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Estado de Minas NA ERA DO MEDO

Americanos passaram a conviver com os efeitos dos atentados de 11 de setembro

A sombra do extremismo se projeta sobre o globo a partir das ruínas das Torres Gêmeas do WTC. Governos e cidadãos vivem sob o peso da vigilância constante e das restrições impostas às liberdades individuais


postado em 08/09/2011 15:30 / atualizado em 09/09/2011 08:51

Obama com bombeiros do batalhão que perdeu 15 homens nos ataques(foto: KEVIN LAMARQUE/REUTERS)
Obama com bombeiros do batalhão que perdeu 15 homens nos ataques (foto: KEVIN LAMARQUE/REUTERS)
Os departamentos de defesa ganharam mais recursos, órgãos de controle surgiram para reforçar a segurança interna e até os direitos civis, considerados anteriormente invioláveis em várias nações e ostentados como pilares dos Estados Unidos, foram deixados de lado. Todas essas mudanças em nome de um só objetivo: o combate ao terrorismo. A ameaça, que ganhou força pelo mundo afora depois dos atentados às Torres Gêmeas e ao Pentágono, tornou-se prioridade global e passou a frequentar a agenda dos encontros entre chefes de Estado e de governo. No entanto, as alterações não afetaram somente os líderes mundiais. A preocupação chegou às ruas, e ao longo da década os cidadãos comuns passaram a conviver com os efeitos do atentado.

Nos EUA, a desconfiança e o receio de novos ataques fizeram com que o governo buscasse agir de forma rápida. Em outubro, o presidente George W. Bush assinou o Patriot Act (Lei Patriótica), que autoriza ações mais rígidas contra suspeitos de terrorismo e recebeu muitas críticas dos defensores dos direitos civis. A abordagem radical, porém, foi considerada legítima pela Casa Branca. As precauções com a autodefesa, e as consequentes restrições das liberdades individuais, se misturaram a uma paranoia generalizada.

O professor de direito Stephen L. Carter, da Universidade de Yale, identifica mudanças ao longo dos anos, com períodos de maior discussão sobre o que aconteceu na tentativa de entender os motivos da tragédia. Principalmente, as respostas e ações do governo para tentar mudar o cenário mundial que propiciou o terrorismo antiamericano. “Mesmo com a queda dos regimes no Afeganistão e depois no Iraque, continuamos enfrentando uma guerra ao terror. Já nos cansamos das guerras, mas nas conversas, seja nos câmpus universitários, seja nas mesas de jantar, ainda estão presentes as questões e os receios sobre as ações pós-atentado”, explica.

Em menos de dois anos, uma série de medidas já deixava clara a direção geral do combate ao “inimigo externo”: a criação de um novo organismo responsável pela defesa civil; a designação dos tribunais militares para julgar estrangeiros acusados de terrorismo, com instrumentos de defesa consideravelmente limitados; e a permissão de medidas “especiais” para tratamento de imigrantes considerados suspeitos.

Mundo novo Para o professor Jorge Lasmar, do Departamento de Relações Internacionais da PUC Minas e especialista em terrorismo pela London School of Economics and Politics Science, as mudanças implantadas ao longo desses 10 anos afetaram todo o mundo, ainda que em graus diferentes, e acabaram incorporadas ao cotidiano das pessoas comuns. “Práticas que surgiram a partir do 11 de Setembro como excepcionais acabaram institucionalizadas. E não só nos EUA, mas em vários países que aceitaram as diretrizes da guerra ao terror”, explica.

Quando é solicitado a tirar os sapatos antes de passar pelo detector de metal, o passageiro que embarca em aeroportos norte-americanos percebe que os atentados de 2001 são bem mais que uma lembrança. A norma foi estabelecida em dezembro daquele ano, por decreto do Departamento de Segurança Interna, dias depois que o britânico Richard Reid tentou acionar explosivos escondidos no sapato durante um voo de Paris a Miami. Foi uma das várias medidas exigidas pela Casa Branca, ainda na era Bush, para reforçar a segurança na aviação comercial. Além de atravessar o aparelho de controle descalços, os passageiros tiveram de se acostumar com novas fases de inspeção, como o scanner corporal, o exame das bagagens de mão por raios X e, caso o detector indique qualquer item suspeito, a revista manual.

Para o especialista em direito corporativo Jonathan Macey, da Universidade de Yale, os ataques do 11 de Setembro afetaram os EUA de várias formas, e as consequências permaneceram ao longo dos anos. “Do lado econômico, os efeitos são mais fáceis de medir. Já no lado psicológico, os efeitos internos e em escala mundial são ainda mais sérios e duradouros. Percepções sobre como conseguir manter a segurança interna passaram por mudanças, que continuam acontecendo, tanto nas regras como nas relações interpessoais.”

Uso político

A ameaça de novos atentados, por vezes classificados como iminentes, chegou a ser usada na campanha eleitoral de 2004, três anos depois dos atentados. A propaganda de Bush, candidato à reeleição em plena guerra contra “o pior inimigo” já enfrentado pelos EUA – incluída a invasão do Iraque, em 2003 –, esgrimia o lema de que o comandante-em-chefe não poderia ser mudado antes de a missão ser cumprida. O argumento convenceu a maioria dos eleitores. Na eleição presidencial seguinte, a confirmação de que Saddam Hussein não dispunha de armas de destruição em massa pesou contra o governo Bush.

A oposição democrata apontou os gastos com as ações militares no Oriente Médio como desnecessários e oportunistas. E Barack Obama, o candidato anti-Bush, foi o vencedor. “Com a chegada de Obama ao poder, a expectativa era de que a situação mudaria. Mas, apesar do discurso mais brando, as práticas extremas contra o terrorismo são as mesmas executadas anteriormente. A prisão de Guantánamo não foi fechada, como prometido na campanha, os prisioneiros continuam com direitos humanos limitados”, afirma Lasmar.

A política externa também passou por alterações, com maior pressão para que os governos aliados adotassem estratégias afinadas com as necessidades de segurança dos EUA. A coordenação de ações de inteligência e prevenção nem sempre foi bem-vista pelas nações envolvidas na luta contra o terrorismo, voluntariamente ou não. “Conhecemos hoje documentos que mostram como os países aliados ajudaram no transporte de prisioneiros, sendo no mínimo coniventes com situações de tortura. Também foram comuns mudanças nos sistemas de vistos e, no caso europeu, as regras para extradições ficaram mais fáceis e flexíveis”, diz o professor.

Em julho do ano passado, o Departamento de Segurança Interna dos EUA lançou a campanha If you see something, say something (“se você vir alguma coisa, diga alguma coisa”), com o objetivo de aumentar o alerta da população para qualquer atividade considerada suspeita. Propagandas veiculadas na TV e nos jornais enfatizam a importância de uma vigilância constante no dia a dia e incentivam os cidadãos a avisarem as autoridades sobre ações incomuns, seja na vizinhança, seja em locais públicos. “A segurança nacional começa com a segurança local, e todos somos responsáveis por garanti-la”, diz a mensagem.

 

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