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Estado de Minas COVID-19

Fim do auxílio emergencial deixa rastro de desamparo

Fim do benefício em plena pandemia aprofunda incertezas de milhões de brasileiros. "A gente chegou ao desespero maior", desabafa carroceiro


10/01/2021 04:00 - atualizado 10/01/2021 07:23

Sem pedidos de carreto, Cláudio Siqueira agora usa a carroça para recolher sobras em feiras que alimentam sua família: ''Tudo que queria era trabalhar, mas não tem serviço''(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Sem pedidos de carreto, Cláudio Siqueira agora usa a carroça para recolher sobras em feiras que alimentam sua família: ''Tudo que queria era trabalhar, mas não tem serviço'' (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

A falta de carretos de entulho e poda para a carroça transformou o uso dessa ferramenta de trabalho de Cláudio Siqueira, de 41 anos, no principal meio de sustento dele, da mulher e da filha de 4 anos. Puxado por um cavalo magro e suado, o veículo rústico transporta agora lenha e restos de feiras, como frutas e hortaliças. São fontes essenciais de alimentos e combustível para a famíliajá que a última parcela de R$ 300 do auxílio emergencial que vinha sendo pago por meio da Caixa Econômica Federal foi resgatada no mês passado e o governo federal não manifestou intenção de renovação.

A economia na casa de Cláudio se tornou geral. O medo da fome, real. Em vez de gás de botijão, a família usa lenha e a queima em um fogão improvisado em lata de tinta. Produtos de limpeza e alimentos são racionados ao máximo. Estudos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) avaliam que o auxílio deveria ser mantido enquanto houver pandemia, por questões sociais e também econômicas.

“A gente chegou ao ponto do desespero maior, que é não saber se vai ter comida e leite para trazer para dentro de casa. Tudo que queria era trabalhar, mas não tem serviço. Não sei ser ladrão, o que sei fazer é trabalhar desde menino”, desabafa o carroceiro, morador da Vila Calafate (Oeste de Belo Horizonte), enquanto a filha o ajuda a acender o fogareiro e a mulher separa de um enxame de moscas os restos de melancias, couve e jiló de uma feira.

Um relato de desespero e incerteza, realidade para parte dos 67,9 milhões de pessoas que sobreviveram até aqui durante a pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2) com o auxílio emergencial encerrado em dezembro, em meio ao desemprego e fechamento de atividades, necessário para o isolamento social.

Nos primeiros cinco meses, desde abril, foram pagas parcelas do recurso no valor de R$ 600 (R$ 1.200 para mulheres chefes de família) e R$ 300 (R$ 600 para as que são arrimo de família) de setembro a dezembro. Do total de inscritos, 19 milhões passarão a contar apenas com o Bolsa-Família, enquanto 48,9 milhões, muitos deles informais, simplesmente não receberão nada.

Em Minas Gerais, foram pagos R$ 26,4 bilhões a 6,4 milhões de cidadãos. A Caixa informou que um total de R$ 292,9 bilhões foram creditados, mas nem tudo chegou aos necessitados. Há estimativas de uma execução na casa dos 40%.

O fim do auxílio fez despencar de R$ 300 para R$ 91 mensais a renda da doméstica desempregada Marlene Vaz da Silva, de 64, moradora da Vila São Vicente, no Padre Eustáquio, Região Noroeste de BH.

“A comida já estamos espremendo na geladeira e na despensa, mas os remédios que tomo para controlar minha hipertensão e o diabetes não estou podendo comprar. Muitos não consigo nos postos de saúde, porque servem para aliviar dores. Não sei como é que vai ser”, disse a mulher, que mora com um filho de 32, soropositivo para o HIV, que vive de bicos e, segundo ela, precisa trabalhar para sustentar dois filhos e não ser preso por atraso nas pensões. “Assim, meu filho não consegue me ajudar. É só Deus e se, por misericórdia, continuassem com esse auxílio.”

