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Estado de Minas Det na Estrada

Da Engenharia para Medicina: como eu conquistei minha aprovação

Como a estudante Melina Cambraia conquistou sua entrada no curso de MEDICINA na UFLA.


10/11/2020 14:39

Quando o pessoal do Determinante entrou em contato comigo, me pedindo para participar desse projeto, eu fiquei muito pensativa: afinal, o que eu deveria falar aqui? O que eu posso fazer para acrescentar alguma coisa na vida de quem está lendo?

Antes de mais nada, acho que devo deixar claro que a medicina sempre foi meu grande sonho. Desde que me lembro, sempre que a questão sobre o que ser no futuro surgia, a minha resposta era certeira: médica! No entanto, como fica claro neste texto, o caminho pra chegar à matrícula em medicina foi bem mais complicado do que eu poderia imaginar.

Acho importante falar primeiro sobre minha vida escolar. Eu nasci e fui criada em Brasília, onde o foco para o vestibular sempre esteve todo voltado para a Universidade de Brasília (UnB), então cresci buscando entrar nessa instituição tão renomada e me esforcei muito para atingir esse objetivo. Porém, alguma coisa faltou, porque, em 2013, quando o resultado do PAS saiu – a UnB tem um programa de avaliação seriada para o qual ela reservava metade das vagas na época – minha média não foi suficiente para entrar em medicina, então, naquele ano, com o resultado do meu ENEM, consegui passar apenas em Engenharia Elétrica na UnB.

Agora, vocês devem estar se perguntando: engenharia elétrica? De onde veio essa ideia? Pois é, eu não sei bem o que aconteceu, mas houve uma junção de fatores. Primeiro, eu sempre tive muita facilidade com exatas e amava física, e, se precisasse fazer outro curso, queria ficar na área de engenharia. Segundo, aconteceu algo que eu acredito que seja muito comum: eu tinha apenas 17 anos e precisava decidir o que eu faria pelo resto da minha vida! Como eu nunca tinha pensado em nada diferente de medicina, comecei a me perguntar se não deveria considerar outras possibilidades e se o curso era, de fato, o que eu queria para minha vida ou se era só “teimosia”.

Comecei a cursar Engenharia Elétrica na UnB no primeiro semestre de 2014, onde fiquei até o meio de 2016 e durante esse período eu cresci muito. Aprendi a estudar, me tornei mais independente e perdi o medo de fazer provas. Fui levando o curso, empurrei um pouco com a barriga, só queria acabar logo para ter o meu diploma. Porém, no meio de 2016, minha vida sofreu uma grande reviravolta: meu pai, que era servidor público, conseguiu ser cedido para a Universidade de Lavras (UFLA). Diante disso, decidi trancar a UnB e me transferir para a UFLA. Assim, no primeiro semestre de 2017 eu comecei a estudar engenharia mecânica em Lavras. Agora, sinto que preciso esclarecer algumas coisas.

A UFLA não tinha engenharia elétrica, a mais “similar” era a mecânica, mas, para cursá-la, é necessário que a pessoa entre em ABI-Engenharias. Na ABI, o aluno “escolhe” uma entre quatro opções de engenharia e, durante o curso, opta pelas matérias específicas da engenharia pretendida. No entanto, apenas no 6º semestre ele, de fato, consegue saber se vai ser formar na área escolhida, pois há uma seleção dos alunos baseadas numa classificação de acordo com as médias acadêmicas. Se vocês acham isso confuso, preciso dizer que também achei, até porque, quando fiz o processo de transferência, o curso para o qual me transferi era Engenharia Mecânica e não a ABI. Pra completar, tive muita dificuldade de adaptação em Lavras e ainda acabei sendo considerada “caloura”, o que me atrasou mais de 3 períodos. Essa soma de fatores me levou a um quadro crítico: fui diagnosticada com depressão em 2017 e aí percebi que precisava tomar outra decisão muito difícil: tive que abandonar o curso. 
Melina cursando medicina na UFLA e no trote quando aprovada.(foto: Arquivo Pessoal.)
Melina cursando medicina na UFLA e no trote quando aprovada. (foto: Arquivo Pessoal.)

Tomar essa atitude foi muito dolorido para mim, mas decidi que prestaria o ENEM em 2017 visando entrar em medicina. Naquele ano, a UFLA estava repondo greve, então nossas aulas tinham terminado no final de agosto (tive apenas setembro e outubro para me preparar para o exame). Como já era esperado, minha nota ainda não era suficiente para entrar no curso, mas eu sabia que poderia conseguir se me preparasse melhor. Tive uma conversa longa e séria com meus pais sobre meus planos para o futuro. Disse que queria sair mesmo da engenharia e entrar em um cursinho pré-vestibular que realmente me preparasse para conseguir a nota necessária no ENEM. Eu queria ter certeza de que estaria estudando em um lugar que me proporcionaria tudo que fosse preciso para alcançar o que eu tanto almejava e percebi que precisava ir para Belo Horizonte em busca de um cursinho competitivo. Aí, nessas pesquisas sobre pré-vestibulares, ouvi falar sobre o Determinante, e, quando cheguei ao prédio da Unidade II, já me apaixonei e soube que era lá que eu queria ficar.

