Jornal Estado de Minas

EDUCAÇÃO EM CRISE

Para não fechar, UFJF terá déficit de R$ 11 milhões em 2022


A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) não vai fechar as portas em 2022. Com a queda crescente nos recursos, havia a possibilidade da UFJF não conseguir manter o funcionamento de todas as atividades até o final do ano. 





No entanto, o custo para isso é um déficit de R$ 11 milhões nos cofres da instituição. Em audiência pública, o reitor da UFJF, Marcus David, detalhou que a situação orçamentária da universidade é ruim. 

“Apesar dessa diminuição, a instituição fez um esforço muito grande para se adequar, com sacrifícios da comunidade acadêmica, o que representou sérias medidas, como cortes de bolsas e demissão de trabalhadores terceirizados. Mesmo com esse sacrifício tão grande, nós ainda projetamos esse déficit”, explicou o reitor. 

Leia: UFJF corre risco de parar ainda em 2022 por corte de orçamento

Na audiência pública, a reitoria da UFJF apresentou os dados financeiros da instituição, que contempla os campi de Juiz de Fora e Governador Valadares. Diante dos cortes orçamentários promovidos pelo governo Jair Bolsonaro (PL), a universidade estipulou um gasto de R$ 111 milhões de custeio para 2022. Um valor bem abaixo do necessário para cumprir com as obrigações de contratos terceirizados, bolsas e assistência estudantil. 




Reitores da UFJF, Marcus David e Girlene Silva (foto: Divulgação/UFJF)
“Não temos mais onde ajustar sem ampliar os danos acadêmicos e administrativos à nossa instituição. O arrocho orçamentário atinge as despesas discricionárias, ou seja, aquelas destinadas ao funcionamento da universidade, e não as destinadas ao quadro efetivo de servidores. Dessa forma, são afetadas áreas como a manutenção de bolsas acadêmicas, contratos de funcionários terceirizados, gastos com luz e energia elétrica, entre outras frentes”, falou David. 

Panorama orçamentário

Na audiência pública, foram apresentados os dados financeiros da UFJF e de todas as universidades federais. De acordo com a série histórica, 2015 foi o ano em que mais se destinou recursos para todas as UFs: R$ 7,67 bilhões (números podem ser conferidos aqui). 

Em 2022, o valor, já contando os cortes orçamentários deste ano, é de R$ 4,82 bilhões. Uma redução de cerca de 40%.

Na UFJF, os cortes afetam principalmente as bolsas estudantis, que entre 2016 e 2022, tiveram uma redução de 25%, impactando a pesquisa e a manutenção de alunos dentro da universidade. 





Ao mesmo tempo, houve um crescimento no gasto com terceirizados, caracterizado pelo aumento inflacionário. Em 2022, a UFJF vai gastar R$ 43,9 milhões com serviços terceirizados. Dentro deste montante está a manutenção de 859 trabalhadores. Número bem menor que em 2109, quando a UFJF tinha 1.074 funcionários terceirizados. 
Raio-x da queda orçamentária das Universidades Federais (foto: Divulgação/UFJF)
“Não temos mais de onde cortar gastos sem comprometer ainda mais a qualidade do trabalho. Ou nós vamos ser absolutamente insensíveis e irresponsáveis em realizar mais cortes ou vamos ter que ousar e tentar administrar esse orçamento com a expectativa de termos alguma possibilidade de novas negociações no próximo ano”, desabafou Marcus David. 

O cenário da UFJF poderia ser pior, como mostrado com exclusividade pelo Estado de Minas em junho. Na época, o reitor Marcus David disse que a instituição tinha dinheiro para permanecer funcionando até outubro. 



Leia: UFJF: em entrevista ao EM, reitor fala das dificuldades da universidade

Na audiência pública, o reitor destacou que conseguiu novas fontes de recursos para amenizar a situação: houve envio de emendas parlamentares e acesso a programas do governo federal. Isso levou a uma arrecadação de R$ 10,9 milhões, que se somou aos R$ 89 milhões previstos no orçamento. Mesmo assim, a UFJF ainda fechará no vermelho. 

“A decisão por seguir com as atividades até o fim do ano leva em consideração algumas possibilidades como a de quitar contratos que, mesmo vencidos, “por sua natureza demoram mais tempo para serem quitados”.

“Se nós fecharmos a universidade, eu diria que os inimigos de um projeto civilizatório que valoriza a ciência e a educação vão vencer. Então nós temos que lutar para manter a nossa universidade aberta. É com esse espírito que estamos fazendo essa administração, é uma administração de risco, mas continuamos pedindo a compreensão da comunidade. Estamos cientes que estamos tendo restrições, mas me parece que, nesse momento, essa é a solução mais sensata”, emendou Marcus David.




Cenário ruim para 2023

Se o ano de 2022 já está ruim, para o próximo o cenário é pior, segundo a reitoria. Há a previsão de destinação de 12% a menos de recursos para as universidades, que pode levar a uma asfixia financeira de todo sistema federal de ensino. 

Por isso, segundo o reitor, o foco é mobilizar a comunidade acadêmica e continuar buscando junto ao Congresso Nacional e ao governo federal um aumento nos recursos. 

“E é claro que vamos continuar perseguindo possibilidades de redução de gastos, estratégias financeiras que potencializem recursos, vamos continuar brigando pela reposição do orçamento, lutando junto ao Congresso Nacional”, finalizou Marcus David