Já com dificuldade para pôr comida em casa, Marlene Vaz se desespera por perder o dinheiro para os remédios de hipertensão e diabetes e pede a ''misericórdia'' da retomada do auxílio(foto: Marcos Vieira/EM/D.A press)
Já com dificuldade para pôr comida em casa, Marlene Vaz se desespera por perder o dinheiro para os remédios de hipertensão e diabetes e pede a ''misericórdia'' da retomada do auxílio (foto: Marcos Vieira/EM/D.A press)

Sem recursos para o aluguel e com as contas de água e de luz vencidas, a dona de casa Rosângela da Cruz, de 60, tentou um ato desesperado. Invadiu com a filha, a neta e o genro um terreno público próximo à sua casa, no bairro Calafate (Região Oeste de BH), tentando com isso conseguir uma moradia própria antes que sejam despejados.

“A dona do barraco já pediu ele de volta. Porque pago R$ 600 e não está sobrando R$ 200 para poder pagar. Agora, com o fim do 'dinheiro do corona' (auxílio emergencial), bateu um desespero nas famílias e uma porção de gente aqui do bairro tentou invadir esse terreno aí do lado”, disse.

A tentativa de se instalar na área, no entanto, foi frustrada pela Polícia Militar, que agiu rápido e impediu a ocupação. Barracos erguidos com lona e paus terminaram derrubados e removidos por caminhões na quarta-feira.

“A gente está assim, sem saber como fazer, para onde ir, porque não tem mais ninguém pela gente. Esse dinheiro era o que estava salvando a gente. Ficar sem foi um tapete que puxaram do nosso pé. Em casa está todo mundo desempregado, não tem mais trabalho. Esse era o único dinheiro que tinha”, disse a dona de casa.

Biblioteca em risco

Klinger perdeu doações que mantinham a biblioteca e, com o cartão quebrado, ainda ficou sem ajuda(foto: Marcos Vieira/EM/D.A press)
Klinger perdeu doações que mantinham a biblioteca e, com o cartão quebrado, ainda ficou sem ajuda (foto: Marcos Vieira/EM/D.A press)

A construção de uma casa incomum, sob uma mangueira plantada em canteiro público, no bairro Jardim América, na Região Oeste de Belo Horizonte, e o hábito de seus moradores de compartilharem livros doados com a comunidade chamaram a atenção na capital mineira em 2017. A iniciativa, contudo, foi reduzida a cinzas naquele mesmo ano, depois que um incêndio criminoso destruiu a habitação e seu acervo.

Com ajuda da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e de voluntários, a biblioteca ressurgiu na confluência das avenidas Barão Homem de Melo e Silva Lobo, mas, devido à falta de trabalho e ao fim do auxílio emergencial, o idealizador da iniciativa pode perder sua casa novamente.

O artista, restaurador, livreiro e cabeleireiro Klinger Douglas Rodrigues, de 45 anos, afirma que o espaço atraiu menos pessoas e, consequentemente, menos doações devido à pandemia e ao afastamento social imposto pelo novo coronavírus. O auxílio emergencial pago pelo governo federal o estava ajudando a manter o aluguel e as contas em dia, mas seu cartão de recebimento se quebrou e ele nada recebe há quatro meses.

“Estou tentando de tudo nas regionais. Meu sustento vem de doações. As pessoas trazem para mim móveis velhos,  restauro e os vendo. Se me dão três latas com um pouco de tinta, faço uma e vendo. Mas as pessoas que estavam em casa já se desfizeram de tudo e as compras caíram”, afirma.

Klinger precisa se apressar. Segundo a Caixa Econômica Federal (CEF), os recursos creditados em contas poupança social digital não movimentados no prazo de 90 dias, nos casos do auxílio emergencial, ou 270 dias, no caso do auxílio extensão, são devolvidos à União nos termos do regulamento do Ministério da Cidadania.

“Os beneficiários que fazem parte do Bolsa-Família que recebem com o cartão do programa podem realizar o saque das parcelas do auxílio emergencial e do auxílio emergencial extensão no prazo de 270 dias a partir da data de liberação dos valores prevista no calendário.”

