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Estado de Minas COVID-19

Delivery difícil de acertar

Restaurantes obrigados a manter portas fechadas devido ao coronavírus testam a entrega a domicílio com dificuldade e reclamam de taxas dos apps de transporte


postado em 21/03/2020 04:00

Guarda municipal dá orientações a comerciante que abriu as portas, apesar de proibição, e lamentou o prejuízo(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press %u2013 18/2/19)
Guarda municipal dá orientações a comerciante que abriu as portas, apesar de proibição, e lamentou o prejuízo (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press %u2013 18/2/19)
 
De portas fechadas, como determinou o decreto assinado pelo prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), – que restringe o funcionamento de vários estabelecimentos comerciais –,  restaurantes e lanchonetes tentam salvar o caixa com o sistema de entrega a domicílio, mas enfrentam dificuldades com a falta de experiência e não se entendem com os aplicativos de transporte. O decreto editado como medida para o combate à propagação do novo coronavírus permite o delivery de alimentos e bebidas manipulados nas empresas prestadoras do serviço. No entanto, falta acordo entre comerciantes e transportadores.
 
Proprietário de um restaurante self-service no Bairro Funcionários, região Centro-Sul de BH, Flávio Machado Vilela contou à reportagem do Estado de Minas que as taxas cobradas pelos aplicativos são altas e impactam bastante na margem de lucro do estabelecimento comercial. É o principal motivo que o levou a desistir de adotar o delivery . Em geral, é cobrado do comerciante o percentual de 27% do valor de uma marmita, por exemplo. Supondo que a refeição custe R$ 30, à empresa do app, de transporte fica com R$ 8,10.
 
Comerciantes que experimentaram o serviço dos aplicativos de transportes se viram frustrados, sem pedidos ou pelas altas taxas(foto: Leandro Couri/em/d. a press)
Comerciantes que experimentaram o serviço dos aplicativos de transportes se viram frustrados, sem pedidos ou pelas altas taxas (foto: Leandro Couri/em/d. a press)
 
 
No primeiro dia de validade do decreto do prefeito Alexandre Kalil, o comerciante Flávio Vilela abriu as portas do restaurante dele e serviu marmitas a alguns clientes de empresas localizadas ao redor do estabelecimento. No entanto, vários deles já informaram ao proprietário que vão trabalhar em casa a partir da próxima segunda-feira. Com queda de 90% no movimento, Vilela pensa em manter o restaurante fechado, por enquanto. Ele concedeu férias a alguns funcionários.
 
“Pretendo vender marmitas na segunda, mas não vale a pena ficar aberto para vender 10 marmitas, por exemplo”, lamentou.Quem também não concorda com a política de taxas dos aplicativos é Juliana Nyrrha, proprietária de um restaurante self-service. Ela destacou a alta concorrência nos aplicativos, diz que o negócio está cadastrado em uma das empresas desde a semana retrasada, e não registrou nenhum pedido pelo app.
 
Para driblar a crise durante a o isolamento social que o novo coronavírus impõe. Juliana Nyrrha escalou um de seus funcionários que tem moto para fazer as entregas. “Desde o anúncio do decreto, fizemos contato direto com os clientes para entregar a eles a refeição. Escalamos um de nossos garçons que tem moto para fazer as entregas. O valor da entrega varia dependendo da distância. Mudei meu negócio em 12 horas. É toda uma logística. Hoje (ontem) foi bom, tive alguns problemas, mas todos entenderam”, disse Juliana, satisfeita com os resultados obtidos no primeiro dia da restrição à abertura do comércio.
 
“Eu vendo, em média, 180 pratos e, hoje, vendemos 60, até o momento. Foi até bom para o primeiro dia”, ressaltou Nyrrha. Maki Samgawa também prefere apostar em um serviço de delivery fora dos aplicativos. Dono de um bar de comida japonesa sem peixe cru, no Bairro do Carmo, ele confessa que passou dificuldades para implementar o sistema de entregas a domicílio em função da falta de experiência. O empresário contou com o conhecimento de um entregador para dar fluidez aos pedidos.
 
No entanto, o sentimento para os próximos dias é de incerta. Foram apenas 13 pedidos na última quinta-feira. Maki analisa medidas para tentar sobreviver no mercado. “Está tudo sendo conversado e estudado.  Dependendo da semana que vem, estudo a possibilidade de colocar todo mundo (os empregados) em aviso-prévio”.

Entregador em riscoTiago Aredes, de 27 anos, percorre as ruas da região da Pampulha em dias úteis para entregar pedidos, enquanto a região da Savassi é a preferida dele para trabalhar nos fins de semana. No entanto, com atuação em empresas de transporte por aplicativo, ele já percebeu queda nas entregas. Além disso, Aredes também enxergou redução no número de entregadores nas ruas. Vários deles estão no grupo de pessoas vulneráveis ao novo coronavírus, como por exemplo, portadores de doença respiratória crônica.
 
