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Estado de Minas Literatura

Qual o seu tempo?

As relações temporais nas narrativas literárias.


08/09/2020 08:42

“se eu me concentrar num fragmento do tempo/ não é hoje, nem amanhã,/ mas se eu me concentrar num fragmento do tempo,/ agora,/ esse fragmento revelará todo o tempo”. A partir dos versos da escritora portuguesa Maria Gabriella LLansol, é possível depreender a aglutinação das temporalidades, ou também, uma leitura acerca do tempo. Tal fenômeno tem sido discutido há muitos anos no contexto literário por meio de distintas construções e utilizado como temática para a construção de itens que fazem parte do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) exames e vestibulares. 

Professor Marcus Vinícius: a importância do tempo na narrativa literária no Enem e vestibulares.
Professor Marcus Vinícius: a importância do tempo na narrativa literária no Enem e vestibulares.

Desde a literatura grega até a contemporânea, em A Odisseia ou em Mayombe, temos relações temporais que visam ressignificar, por meio dessa arte, tal marcador de durações. Muitos autores buscaram criar narrativas ou poemas cuja temporalidade remetia o leitor a instantes de puro estranhamento, já outros buscaram criar noções de simultaneidade entre diferentes momentos. E, há, ainda, aqueles que buscaram inverter a sequência natural de acontecimentos – a cronologia. No caso da literatura brasileira, podemos nos referir aos contos fantásticos de Murilo Rubião, à rapsódia Macunaíma, de Mário de Andrade, e ao célebre Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis como textos narrativos em que o leitor tem a oportunidade de se deparar com o tempo construído enquanto recurso narrativo. No texto poético, destacamos o tempo da memória partir de poemas que resgatam a infância ou tecem projeções a partir do sonho, da fantasia. Destacamos, para essas temáticas, poetas como Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e Cecília Meirelles.

Macunaíma, o herói sem nenhum caráter: o livro reúne uma vasta pesquisa da linguagem, das práticas narrativas e das músicas, das falas, ditos, contos e cantos populares do Brasil.(foto: Reprodução)
Macunaíma, o herói sem nenhum caráter: o livro reúne uma vasta pesquisa da linguagem, das práticas narrativas e das músicas, das falas, ditos, contos e cantos populares do Brasil. (foto: Reprodução)

É importante destacar que cada autor, ao utilizar o tempo, dá a ele uma caracterização, e cabe ao leitor decifrar esse instante revelador. Nesse contexto, é comum nos exames e vestibulares a presença de itens que são construídos com a finalidade de medir a atenção do leitor (vestibulando) em relação a esse tópico. Alguns aspectos básicos são importantes para captar tal recurso: o uso de certas conjunções, certos advérbios e os tempos verbais – que marcam continuidade ou descontinuidade temporal. Há, no uso desses procedimentos linguísticos, pistas para se captar projeções, digressões, bem como as progressões temáticas, por exemplo.

 

Ademais, tem se tornado recorrente nessas provas o uso de letras de música, gênero este que também traz um significativo repertório de utilização do tempo, seja na formulação dos versos, seja no tema. Ao se analisar a canção brasileira, ele já foi tratado como “rei”, “mano velho”, “amigo”, “moderno”. Devido ao seu caráter tão singular, foi escrita uma “oração”, uma “resposta” a ele, e, também, alguém foi “contra” esse fenômeno tão presente no cancioneiro popular. O importante é que “o tempo não para”, mas ainda dá tempo de viver um “tempo de amor”.

 

A partir dessa temática, o professor, músico e escritor Marcus Vinícius de Souza buscou dar mais uma interpretação para esse tema e escreveu a letra de “Variações do tempo”, um rock nacional lançado nas plataformas de streaming no final do mês de agosto. Ainda sobre essa temática, escreveu uma peça do instrumental pop, “Vestígios”, finalista do Festival da Rádio MEC. Nos próximos dias, muito inspirado pelo tempo, lançará o samba “Saber esperar”. Em suma, o tempo está na arte como instrumento de reflexão. É papel do leitor, do ouvinte captá-lo.

 

 

 

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