Fôlego que se extingue

Luciene de Jesus com os filhos: depois da reforma do piso e telhado, o medo do futuro. ''Sem o auxílio, não sei como vai ser. Só Deus proverá a gente''(foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
Luciene de Jesus com os filhos: depois da reforma do piso e telhado, o medo do futuro. ''Sem o auxílio, não sei como vai ser. Só Deus proverá a gente'' (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)

Apesar do enfrentamento da pandemia, para milhões de brasileiros, o ano de 2020 acabou representando a oportunidade do recebimento de uma renda a mais, que possibilitou a melhoria da alimentação ou mesmo a reforma na casa, por conta do recebimento do auxílio emergencial. Agora, a situação volta ao “antigo normal”, com o fim do auxílio, que teve a última parcela paga em dezembro.

A mudança foi mais impactante para os indivíduos em situação de extrema pobreza cadastrados no programa Bolsa-Família, que vivem em áreas carentes. Nesses locais, os recursos ajudaram a evitar um aprofundamento da miséria e, de quebra, proporcionaram pequenas melhorias em casa, com consequente movimentação da economia.

Foi o que aconteceu com Luciene de Jesus Oliveira, de 49 anos, moradora da Vila Castelo Branco, uma das áreas mais carentes de Montes Claros, no Norte de Minas. Assim como outras chefes de família cadastradas no programa, ela recebeu em dezembro a última parcela do auxílio, de R$ 600  – entre abril e setembro, os valores mensais foram R$ 1, 2 mil.

“Agora, sem o auxílio, não sei como vai ser. Só Deus proverá a gente”, preocupa-se Luciene, que volta a receber os R$ 212 do Bolsa-Família. A expectativa dela era contar com a ajuda ainda este ano e teve a confirmação da suspensão somente quando recebeu a visita da reportagem do Estado de Minas, no fim de semana passado.  “Achei que (o pagamento do auxílio) continuaria pelo menos até março”, disse a mulher, surpresa.

Luciene é mãe de quatro filhos. Mas, contando os netos, na sua casa são oito pessoas, número que, em breve, vai subir para nove, já que uma de suas filhas, Célia Poliana, de 31, está grávida de sete meses – ela espera uma menina. A mulher conta que, além de servir para “comprar comida”, o dinheiro do auxílio emergencial proporcionou a reforma do piso e no telhado da casa que abriga a numerosa família.

A moradia está situada em um terreno ocupado, onde há outros dois barracões, debaixo de uma rede de alta-tensão na Vila Castelo Branco. “O auxílio foi uma glória em minha vida. Se esse dinheiro for cortado mesmo, vai ficar muito difícil pra gente”, lamenta Luciene.

Na mesma Vila Castelo Branco, situação semelhante é encarada por Simone da Silva Ferreira, de 32, e pelo companheiro dela, Alessandro Ferreira da Silva, de 36. O casal tem quatro filhos.  Ambos receberam parcelas do auxílio emergencial nos últimos nove meses. Com o fim do benefício, Simone voltou a receber R$ 212 do programa Bolsa-Família a partir deste mês.

Já Alessandro, que não é cadastrado em nenhum programa e está desempregado, tenta ganhar alguma coisa como catador de materiais recicláveis. Ele diz não saber ao certo a renda mensal gerada pela atividade informal. “Acho que dá uns R$ 300 por mês”, calcula.

O catador conta que o “dinheiro extra” proporcionou uma reforma no banheiro e a troca das portas antigas do barraco de dois cômodos, onde mora a família. E melhorou a alimentação em casa. “A gente passou a comprar carne, verdura e iogurte para os meninos também. Agora, vai ser difícil manter essas coisas”, reclama.  Disse ainda que durante os últimos meses de 2020 conseguiu comprar o gás de cozinha. “Agora, acho que a gente vai ter que voltar para o fogão a lenha.”

Dificuldades à vista também para Jucélia Ferreira, de 35, desempregada e mãe de três filhos, moradora de um barraco no bairro Santo Amaro, em outro ponto de Montes Claros. Pouco antes do início da pandemia ela perdeu o emprego de atendente em uma padaria no bairro Jardim Canadá, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e retornou para a cidade do Norte de Minas.

