Jornal Estado de Minas

Emprego

Empresas investem no jovem aprendiz

Gilson Pereira Gomes, supervisor de RH da Loja Elétrica, diz que muitos supervisores da empresa começaram como aprendizes - Foto: Loja Elétrica/Divulgação
O mercado de trabalho em crise é sempre mais cruel com os jovens. Eles são a parcela de trabalhadores que mais sofre. No entanto, se pesa contra a inexperiência, investir nesse futuro profissional é ter visão de futuro e apostar no retorno de um público ávido por aprendizagem. Para estimular a contratação e assegurar uma boa relação entre empregado e empregador, o Ministério do Trabalho divulgou a nova Instrução Normativa (IN SIT 146, de 25/7/2018) e Portaria (634, de 9/8/2018), com mudanças relativas ao Programa de Aprendizagem que terá vigência para as novas contratações.

“As adequações foram feitas para cumprir não somente as novas instruções normativas, mas também pela preocupação que temos em tornar o processo de aprendizagem mais produtivo para todos os envolvidos. Acreditamos que, dessa forma, podemos apresentar um aprendiz melhor preparado, desempenhando papel mais significativo na sua jornada, beneficiando consequentemente a empresa”, destaca Ruy Leal, superintendente da Via de Acesso, organização da sociedade civil sem fins lucrativos.

Para ele, “as mudanças desse processo trazem maior respaldo para que o jovem possa atender às demandas na rotina de trabalho nas empresas”. 

Com mais de duas décadas dando chance para quem está começando, a Loja Elétrica, empresa mineira especializada na distribuição de materiais elétricos, fundada em 1947, é modelo no programa Jovem Aprendiz do Ministério Público do Trabalho (MPT). A escolha levou em consideração a oportunidade de emprego que a empresa oferece para aqueles que se destacam ao longo do contrato de aprendizagem, de acordo com vagas abertas em seu quadro de funcionários. Atualmente, são 57 jovens alocados nas áreas de almoxarifado, administrativo e vendas.

Guilherme Medina, diretor de RH da Líder Aviação, diz que além do programa com jovem aprendiz, há também o de estágio e trainee - Foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press 12/03/2013
 
Gilson Pereira Gomes, supervisor de RH da Loja Elétrica, destaca que hoje, a empresa é referência, porque cumpre a cota integralmente e aproveita a mão de obra para compor seu quadro.



Gilson conta que a empresa faz uma pré-seleção e encaminha esse jovem para o Senac.
O foco são os candidatos de 14 a 18 anos.

REGRAS E NORMAS Para Gilson Gomes, o desafio de lidar com esse jovem é falta de preparo. Ou seja, há dificuldade de como se portar em um ambiente corporativo. “Nós o inserimos em uma área e ele é acompanhado por um tutor, conhece seus pares, tem contato com o supervisor, gerência e, aos poucos, incorpora a postura de um colaborador. Não podemos esquecer que ele está em processo de aprendizagem.” O supervisor reconhece que é preciso administrar deslizes, mas todos são ensinados a “cumprir regras, normas, horários, hierarquia e o ofício no qual está inserido. Ao encerrar o contrato, nosso foco é continuar com esse jovem, que já conhece a cultura da empresa e a filosofia de trabalho. Na realidade, é vantajoso que ele fique. Significa menos custos para abrir processo de seleção e contratar fora”.
 
Os jovens são avaliados ao longo do programa e todos têm a chance de ser efetivados.
Com anos de experiência, Gilson Gomes confirma diferenças nesta geração. “Noto que o perfil é diferente, mais disperso e, por isso, temos de fazer um trabalho mais efetivo, acompanhar de perto, estar mais ligado, porque queremos que seja enriquecedora e, ao mesmo tempo, independente para cada um. Estamos sempre por perto, mas queremos que tenham atitude, se interajam. Por outro lado, são jovens que aprendem com facilidade, são antenados com a tecnologia, questionam mais, não se convencem com qualquer argumento, o que também é importante e até mudou a nossa forma de trabalhar. O aprendizado tem via de mão dupla.”

FIQUE POR DENTRO 

Nova instrução para o Programa Jovem Aprendiz

Ruy Leal, superintendente da ONG Via de Acesso, diz que, anteriormente, as mudanças eram apresentadas apenas como sugestões. Porém, a partir de agora, tornam-se condições obrigatórias ao programa, de acordo com o Ministério do Trabalho.

