Aplicativo de táxi só para mulheres chega a Belo Horizonte

Novidade será lançada em janeiro e conta com motoristas mulheres para atender o público feminino. Segurança contra assédio é aposta para atrair clientes


Euller Júnior/EM/D.A Press

Enquanto cresce o número de denúncia de assédio e desrespeito às mulheres em serviços como Uber e táxi das principais capitais do Brasil e de outros países, um novo aplicativo promete chacoalhar o já polêmico mercado de transporte particular em Belo Horizonte. Voltado para atender a clientela feminina, o FemiTaxi é um programa de táxi com motoristas mulheres e que só aceita chamada feita por outras mulheres, no intuito de protegê-las do assédio e das atitudes machistas que parecem estar longe do fim. A frota começa a rodar em Belo Horizonte no mês de janeiro e promete ser, além de uma segurança às passageiras, uma carta na manga na corrida contra o Uber.

A novidade chegou primeiro em São Paulo, em 1º de dezembro deste ano e já está com excesso de demanda na capital paulista, o que pode ocorrer também em BH, conforme preveem os responsáveis. E não sem motivos. Uma pesquisa feita em São Paulo, pela 99Táxi com 60 mil mulheres, mostrou que 56,5% delas se sentem mais seguras em pegar táxis conduzidos por mulheres, muito por conta do medo do assédio.

E foi justamente o mal comportamento de alguns homens que impulsionou a criação da FemiTáxi. De acordo com o empresário Charles-Henry Calfat Salem e CEO da empresa, a ideia do novo serviço surgiu há dois anos, depois que ouviu das suas amigas queixas sobre motoristas. “Elas contavam que havia condutores que faziam comentários inadequados e desagradáveis. Foi aí que pensei: por que não fazer um aplicativo de táxi só para elas?”, conta. Na época, Salem não tinha muita experiência na área tecnológica e apenas registrou a empresa.

Este ano, a ideia do FemiTaxi saiu do papel e ganhou mais força, depois que muitas mulheres passaram a denunciar nas redes sociais o assédio de motoristas, tanto de táxi quanto de Uber. Diante da realidade, a demanda pelo aplicativo em São Paulo começou antes mesmo dele entrar efetivamente no mercado. “Contamos com 100 taxistas na capital paulista, mas a procura é tão alta que não estamos conseguindo atender a todas as interessadas”, afirma Salem.

A história pode se repetir em BH. Isso porque nesse universo de condutores o percentual de mulheres ao volante ainda é baixo. Para se ter uma ideia, de acordo com dados da BHTrans, do total de 12.388 taxistas cadastrados na cidade apenas 781 representam a parcela feminina. Em São Paulo, esse percentual é de 10% da frota.

MOBILIZAÇÂO


Mas, diante de um mercado promissor no qual há mais demanda do que oferta, um grupo de taxistas de BH já está contando os dias para o aplicativo chegar por aqui. “Li sobre ele nas redes sociais e me interessei. Entrei em contato com os responsáveis, e eles nos disseram que só viriam a BH se conseguíssemos um grupo com cerca de 60 taxistas”, conta Luciana Fortes, que trabalha há 17 anos com táxi na capital mineira.

Em três dias, Fortes e a colega de trabalho Helena Rocha, há 20 anos na profissão, conseguiram montar um time de 60 condutoras de Belo Horizonte, o que surpreendeu o empresário e serviu de termômetro para o negócio. “Estamos impressionados com o interesse delas e apostamos que em BH o sucesso pode ser maior do que em São Paulo”, diz Salem. Tamanho interesse fez com que Belo Horizonte, que seria talvez a terceira cidade a receber o serviço, se tornasse a segunda, passando na frente até mesmo do Rio de Janeiro.

Divulgação


COMO FUNCIONA


Como qualquer aplicativo, o Femitáxi é usado por meio do smartphone e a única diferença é que o atendimento é exclusivo para elas. O objetivo, segundo a empresa, é dar a elas conforto e bom atendimento. Como todos os outros programas para transporte particular, as passageiras poderão avaliar as motoristas e aquelas com notas baixas serão excluídas do programa.

Uma outra particularidade é que as chamadas só podem ser feitas por mulheres, o que não impede a presença do homem como passageiro. “Ela pode levar o filho, namorado, marido. Mas a chamada tem que ser feita por elas”, explica Salem.


DOCUMENTAÇÂO


A FemiTaxi não aceita qualquer motorista. “Queremos somente taxistas. Primeiro porque apoiamos essa profissão, e segundo porque são profissionais treinadas e com experiência. Não vão fazer qualquer serviço”, explica o empresário. O aplicativo deve chegar em BH ainda na primeira quinzena de janeiro e, esta semana a empresa já está cadastrando as profissionais. A exigência para todas é a documentação necessária atualizada.


CORRIDA COM 10% DE DESCONTO


A princípio, o serviço chega a Belo Horizonte com 10% de desconto na corrida, e, mesmo com preços mais altos do que os praticados pelo Uber, a empresa acredita que a concorrência será boa. “Apostamos que as belo-horizontinas vão pagar pela segurança e conforto. Além do mais, muitas pessoas têm reclamado da qualidade do atendimento dos motoristas particulares”, provoca o CEO da Femitáxi, Charles-Henry Calfat Salem. Para as taxistas interessadas nesse trabalho, o aplicativo é uma forma de recuperar a renda que perderam com a presença do Uber na capital mineira.

“Será excelente, tanto para as clientes quanto para nós”, afirma Helena Rocha, que trabalha há 20 anos como taxista em BH. Ela conta que, com a presença do Uber na capita,  chegou a perder cerca de 50% da renda. Luciana Fortes diz que o impacto para ela foi ainda pior, com 60% de queda. “Estamos vivendo uma crise muito complicada. Eu e meu marido somos taxistas e a nossa situação financeira ficou precária. Embora a qualidade do Uber esteja caindo, o preço ainda é competitivo”, reconhece Fortes.


Túlio Santos/EN/D.A Press


PRECONCEITO

Elas apostam que, além de ofertarem um serviço para uma parcela específica, a experiência como taxistas será um outro diferencial para o competitivo mercado. Outra vantagem será a luta contra o preconceito sofrido por elas no ramo. “Nesses 20 anos na profissão, sofri mais com o julgamento dos colegas do que com os dos passageiros. Há sempre a brincadeira de que devíamos estar pilotando fogão”, conta Helena Rocha.

Ela diz também que, quando as passageiras percebem que há uma mulher ao volante, fazem festa. “Elas adoram. Ficam mais à vontade e se sentem seguras”, diz. Fortes concorda e diz que esse tipo de comportamento é mais comum entre as jovens, porque as mais velhas, geralmente, não gostam de mulheres na direção. “De qualquer forma, será uma carta na manga contra tudo que está aí”, espera Fortes. (LE)


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