Sem direito ao Bolsa-Família, a ex-atendente de padaria conta que nos últimos meses de 2020 sobreviveu com os recursos do auxílio emergencial. “Agora, vai ficar difícil demais. A gente procura, mas não acha serviço. O auxílio era o único recurso que a gente tinha”, lamenta Jucélia, mostrando a panela com a “mistura” do dia: macarrão. “Acabando o auxílio, acho que vai faltar até o alimento pra gente. O jeito vai ser  catar latinha para sobreviver”, afirma a desempregada.

PUXADINH0 

Roseli e Anderson fizeram um ''puxadinho'' de dois cômodos, que melhorou a vida da família: felizmente, a mulher ainda conseguiu emprego(foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
Roseli e Anderson fizeram um ''puxadinho'' de dois cômodos, que melhorou a vida da família: felizmente, a mulher ainda conseguiu emprego (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)

Ao mesmo tempo em que lamentam o fim do auxílio emergencial, Roseli Freitas Pereira, de 35, e o companheiro dela, o pedreiro Anderson Alves Ferreira, de 32, comemoram conquista obtida com a ajuda recebida durante os primeiros nove meses da pandemia : um puxadinho de dois cômodos, sem reboco,  que fizeram na moradia do casal, no bairro Itataia, outra área carente de Montes Claros. O casal tem quatro filhos.

“Graças a Deus, a gente conseguiu ampliar a casa. O auxílio melhorou muito a vida de quem teve cabeça para administrar bem o dinheiro”, afirma Roseli, que, como chefe de família,  recebeu seis parcelas de  R$ 1,2 mil e três de R$ 600. Anderson também fez o cadastro e recebeu seis parcelas de R$ 600 e três pagamentos de R$ 300. Emprego de doméstica, com carteira assinada e salário mínimo, é mais uma conquista de Roseli, que até o até o início da pandemia fazia faxinas, recebendo diária em torno de R$ 50 a R$ 60.

O dinheiro do auxílio recebido pelo carroceiro José Carlos Pereira, de 38, que vive no mesmo bairro, também foi direcionado para melhorias em casa. Ele cercou um pequeno terreno de sua propriedade na zona rural. A mulher dele, Ione, trabalha como atendente em um açougue da cidade. O casal tem seis filhos, dos quais dois continuam morando na casa dos pais. José Carlos passa a contar agora somente com a renda do trabalho como carroceiro, incerta. Mas não lhe falta esperança: “Sem esse dinheiro, a gente embanana um pouco. Mas vai se virando”.

Entrevista
Débora Freire Cardoso
Professora doutora da Faculdade de Ciências Econômicas (Face) da UFMG
Professora Débora Freire Cardoso(foto: Divulgação)
Professora Débora Freire Cardoso (foto: Divulgação)

O encerramento é perverso em termos sociais e econômicos”
 
Um mês após o auxílio emergencial ser lançado (em abril), estudo da Faculdade de Ciências Econômicas (Face) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostrou que o programa deveria ser estendido pelo menos até dezembro, o que acabou ocorrendo. Uma das autoras do trabalho, intitulado “Renda básica emergencial: uma resposta suficiente para os impactos econômicos da pandemia da COVID-19 no Brasil?”, a professora doutora Débora Freire Cardoso avalia que a transferência de renda deve continuar enquanto durar a pandemia. Ao Estado de Minas, a economista indicou motivos sociais, mas também garante que a medida é vital para a saúde da economia e a geração de empregos.

Na opinião da senhora, o auxílio emergencial deveria ser estendido para 2021?
Sim. O auxílio deveria ser ampliado. A pandemia ainda não acabou. Estamos observando o aumento de casos de COVID-19 e, em algumas localidades, de maneira correta, a reversão da flexibilização, que vinha ocorrendo para tentar controlar a disseminação do vírus. Ainda estamos em um cenário configurado pela necessidade de manter as pessoas em casa, o que prejudica muito a renda de informais e autônomos. Ainda, a pandemia promoveu retração econômica e aumentou sobremaneira o desemprego. A recuperação econômica, que volta a ser prejudicada com a maior disseminação do vírus, é lenta. O mercado de trabalho ainda não está aquecido para reabsorver pessoas que perderam o emprego.