– O Ministério do Trabalho determina que, no mínimo, 10% da carga horária teórica seja aplicado no início do contrato na entidade formadora. Isso é, depois da contratação, o jovem deverá comparecer para capacitação durante as duas primeiras semanas, e somente depois vai para a empresa, para iniciar as atividades práticas. Para essa exigência é importante ressaltar que, nesse início, o aprendiz do Via de Acesso terá conteúdos como informática, marketing pessoal, legislação trabalhista, saúde e segurança do trabalho.

– Diante dessa mudança na carga horária inicial, a data de início do contrato do aprendiz passará a ser definida pela entidade formadora, nesse caso, pelo Instituto Via de Acesso.
As aberturas de turma deverão ocorrer na primeira e terceira semanas de cada mês, ou de acordo com a demanda de contratação de jovens.

– Essas novas diretrizes impactarão quanto aos dias e horários do curso de aprendizagem, pois estes serão definidos pela entidade formadora, sem possibilidade de mudanças posteriores de turmas, já que essas informações serão obrigatoriamente registradas no portal Mais Aprendi ,do Ministério do Trabalho.

– Quanto ao contrato de aprendizagem a partir de agora, deverá ser emitido pela entidade formadora, pois ele conterá, além das informações já utilizadas atualmente, outras, como calendário de aulas, relação de atividades teóricas, relação das atividades práticas (de acordo com a Classificação Brasileira de Ocupação (CBO)), horário de trabalho e endereço de trabalho.

DICAS PARA O JOVEM APRENDIZ*
 
– Seja organizado com as tarefas propostas no dia a dia
– Não tenha medo de questionar o que não entendeu. É importante ter certeza de que segue as orientações corretas
– É indispensável ser criativo, propondo novas maneiras de fazer as tarefas. Não é porque você é novo na empresa que sua opinião não será avaliada
– Gerencie o seu tempo para conseguir se desenvolver nos estudos e também na empresa
– Procure se comunicar de forma clara e assertiva, estabelecendo empatia com as pessoas
– Esteja sempre aberto a ouvir e a aceitar críticas que proporcionem desenvolvimento e aprendizado
– Seja respeitoso, cordial, otimista e simpático
– Cuide e preserve os espaços de uso coletivo
– Identifique suas potencialidades, crie uma relação de aceitação e respeito consigo mesmo
– Demonstre sempre interesse e curiosidade pelo desenvolvimento das suas atividades
– Seja discreto na hora de fazer comentários e procure não invadir o espaço dos outros
– Fique atento ao seu comportamento

OS BENEFÍCIOS DO JOVEM APRENDIZ*
 
– Tem direito a Carteira de Trabalho assinada
– Recolhimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS)
– Férias equivalente ao período trabalhado
– 13º salário
– Há empresas que oferecem vale-refeição e transporte

*Fonte: www.vagas.com.br


SEDE DE CONHECIMENTO

Jovens aprendizes do Apoio Mineiro/Grupo Super Nosso - Foto: Vanderleia dos Reis Martins/Divulgação
 
Com as portas abertas há mais de três décadas para os jovens, a Líder Aviação tem atualmente, em seu quadro de colaboradores, 41 futuros profissionais, entre jovens aprendizes, com idade entre 14 e 24 anos, e adolescentes trabalhadores, entre 16 e 18 anos. Guilherme Medina, diretor de RH da empresa, conta que eles estão distribuídos nas mais diversas áreas, principalmente, a administrativa, diante de uma organização com identidade bem técnica. “Ocupam funções, lidando com material de logística, suprimentos, área financeira e RH entre outras”. 
 
Guilherme Medina destaca a parceria da Líder Aviação no programa de aprendizagem desenvolvido pelo Centro Salesiano do Adolescente Trabalhador (Cesam), instituição não governamental sem fins lucrativos e filantrópica, mantida pelos salesianos da Inspetoria São João Bosco (ISJB), que colabora na formação de jovens aptos a transformar a realidade em que vivem. “O Cesam já faz o filtro e o treinamento introdutório, que são muito bons. Depois, o jovem é encaminhado para a Líder, onde passará por todo o processo de recrutamento e seleção, com entrevistas e avaliação do solicitante de cada setor, que analisam o perfil do jovem de acordo com a demanda.”
 