Em 2018 eu me redescobri, tive que aprender a lidar com minha decisão porque sempre me machucou muito saber que todos os planos que eu fazia desde os 12 anos de idade não aconteceriam. Eu estava estudando para entrar em um curso de 6 anos, além do período de residência né? Conheci muitas pessoas, a maioria dos meus colegas era bem mais nova que eu e isso me fazia sentir um fracasso. Porém, com o passar do tempo, percebi que eu tive coragem. Tanto os professores quanto os outros alunos nunca me julgaram como um fracasso e sim como um exemplo, algo que nem eu mesma enxergava. Na verdade, foi por isso que aceitei esse convite tão especial: pra dizer que nunca é tarde, só nós mesmo sabemos qual é o nosso tempo. Continuando a saga pela busca da medicina, em 2018 minha nota do ENEM subiu muito, mas, ainda assim, não foi suficiente e ai a frustração bateu de novo. Eu tinha estudado muito durante todo o ano, o que eu tinha feito de errado afinal? O fato é que, em 2019, eu consegui convencer meu pai a me manter no Det por mais um ano, então aquela era minha última chance em BH. 

Em 2019, senti que comecei o ano melhor: parecia que, devido à dedicação do ano anterior, minha base na maioria das matérias já era bem consolidada e eu só precisava praticar mais, então estava muito confiante e tinha certeza que tudo daria certo. Até parece né?! No dia 28 de fevereiro de 2019,eu sofri uma queda e quebrei meu úmero direito. Caso você esteja se perguntando, o úmero é esse osso super grosso do braço, que se conecta ao ombro e ao cotovelo, e que, definitivamente, não foi feito para ser quebrado (mas eu consegui!). No caso, escapei por pouco de ter uma fratura exposta que poderia ter afetado algum nervo da mão direita. Eu consegui “fugir” da cirurgia por um triz, mas ainda assim o saldo da minha proeza foi bem alto: 1 mês com o braço imobilizado desde a metade do antebraço até o ombro e mais 2 meses parcialmente imobilizado. Por isso, fiquei em casa até tirar o gesso e, quando retornei às aulas, não podia escrever (eu não fazia redações nem exercícios, só conseguia ouvir as aulas e ler até abril). Depois de tudo, confesso que comecei a perder as esperanças porque tinha perdido muitos meses sem estudar, imaginei que isso já seria o suficiente para me tirar da disputa pela minha tão sonhada vaga. Porém, nunca desisti: voltei pra aula mais determinada do que nunca, consegui montar um plano de estudos ótimo com o auxílio de um professor muito querido, passei tardes inteiras no Det estudando e indo atrás dos monitores, mudei minhas estratégias de estudos e participei de todos os simulados possíveis.
 
Em janeiro de 2020, quando o SISU fechou, veio a tão sonhada aprovação: consegui entrar na primeira chamada na Unimontes, em Montes Claros, e fiz minha matrícula. Pouco depois veio minha maior vitória: a aprovação na UFLA! Fiquei muito empolgada porque finalmente iria começar o curso de medicina na federal da cidade em que eu já morava com meus pais, sabia que agora sim tudo ia dar certo. Mas, de novo, a gente não deve comemorar tanto antes da hora né? Logo no começo do período, a UFLA suspendeu as atividades presenciais por tempo indeterminado por causa da pandemia do novo coronavírus. Mais uma vez, meus planos e expectativas foram frustrados pela vida. A UFLA começou com o EAD em 1 de junho de 2020, e o período terminou oficialmente dia 12 de setembro deste ano.
Melina com o pai na UFLA.(foto: Arquivo Pessoal)
Melina com o pai na UFLA. (foto: Arquivo Pessoal)

Vou aproveitar para falar também sobre como foi minha experiência ao cursar medicina EAD. Bom, pra começar eu mal cheguei a ir às aulas presenciais, então ainda não tenho muita base de comparação. Claro que existem receios sobre a qualidade da formação dos estudantes que têm aula à distância, mas ainda assim acredito de coração que todos estão buscando a melhor maneira de mitigar as mazelas causadas por esse vírus. O plano da UFLA é fornecer as aulas práticas perdidas nesses períodos quando as aulas presenciais voltarem, para que haja o mínimo possível de comprometimento na formação dos estudantes. 

Enfim gente, depois de tudo isso, eu espero que vocês tenham entendido o resumo desta minha trajetória louca: ninguém tem controle total da vida, nós sempre estamos à mercê de coisas que podem nos afetar de formas inimagináveis. A vida não é uma linha reta e firme que une os pontos de partida e de chegada, pelo contrário: acredito que seja mais como um novelo de lã emaranhado onde todos os caminhos se cruzam e cabe a nós apenas decidir como vamos encarar os fatos e não, necessariamente, mudá-los. Queria agradecer ao Determinante pelo convite e a todos que leram até aqui!

Fiquem bem, espero que tenham gostado.
 
Depoimento da estudante de Medicina Melina Cambraia Moreira.
Instagram: @melinacambraiam 

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