chamado Grande Norte de Minas, que incluem o Vale do Jequitinhonha e o do Mucuri.
É bom frisar que parte do Norte do estado pertenceu, há quase dois séculos, à província da Bahia, o que explica as semelhanças climáticas e socioeconômicas da região com o Nordeste. Em muitas cidades, o progresso sonhado por Gonzaga não é mais utopia.