Se, para alguns, há mais aspectos conflitantes do que estimulantes, nos jovens da chamada geração millennials (ou geração Y – nascidos entre 1980 e 2000), para Guilherme Medina eles se apresentam com características desafiadoras. A alardeada dispersão, facilidade para mudar de emprego, poder de argumentação, altamente questionadores e a forma como interagem com a tecnologia (a maioria não vive sem as ferramentas) em nada atrapalham. “Antes de mais nada, precisamos ter em conta que são jovens, inexperientes, imaturos, muitas vezes de diferentes classes sociais e, portanto, temos de ter percepção e sensibilidade no trato. Acredito que, se bem direcionados e conduzidos, estão sim, atentos e interessados em se aculturar.”
 
Conforme Guilherme Medina, saber trabalhar com esse jovem vai depender da gestão e da educação da empresa.
“Percebo que eles estão abertos ao aprendizado e ao desenvolvimento. Claro, existem os mais dispersos, pode ter um ou outro mais resistente quanto ao cumprimento de normas, como horário, a tecnologia pode ser uma distração, no entanto, se bem orientados, vão absorver o necessário. E todo o processo é acompanhado também de perto pelo Cesam.”
 
A Líder trata o fator humano como fundamental em seus negócios, valorizando-o em seu dia a dia. Entendem que seus colaboradores são os verdadeiros responsáveis pelo sucesso da empresa. Prova desse comprometimento é o aproveitamento em seu quadro de muitos jovens aprendizes. “A empresa dá oportunidade e temos exemplos colaboradores com 30, 26, 21 anos de casa e alguns responsáveis por departamentos, assim como com um, quatro, seis anos de empresa que começaram pelo programa e ganham uma carreira e uma profissão.”
 
Guilherme Medina destaca que o programa da Líder é uma oportunidade de conhecer o negócio e ganhar conhecimento. Ele cita o comprometimento dos pais. “Merecem elogio, porque se envolvem, mostram visão de futuro e preocupação com a formação dos filhos como ser humano e cidadãos. Temos uma integração bacana, eles nos procuram para agradecer ou pedir orientação. Estamos sempre abertos”.

MAIS OPORTUNIDADES Além do programa com jovem aprendiz, a Líder também tem o de estágio, com o objetivo de possibilitar o aprendizado acadêmico, com a aquisição de experiência profissional por parte dos estudantes de cursos técnicos e superiores; o de trainee, que foca em identificar talentos com formação, qualificação e perfil diferenciados, com potencial de desenvolvimento para atender às necessidades atuais e futuras da empresa, colaborando efetivamente para os resultados da empresa; e o de formação técnica, criado em 2005, que consiste na contratação de estagiários, com o objetivo de capacitar futuros profissionais com habilitação técnica (Grupo Moto Propulsor (GMP), célula ou aviônicos) para atuar nas áreas de manutenção da Unidade de Operação de Helicópteros.
Estão aptos a participar do programa pessoas com, no mínimo, 18 anos, ensino médio completo e curso técnico concluído em mecânica, eletrônica, mecatrônica ou elétrica. Os candidatos devem ter disponibilidade de horário integral para fazer o curso e o estágio, disponibilidade para morar nas bases da Líder onde estarão alocadas as vagas, além de poder mudar depois da conclusão do programa.


APOSTA NA DIVERSIDADE

Franciely Costa Gomes, de 17 anos, é repositora de mercadorias e diz que todos os dias aprende algo novo - Foto: Arquivo pessoal
 
De olho nos jovens de 16, 17 anos, o Apoio Mineiro, grande rede atacadista de supermercados, contrata 5% da cota de 15% de aprendizes para a empresa, com a possibilidade de cumprir o contrato de um ano. “Temos parceria com o Senac e, de acordo com o desenvolvimento, cada um tem a chance de se tornar um colaborador. Temos um número considerável, já que, dependendo da loja, os 5% significam 15 jovens”, explica Flávia Oliveira, gerente de recrutamento.
 
Flávia Oliveira conta que os jovens, normalmente, ocupam cargos nos mais diversos serviços demandados dentro de um supermercado: reposição, precificação de mercadoria, controle de validade, organização de estoque, auxiliar de embalagem, enfim, “aprendem a rotina diária”.
 
