Os efeitos nocivos da pandemia do novo coronavírus estão sendo sentidos em praticamente todos os setores da economia, mas alguns, mais afetados, já começaram a jogar a toalha. No caso da hotelaria, o movimento praticamente acabou, levando ao fechamento de unidades e, o que é pior, às demissões em massa.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Minas Gerais (ABIH-MG), já foram registrados o fechamento e/ou paralisação de estabelecimentos, incluindo hotéis e pousadas, em várias cidades do estado, com o desligamento de 30% dos funcionários, atingindo cerca de 3 mil pessoas.
Se o quadro não mudar, a tendência é a situação se agravar, com o fechamento de mais 5 mil postos de trabalho a partir de 20 de abril, pois já foram canceladas, em alguns casos, mais de 70% da reservas. Em Belo Horizonte e região já anunciaram a paralisação das atividades os hotéis BHB, BH Plaza, Boulevard Express, Boulevard Park, Bristol Merit, Classic, ESuites Lagoa dos Ingleses, Fasano, Intercity BH Expo, Quality Pampulha e San Diego Barro Preto.
A previsão é que no próximo mês mais 20 empreendimentos finalizem suas atividades. Alguns hotéis, como o OYO Amazonas Palace e o BH Boutique Hostel, vão suspender as atividades pelos próximos 15 dias.
Para o presidente da ABIH-MG, Guilherme Sanson, o cenário de fechamento e paralisação dos hotéis só pode ser revertido com a tomada de decisões mais rápidas do governos, com medidas como a isenção do IPTU e ICMS e a redução do ISS, ao menos enquanto durar a pandemia do coronavírus.
“Acredito que muitos trabalhadores perderão seus empregos, muitos hotéis estão fechando ou irão fechar com a demora nas definições do governo, ainda que elas sejam difíceis, pois envolvem a parte econômica e financeira. O governo está contando com uma receita que não vai existir e as consequências serão mais trabalhadores afetados. Isso tende a se avolumar cada vez mais”, adverte ele, que defende a possibilidade de suspensão dos contratos de trabalho, como já sinalizado pelo governo federal.
Entre as “vítimas” da crise está o BH Expo, localizado no Bairro Gameleira, Região Oeste da capital mineira, cujas atividades foram encerradas pelo grupo Intercity Hotéis, que tem mais de 20 unidades pelo Brasil. Com 286 apartamentos e inaugurado em 2016, a torre atendia principalmente frequentadores de eventos no Expominas – onde está sendo montado um hospital de campanha pelo governo estadual –, além de quem se dirigia a compromissos em Contagem e Betim.
“Foram muitas conquistas nestes anos de trabalho árduo, mas, infelizmente, não há nada para se comemorar hoje”, lamenta o diretor do hotel, Rodrigo Cançado, angustiado com a demissão de 93 funcionários.
O diretor também reclama da falta de iniciativa do poder público, o que acarretará uma crise econômica talvez pior que a própria pandemia, segundo ele. “Há um verdadeiro ‘descaso’ dos governos e dos governantes em relação aos empreendedores que movem este país, sejam eles pequenos ou médios”, ressalta.
O empresário acrescenta que “independentemente de se preocupar e tomar decisões para cuidar da saúde das pessoas, é fundamental tomar providências urgentes para cuidar da saúde econômica”.
"Os governos não sobrevivem sem as empresas, pois são elas que geram a riqueza, que geram impostos que sustentam todas as instâncias do poder público municipal, estadual e federal. Até agora, nossos governantes não acordaram para a crise que será gerada, criando alternativas reais para a manutenção dos empregos. O que se vê é uma grande demagogia voltada apenas para o lado social, que não se sustenta por si só, ignorando a figura essencial do empresário como agente gerador de receitas que fazem a economia girar.”
Dificuldades ainda maiores
Se na capital está difícil, no interior ainda mais. Há restrições a viagens e proibição de realização de eventos que praticamente inviabilizam hoteis e pousadas de funcionar. A saída tem sido reduzir custos, dar férias coletivas, entre outras soluções. Mas a incerteza continua.
“Vamos manter uma equipe mínima para fazer a manutenção do hotel e diariamente buscar entender como as coisas vão se acomodando para tomar novas decisões”, explica Farley Aquino Rodrigues Alves, diretor do Dubai Suítes, em Montes Claros, onde a prefeitura proibiu check-in até 14 de abril em função da pandemia.
Já Rosana de Jesus Ferraz, proprietária do Hotel Ferraz, em Pouso Alegre, ressalta que muitas unidades continuam funcionando porque possuem 30% de ocupação com mensalistas e demanda alta de reservas por profissionais da saúde e pessoas que estão em quarentena longe dos locais de origem.
O Hotel Ferraz possui unidade em Cambuí, que está fechada, e “o clima é de bastante ansiedade, assim com em todo o Brasil e também no mundo”, ressalta Rosana. “Temos fé de que tudo vai passar, mas estamos muito assustados, pois conseguimos manter esse formato de 30% por um mês, mas as coisas estão ficando esquisitas. Todos os cuidados devidos estão sendo tomados com hóspedes e trabalhadores. A equipe foi reduzida, sendo que 20% dos funcionários estão em casa em férias ou banco de horas”, diz.