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Estado de Minas

Com 38% de aumento, pescoço de peru é o novo lombo nos açougues de BH

Segundo pesquisa do Mercado Mineiro, carnes subiram quase 40% na capital; consumidores recorrem aos 'miúdos' para manter proteína animal no prato


19/10/2020 14:09 - atualizado 20/10/2020 12:02

A auxiliar de enfermagem Tânia Mara, de 58 anos, diz que desistiu do frango e passou a comprar miúdos: 'Estou levando fígado de frango hoje'(foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)
A auxiliar de enfermagem Tânia Mara, de 58 anos, diz que desistiu do frango e passou a comprar miúdos: 'Estou levando fígado de frango hoje' (foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)
Normalmente procurado em tempos de vacas magras, em que o dinheiro não sobra para comprar proteínas da nobre estirpe do filé mignon, o pescoço de peru tem esnobado a clientela nos açougues de Belo Horizonte e Região Metropolitana. De janeiro a outubro, o quilo da iguaria subiu de R$ 13,42 para R$ 18,55, variação de 38%. Os dados são do levantamento divulgado nesta segunda-feira (19) pelo Mercado Mineiro. 

Realizada entre 14 a 16 de outubro em 38 frigoríficos, a pesquisa mostra aumento expressivo sobretudo das carnes menos prestigiadas, pressionadas pela alta do dólar e das exportações.

Depenado pela crise econômica, o consumidor tem recorrido aos miúdos: fígado, rins, moela e língua. Há quem tenha adotado até mesmo uma espécie de dieta semivegetariana forçada, com consumo de proteína animal concentrado em apenas alguns dias da semana. 

Disparada

A secretária Fabiana Reis, de 40 anos, diz que cogita abrir mão das compras semanais no açougue para aderir ao delivery de marmitex: 'Está saindo mais barato, viu?' (foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)
A secretária Fabiana Reis, de 40 anos, diz que cogita abrir mão das compras semanais no açougue para aderir ao delivery de marmitex: 'Está saindo mais barato, viu?' (foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)
Corte magro, formado por fibras parcamente emaranhadas entre ossos, o pescoço de peru, por pouco, não empatou com o suculento copa lombo, encontrado pela média de R$ 19,91 na capital. Não que o corte suíno esteja em conta: em janeiro, era vendido a R$ 15,88.

Entre os preços mais amenos registrados pela pesquisa está o do frango resfriado, comercializado a R$ 8,36 o quilo. Há nove meses, contudo, o produto saía por R$ 7,57, alta de 18%. A asa de frango, por sua vez, ficou bem mais salgada. Subiu de R$ 14,69 para R$ 18,35 no mesmo período, acréscimo de 25%. O toucinho apresentou variação parecida: passou de R$ 8,67 para R$ 11,42, ou seja: ficou 24,57% mais caro.

Entre os cortes bovinos, o acém apresentou o maior acréscimo: foi de R$ 21,16 para R$ 28,04, diferença de 33%. O quilo da fraldinha é vendido a R$ 30,08, elevação de 23%.

Só nos últimos 45 dias, a alta acumulada por carnes de todos os tipos chegou a 19% - caso do frango congelado que, em meados de setembro, custava em média R$ 6,48 e, agora, R$7,72. 

A variação entre os valores cobrados pelos açougues também chama atenção no levantamento do Mercado Mineiro. O quilo da bisteca com costela varia até 166% entre os estabelecimentos. Já o quilo do coração de frango, pode custar de R$ 16,99 até R$ 34,95, diferença de 105%.

Miúdos

Nos açougues de BH, clientes têm comprado porções menores de carne. A redução média é de 30% 'Quem comprava 3 Kg, agora compra 1, relata o açougueiro Sidney Lopes (à esquerda)(foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)
Nos açougues de BH, clientes têm comprado porções menores de carne. A redução média é de 30% 'Quem comprava 3 Kg, agora compra 1, relata o açougueiro Sidney Lopes (à esquerda) (foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)
Com o bolso fragilizado pela pandemia, o consumidor tem dado preferência aos miúdos - nome popular atribuído às vísceras de animais, como fígado, rins, pulmões, rabo, pés, miolo e língua. Foi a opção feita pela auxiliar de enfermagem Tânia Maria, de 58 anos, que esteve nesta tarde em um açougue da Avenida Silviano Brandão, Região Leste de BH. 

“Estou levando fígado de frango, pois até o frango mesmo, que costuma ser mais barato, está difícil comprar. E, para não dizer que não levei uma carninha de verdade, comprei também um lombinho”, conta a mulher de 58 anos. 

A secretária Fabiana Reis, de 40, diz que ainda não baixou o padrão das proteínas em casa. Ela foi nesta segunda-feira (19) a um açougue na Avenida dos Andradas comprar contra-filé. No entanto, cogita trocar as compras semanais de carne pelo delivery de marmitex. “Estava fazendo as contas com meu marido esses dias. Está saindo mais barato, viu? E a vantagem é que o marmitex vem completo, eu não preciso comprar outros alimentos que também estão caríssimos, como o arroz”, pondera a consumidora.

A solução encontrada pelo motoboy Célio Cardoso foi reduzir significativamente consumo de carne. “Antes, comia todos os dias. Agora, só quatro vezes por semana. Nos outros dias, vou de verdurinha com arroz e feijão mesmo. É o jeito”, afirma o trabalhador. 

Sem previsão de queda

Segundo o diretor do site Mercado Mineiro, Feliciano Abreu, os principais responsáveis pelo encarecimento das carnes são a valorização do dólar, comercializado em patamar acima de R$ 5,50, e o aumento das exportações, sobretudo para a China.  De acordo com o Ministério da Economia, entre janeiro e setembro, as exportações de cortes suínos cresceram 52,6% em relação ao mesmo período de 2019. As vendas de peças bovinas subiram 25,4%. 

 “Com a pandemia, que afetou a produção de muitos países, o Brasil tem batido recorde de exportações. Entre vender para o mercado interno e exportar para a China, que paga em dólar, o que proporciona um lucro cinco vezes maior, os produtores têm feito a segunda opção”, esclareceu Abreu. 

No caso do frango, o economista explica que o preço do produto também é pressionado pela alta recorde do milho e da soja, base da ração das aves.

Para a tristeza dos amantes do churrasco, a carne deve seguir em disparada até o ano que vem. “Infelizmente, com a proximidade das festas de fim de ano, o produto tende a ficar ainda mais caro. Meu conselho ao consumidor é que ele reduza suas compras o quanto puder, já que estocar favorece a subida dos preços, e que pesquise bastante antes de ir ao açougue”, orienta Abreu


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