Conforme a gerente, diversidade é palavra-chave no Apoio Mineiro e a proposta é equilibrar trabalhadores de todos os perfis. “Nossa maior atenção é, antes de mais nada, o perfil comportamental, até mais que outras exigências. Acreditamos que, para o jovem evoluir e nos dar retorno, é fundamental que ele se identifique com o setor do comércio, que saiba lidar com as pessoas, seja cordial com o cliente e, principalmente, tenha interesse pelo segmento.”
 
Flávia conta que, além da função de seleção do RH, o jovem é acompanhado de perto pelo gestor da loja, que lhes apresenta desafios. “Por isso, buscamos jovens que queiram participar do programa porque é importante pra ele, e não só porque seus pais querem. Quando ele busca uma ocupação, o resultado é mais positivo. Do contrário, nem sempre sua formação se sustenta. A tendência é não chegar ao fim do contrato. Se ele vê sentido, tudo funciona melhor.”
 
Para Flávia, o jovem no Apoio Mineiro recebe suas atribuições e, “aqueles com perfil mais disperso, procuramos engajá-los e responsabilizá-los para que se sintam parte do processo, da produtividade e do resultado. Eles precisam se sentir desafiados. Percebemos que gostam de um ambiente interativo, não lidam tão bem com a rotina da sala de aula, por exemplo, preferem a prática. Por isso, se o Senac nos avisa que a assiduidade está em falta, procuramos mostrar a importância de cada etapa do processo de aprendizagem”.

MÚSICA A estudante Franciely Costa Gomes, de 17 anos, está há três meses na empresa. É o seu primeiro emprego. “Sou repositora de mercadorias. Uma prima já trabalhava aqui, mas em outra loja, e me avisou do processo de seleção e encaminhei meu currículo. Foi bacana ser selecionada, é uma experiência rica porque todos os dias faço descobertas, fico a par de algo novo. E os mais experientes estão prontos a nos ajudar.”
 
Quanto ao futuro, Franciely não sabe o que o destino lhe reserva, mas ela pretende buscar uma carreira no mundo da música. “Quero ser professora de música, dar aulas. É o que amo desde criança e toco vários instrumentos: teclado, bateria, violão, flauta e contrabaixo.” 

MANUAL DA APRENDIZAGEM*

De acordo com o manual publicado pelo Ministério do Trabalho, edição revista e ampliada em 10 janeiro de 2014:

O que é o contrato de aprendizagem?
É o acordo de trabalho especial, ajustado por escrito e por prazo determinado não superior a dois anos, em que o empregador se compromete a assegurar ao aprendiz, inscrito em programa de aprendizagem, formação técnico-profissional metódica compatível com o seu desenvolvimento físico, moral e psicológico. Em contraponto, o aprendiz se compromete a executar com zelo e diligência as tarefas necessárias a essa formação. A validade do contrato de aprendizagem pressupõe anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social, matrícula e frequência do aprendiz na escola, caso não tenha concluído o ensino fundamental. Além disso, é necessária a inscrição em programa de aprendizagem desenvolvido sob a orientação de entidade qualificada em formação técnico-profissional metódica.

O que é o programa de aprendizagem?
É o programa técnico-profissional que prevê a execução de atividades teóricas e práticas, sob a orientação pedagógica de entidade qualificada em formação técnico-profissional metódica e com atividades práticas coordenadas pelo empregador. As atividades devem ter a supervisão da entidade qualificadora, em que é necessário observar uma série de fatores, como o público-alvo, perfil socioeconômico, objetivos, conteúdos e potencial de aplicação no mercado de trabalho.

Quem pode ser aprendiz?
O aprendiz é o adolescente ou jovem entre 14 e 24 anos que esteja matriculado e frequentando a escola, caso não tenha concluído o ensino médio, e inscrito em programa de aprendizagem (artigo 428, caput e § 1º, da CLT). Caso o aprendiz seja pessoa com deficiência, não haverá limite máximo de idade para a contratação (artigo 428, § 5º, da CLT).

*Fonte: www.trabalho.gov.br/images/Documentos/Aprendizagem/Manual_da_Aprendizagem2017.pdf


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