O governo justifica o fim do auxílio alegando que gera endividamento e que precisa ser fiel ao teto de gastos. Como a senhora avalia isso?
Nesse caso, o encerramento do auxílio prejudica a economia, visto que, sem ele, grande parte das famílias brasileiras perdem capacidade de consumo, o que terá impactos negativos. As vendas das empresas vão cair, a atividade econômica sentirá a retração. As próprias receitas do governo também sofrerão impacto negativo, já que a arrecadação de impostos depende muito do consumo das famílias. Portanto, o encerramento do auxílio é perverso em termos sociais, pois aumenta sobremaneira a vulnerabilidade das famílias hoje desamparadas, mas também em termos econômicos, pois prejudica a economia neste momento de grande incerteza e notadamente atrasa a recuperação.

Se fosse mantido, quais seriam os benefícios do auxílio na dinâmica do Brasil em pandemia?
A capacidade de consumo das famílias seria mantida. Portanto, a economia não sofreria mais um baque com a redução do consumo. O consumo das famílias é o agregado macroeconômico de maior peso no PIB (65% do PIB vem do consumo das famílias). Assim, conjuntamente à vacinação e redução das taxas de infecção pelo vírus, auxiliaria a própria recuperação da economia ao longo deste ano, ao ser um importante componente de incentivo à demanda. Empresários precisam ter perspectiva de demanda para investir.

Mas e quanto ao endividamento?
A ampliação das parcelas gera custo fiscal, de forma que aumentaremos o déficit público e, consequentemente, o endividamento. No entanto, o custo econômico de não ter auxílio, hoje, é maior. A retração da atividade econômica também gera déficit fiscal, pois as receitas do governo caem.

O que ocorrerá sem a ampliação das parcelas?
O cenário contrário. Uma importante retração no consumo das famílias que precisam do benefício. A redução da demanda de consumo das famílias teria impacto negativo no investimento e contratação de pessoal por parte das empresas. Menos renda seria gerada. O consumo de todas as famílias seria afetado, já que a menor atividade econômica afeta todos. Menos impostos seriam recolhidos, arrefecendo a recuperação econômica.

Há alternativas viáveis para o governo manter a renda e os empregos sem pagar o auxílio?
O aprofundamento da proteção social no Brasil hoje é imperativo. Sem o auxílio, veremos de fato o impacto dessa crise na renda das famílias, de modo que as taxas de pobreza e extrema pobreza devem crescer de forma relevante. Do mesmo modo a desigualdade. A extensão do auxílio no valor de R$ 300 pode ser pensada como uma política transitória para um novo programa, para não gerar uma retração na economia. Precisaremos de um programa mais amplo que o Bolsa-Família. Será fundamental que o governo federal atue com um programa de investimentos robustos, especialmente no setor de saúde. Esse tipo de investimento teria o potencial de incentivar a economia, a geração de empregos formais, ao mesmo tempo em que ampliaria a capacidade do setor de saúde, o que seria muito importante para lidar com as sequelas sanitárias que essa crise deixará.

Quais os impactos da vacinação na recuperação econômica e em quanto tempo começa a surtir efeito?
A vacinação é imprescindível para a recuperação econômica. Não existe recuperação sem a imunização de grande parte da população. A vacinação começaria a gerar impactos econômicos a partir do momento em que as taxas de contágio do vírus fossem caindo e que, progressivamente, mais pessoas fossem sendo imunizadas, uma vez que elas poderiam começar a voltar a ter uma vida relativamente normal, ampliando novamente suas atividades de consumo, dinamizando a economia. No entanto, estímulos fiscais, como o auxílio emergencial e um programa de investimentos governamentais, ainda seriam necessários, visto que o mercado de trabalho responde com uma certa defasagem de tempo. Precisaríamos manter a capacidade de consumo das famílias por um tempo para que a economia pudesse se recuperar de forma sustentada.


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