Jornal Estado de Minas

EDUCAÇÃO

Rede de BH aposta no ensino intensivo para driblar perdas



O ano letivo dos quase 200 mil alunos sob a tutela da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) começa com um desafio proporcional à importância da maior rede municipal de ensino de Minas Gerais. Para permitir aos estudantes avançarem no percurso escolar, será preciso conjugar o conteúdo previsto para 2022 com o que ficou para trás em 2020 e 2021. Reflexo da pandemia e de longo tempo de escolas fechadas, o cenário atual mostra uma defasagem de exatos dois anos no nível de aprendizagem. O principal gargalo está nas primeiras séries do fundamental e toca em cheio a alfabetização: crianças de 9 anos ainda não sabem ler. Reforço escolar intensivo é aposta para contornar o atraso, que atinge também os meninos do 6º ao 9º anos. Com protocolos sanitários ativos, o fim do voluntariado no modelo presencial caminha para o fim. Todas as crianças – incluindo as de 5 a 11 anos, cuja volta está prevista para quarta-feira  – deverão estar em seu devido lugar: a sala de aula.





A linha de ação está traçada: diagnóstico e reforço, sem perder de vista o tempo escolar regular. Em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Secretaria Municipal de Educação (Smed) investiu no segundo semestre do ano passado (quando as crianças do fundamental foram autorizadas a voltar às escolas) no acompanhamento e avaliação das habilidades, com foco na alfabetização, por meio do programa Pealfa. Os chamados grupos de trabalho intensivo, compostos por professores, fizeram três avaliações. “Com educação infantil e anos iniciais do fundamental não alfabetizados teremos problemas o resto da vida”, afirma a secretária municipal de Educação, Ângela Dalben. Em paralelo, foram montados grupos para reforço escolar com, no máximo, 12 alunos.

Se antes a rotina escolar era estabelecida para garantir o que estava previsto há anos, agora, é preciso construir uma rotina intensiva de trabalho para mais aprendizagem. “Não adianta querer que a criança aprenda o conteúdo programado para esta etapa se não sabe o básico de anos anteriores”, diz Ângela. As crianças de 9 anos, por exemplo, alunos do 4º ano, deveriam ter tido a fase de alfabetização consolidada no ano passado, ao fim do primeiro ciclo. Mas o que o retorno à escola revelou é que não desenvolveram habilidades que deveriam ter sido adquiridas aos 7 anos, no início da pandemia.

“Teremos de construir metodologias muito focadas na intencionalidade de cada ponto que se quer atingir”, ressalta. Fazendo uma analogia, ela explica: “Se antes eu podia ter um dia inteiro de festa na escola e depois avaliar o que aprendi nela, hoje, posso dar a festa, mas antes tenho de planejar, pensar que na música que vamos cantar vamos falar de astronomia e os alunos vão aprender a escrever e separar sílabas de palavras como asteroide e cometa”. “Não é só a beleza da festa, a participação e interação. Temos que vislumbrar os pontos da intencionalidade. Ou seja, o professor terá de ficar muito mais atento ao planejamento, tem que ficar clara a intenção e se atingiu o objetivo.”



Fundamental 2

Ainda não há dados específicos sobre o quantitativo de alunos em defasagem. A secretária informa que no fim do ano passado as avaliações constataram que um grupo bem significativo ainda não tinha atingido o básico também entre o 6º e o 9º anos. Na volta às aulas, a reorganização desses grupos leva em conta progressos que possam ter ocorrido durante as férias – foram propostas atividades para esse período e estudantes levaram tablets para casa. “Essa faixa etária já tem garantido o processo de alfabetização. Temos, então, que garantir habilidades de compreensão de texto, matemática, conteúdos de história, geografia, ciências. E para isso contamos com o compromisso dos alunos e famílias com os professores”, afirma Ângela Dalben.


Tecnologia permanece em cena


A Escola Municipal Theomar de Castro Espíndola, no Novo São Lucas, é uma das que passaram por reforma no período em que as unidades estiveram fechadas (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Se ano passado o ensino remoto foi a base da volta às salas de aula, em 2022, a lógica se inverte. Como antes, toda criança deverá estar presencialmente e em segurança em sala de aula. O ensino a distância, por sua vez, se torna possibilidade de complementação de atividades e alternativa ao reforço escolar. Tudo isso sem perder de vista as matrizes exigidas pela Base Nacional Curricular Comum (BNCC), os livros didáticos e as bases mineiras de educação.

A tecnologia não sai de cena, mas desta vez atuará no papel de melhorias de ensino e didática, e não mais em substituição ao presencial. “Vamos cumprir 200 dias letivos com os alunos na escola. Estamos num contínuo, na perspectiva de diagnóstico e buscando mais aprendizagens. Mas, a partir de 2022, a base é presencial, com 200 dias letivos e 800 horas e o aluno tem que cumprir dentro de sala a carga horária prevista em lei”, ressalta a secretária municipal de Educação, Ângela Dalben.





No fim de 2021, a Secretaria Municipal de Educação (Smed) contabilizou a adesão de 80% dos alunos ao presencial. Com o apoio de outros setores da prefeitura, como a Secretaria de Saúde, Assistência Social e o Conselho Tutelar, foi feita busca ativa para incentivar as famílias a voltarem para a escola. “Foi importante também para termos clareza das situações. Algumas por motivos diversos tinham dificuldade de retornar, e nesses casos buscamos intervenções. Outras não o fizeram por comodidade”, relata.

Outro ponto constatado é que as famílias de muitos desses estudantes não eram alfabetizadas. “Entendemos por que pegavam o material na escola, mas não o devolviam: não havia quem traduzisse o conteúdo para eles, porque quem ficava em casa não lia. A pandemia criou um abismo entre o que a escola faz, que é ensinar, e a realidade concreta do aluno.”

Digital

Como tudo tem um lado positivo, com a pandemia não foi diferente. Nos 15 meses de escolas fechadas, a rede municipal informa ter investido em reformas e melhorias de suas unidades. De acordo com a secretária, todas as escolas estão equipadas com fibra ótica, as salas de aula têm computador e projetores multimídia. Telas ligadas na internet complementam a função das lousas com muito mais informação e movimento. “De sua mesa, o professor acessa sistema que permite verificar quais habilidades o aluno atingiu, o que pode ser compartilhado com o restante da escola e conosco. O aluno pode levar o tablet para casa. Conseguimos dar um salto qualitativo no material didático. Um salto digital que, não fosse a pandemia, a rede não teria alcançado.”





Custo do ensino superior


Pesquisa do site Mercado Mineiro aponta variações de até 733% entre cursos de ensino superior de 21 estabelecimentos nas áreas de administração (noite), direito (noite), engenharia civil, publicidade e propaganda, ciências contábeis, jornalismo, arquitetura, nutrição, odontologia, enfermagem, fisioterapia e medicina. O curso de administração foi o que apresentou a maior variação de preços na mensalidade, enquanto medicina teve a menor diferença (26%). As diferenças podem ser justificadas pela carga horária, metodologia, grade de aulas, infraestrutura, capacidade do corpo docente e o fato de algumas faculdades estarem mesclando presencial e EAD (ensino a distância). Segundo o economista e coordenador do site Mercado Mineiro, Feliciano Abreu, considerando que esse é um investimento importante, o aluno (consumidor) deve se informar muito bem sobre a qualidade do ensino, aprovação do mercado sobre os profissionais recém-formados. A pesquisa também detectou aumentos de até 23% no preço médio dos cursos.