São Paulo – Não foram apenas as máscaras cirúrgicas e os frascos de álcool em gel que se tornaram produtos cobiçados pelos consumidores em tempos de pandemia e isolamento social. Estudo da consultoria americana NPD, especializada em análise de hábitos de consumo no varejo on-line, mostra que a procura por produtos de informática e escritório dispararam no mercado americano em março, quando as políticas de distanciamento foram implementadas com mais rigor.
Embora os dados revelem apenas o comportamento do e-commerce nos Estados Unidos, onde o fechamento de empresas começou antes do que no Brasil, eles indicam uma tendência que deve ser seguida entre os brasileiros neste mês. “Para muitos que precisaram, a toque de caixa, adaptar em casa seu ambiente de trabalho, a solução tem sido investir em um novo computador e itens de primeira necessidade em escritórios”, afirma o economista Frederico Rocha, consultor especializado em varejo. “Mesmo depois que a pandemia passar, o home office permanecerá como rotina em muitas empresas.”
De acordo com o NPD, as vendas de roteadores aumentaram 29% no mês passado na comparação com igual período de 2019. No mesmo intervalo, as vendas de mouse aumentaram 31%. De laptops, 40%. Já os teclados contabilizaram disparada de 64%.
Diversos artigos de escritório tiveram aumento de vendas superior a 100%, como estações de encaixe (118%), fones de ouvido (134%), monitores de PCs (138%) e webcams (179%). Tudo em nome do incremento da produtividade. “Os consumidores estão fazendo uma escolha consciente para reduzir gastos”, diz Stephen Baker, vice-presidente de análises do NPD Group.
O mais recente levantamento da Nielsen Brasil mostra que a venda de notebooks no varejo cresceu 112,4% entre 16 e 22 de março no comparativo com a semana anterior. A histórica expansão corresponde ao total movimentado pela Black Friday no ano passado. A pesquisa levou em conta o desempenho de pelo menos 150 estabelecimentos deste cenário no país.
A gerente de atendimento da Nielsen Brasil, Fernanda Vilhena, lembra que o isolamento social provocado pela COVID-19 impôs cuidados específicos na montagem do home office. Entre outros componentes da estrutura exigida, ela conta que, antes da pandemia, celulares e televisores vendiam mais que aparelhos eletrônicos. A especialista afirma que, na terceira semana de março, os equipamentos destinados ao lazer e às tarefas profissionais assumiram importância fundamental no ambiente doméstico.
Um termômetro do aumento da demanda é a procura por locação. Uma das maiores empresas do segmento, a Simpress registrou crescimento de 500% na procura por notebooks terceirizados pelas empresas. A explosão ocorreu pela necessidade de colocar seus funcionários em home office. “Este vírus, que infelizmente tem trazido tantas perdas ao mundo, gerou um aumento enorme na demanda de outsourcing”, diz o CEO Vittorio Danesi. “Em apenas dois dias fechamos 11 clientes, com um total de mil notebooks. E ainda tivemos propostas para mais sete mil máquinas em todo o Brasil.”
EM ALTA
A esperada alta do setor de computadores no país representa a continuidade da trajetória positiva registrada em 2019. De acordo com estudo da consultoria IDC Brasil, as vendas de computadores cresceram 2,6% no ano passado. Foram negociados 5,8 milhões de computadores no período, gerando receitas de R$ 18,9 bilhões, alta de 14,7%. Os notebooks representaram cerca de 4 milhões do total das vendas, enquanto 1,7 milhão foram de desktops.
A maior parte das vendas foi para o varejo. Dos 3,6 milhões de computadores comercializados, 1,9 milhão foram no segundo trimestre, puxados pela Black Friday. A data superou as expectativas, porque as vendas arrefeceram após os primeiros meses de 2019.