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Estado de Minas

Menos Washington, mais Nova York

Diogo Costa é professor de Política Internacional do Ibmec-MG e coordenador do OrdemLivre.org junto à Atlas Foundation de Washington


postado em 08/09/2011 15:14 / atualizado em 09/09/2011 08:25

"O ocidente vencerá o terrorismo da mesma forma que venceu o comunismo" (foto: Arquivo pessoal)
Pouco antes da eleição que daria um segundo mandato a George W. Bush, a Al Qaeda divulgou um vídeo para a imprensa internacional. No vídeo, Osama Bin Laden afirmava que ele e seus colaboradores “sangraram a Rússia por dez anos até levá-la à falência e ter que se render à derrota”. Da mesma maneira, continuava, iriam “fazer a América sangrar copiosamente até o ponto de quebra”.

Antes de sua final dissolução em 1991, a União Soviética havia passado a década de 1980 guerreando grupos jihadistas no Afeganistão. Osama bin Laden lutou do lado afegão. Exagerando no impacto econômico da guerra no já falido regime comunista, bin Laden concluiu que o mujahidin havia causado a queda do império socialista. Passada uma década, ele pretendia fazer o mesmo com os Estados Unidos.

A conclusão de Osama bin Laden estava errada. Os gastos sociais com programas insustentáveis conseguem debilitar muito mais a saúde fiscal do governo americano que os gastos bélicos. Mas, em linhas gerais, sua lógica estava correta. A guerra contra os Estados Unidos era, em análise mais profunda, uma guerra econômica. “Cada dólar da Al Qaeda consegue derrotar um milhão de dólares dos Estados Unidos", dizia bin Laden.

Não foi por acaso que a Al Qaeda mirou o ataque mais ambicioso da sua história contra um símbolo econômico. Simbólico também é o fato de Nova York até hoje aguardar a construção de um substituto ao World Trade Center, enquanto o Pentágono alcançou altitudes nunca antes vistas. A polarização da política americana acabou unindo a irresponsabilidade fiscal do Partido Democrata com a belicosidade do Partido Republicano.

Como resultado, estima-se que Washington já tenha gastado até quatro trilhões de dólares com as guerras no Iraque e no Afeganistão. Para aumentar a segurança doméstica (ou pelo menos sua sensação) foi criado em 2002 o Departamento de Segurança Interna, cujo orçamento anual já chega aos U$55 bilhões. O orçamento do pentágono escalou continuamente durante a última década, atingindo os atuais U$700 bilhões por ano, o dobro de 2001.

É difícil saber se todas essas cifras deixaram os Estados Unidos mais seguros. Certamente deixaram suas finanças públicas em situação mais precária. Nessa década de guerra assimétrica, os dólares da Al Qaeda de fato derrotaram alguns milhões de dólares americanos. A esperança nos Estados Unidos polarizado depende do Partido Democrata aceitar que uma economia robusta deve ser menos pródigas nos seus gastos e do Partido Republicano conceder a necessidade de cortes no setor de defesa e nas operações militares. O atual debate público sobre austeridade fiscal em todo o ocidente ainda não produziu os devidos resultados. Mas pelo menos, parece estar havendo um reajuste no foco.

A lição de dez anos de guerra ao terror é que os Estados Unidos prestam um melhor serviço à própria segurança como potência econômica do que como potência militar. A contribuição americana para a primavera árabe no oriente médio, por exemplo, não veio da CIA. Veio do Facebook. A tecnologia ocidental é mais poderosa que exércitos em derrotar governos e grupos inimigos. Assim como as redes sociais conseguem minar o poder autocrático dos ditadores, também o avanço de tecnologias de energia teria maior capacidade de diminuir o poder político advindo do petróleo.

Melhor seria para os Estados Unidos que os trilhões da economia americana tivessem ido para pesquisa e desenvolvimento da energia solar do que para a indústria bélica. E melhor seria para o Brasil se os gastos militares tivessem sido utilizados no comércio internacional. Possivelmente os Estados Unidos não teriam perdido para a China a posição de principal destino das exportações brasileiras.

O ocidente vencerá o terrorismo da mesma forma que venceu o comunismo: mostrando que uma sociedade aberta realiza os anseios da humanidade melhor do que qualquer sistema fechado. Bin Laden tinha razão quanto à importância econômica do terrorismo. Está na hora de conter o sangramento econômico ocidental. As políticas públicas que melhor garantirão nossa segurança serão aquelas que conseguirem revitalizar as economias ocidentais e reformar o modelo do welfare state. A alternativa dos Estados Unidos para os jovens expostos ao jihadismo pela próxima década não deve ser Washington. Deve ser Nova York.

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