Para Tiago Arede, há falhas no decreto do prefeito Alexandre Kalil, que restringiu o funcionamento do comércio. “No nosso caso, por mais que tomemos precaução, há restaurantes que acumulam um monte de entregadores na porta. Há casos em que ficam 20 (entregadores) na porta esperando pedido. Ainda não é uma medida 100% eficiente. Tem serviços que não podem parar, como supermercados, mas o delivery é complicado”, afirma.
 
Na avaliação, há risco nessa aglomeração na porta de estabelecimento, o que não foi considerado no decreto municipal. “Eu tomo meus cuidados: afasto uns dois metros da pessoa, evito de ter contato direto, como aperto de mãos, ficamos um pouco suspeitos com dinheiro. Mas infelizmente não é todo mundo que tem essa consciência”, afirma.

Flagrante A reportagem do EM flagrou, ontem, a Guarda Municipal na porta de um restaurante na avenida Getúlio Vargas. Os agentes orientavam o proprietário do estabelecimento, Adilson Souza Carvalho, sobre o funcionamento depois da validação do decreto que obrigou comerciantes a fechar as portas. Apesar de concordar com a atitude da prefeitura como cidadão, Adilson lamentou a queda brusca de receitas.
 
“Proibiram de abrir, e minha receita a partir de hoje cessa. Mas não cessou o IPTU, apenas postergou. Então não tem como quitar as despesas porque minha receita acabou. O problema maior é que eu tenho 16 empregados. O que fazer com eles? Até para demiti-los eu tenho um custo”, reclamou. Segundo o comerciante, a folha de pagamento gira em torno de R$ 35 mil por mês, e outros R$ 20 mil são consumidos nas despesas fixas do negócio. (Com Leandro Couri)
 
A despeito da determinação de fechamento do comércio, reportagem do EM flagrou abertos açougue, papelaria a e loja de tintas(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
A despeito da determinação de fechamento do comércio, reportagem do EM flagrou abertos açougue, papelaria a e loja de tintas (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
 
 
 
Novo aprendizado para BH
 
A pandemia de coronavírus segue transformando a vida dos moradores de Belo Horizonte. No dia em que começou a vigorar a determinação do prefeito Alexandre Kalil (PSD) de fechar estabelecimentos com possibilidade de aglomeração de pessoas, a capital viveu momentos diferentes. As sexta-feira, em geral, caracterizada por intenso movimento no trânsito, teve, ontem, ruas bem mais vazias e boa parte do comércio fechou as portas.
 
Mesmo com os ônibus circulando em escala de 'dia atípico', medida determinada em conjunto com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), a maioria dos coletivos circulava sem sua lotação completa. Nos ônibus flagrados pelo Estado de Minas, nas avenidas dos Andradas e Contorno, os passageiros estavam todos assentados. Os pontos também estavam bem vazios. O cenário era semelhante no Move. A estação Venda Nova teve pouquíssimo movimento. Um motorista da linha 62 afirmou que, em duas viagens, havia transportado 10 pessoas.
 
Exceções permitidas, supermercados estavam abertos no Bairro Sagrada Família, na Região Leste de BH e, inclusive, receberam mercadorias para reposição. Entretanto, tentando minimizar o risco de contágio de seus profissionais, alguns adotaram medidas especiais. Em um destes, havia limite do número de pessoas dentro do estabelecimento.
 
“Está podendo entrar, mas estamos limitando um pouco para não ficar lotado lá dentro. Sabemos que as pessoas precisam se alimentar, mas também não podemos correr riscos. Senão fica como se nós estivéssemos andando por aí nas ruas”, diz um funcionário que estava na porta do supermercado controlando o fluxo de pessoas e preferiu não se identificar.
 
Outro tipo de estabelecimento liberado a funcionar, as drogarias visitadas pela reportagem estavam com bom fluxo de clientes. Algumas delas ainda buscavam o tão requisitado álcool em gel, que seguia desaparecido das prateleiras ou com preços exorbitantes. Outras cotavam medicamentos, com medo de uma possível falta dos produtos.
 
Mas nem todo mundo respeitou a recomendação da prefeitura de BH para fechar as portas. No Bairro Floresta, também na Região Leste da capital, foi possível ver açougues, lojas de tintas e de estofados abertas. Em Venda Nova, o mesmo se repetiu: lojas de colchões, casa de festas, papelarias também funcionaram normalmente. Na Rua Padre Pedro Pinto, por exemplo, ainda havia muita gente circulando pelas ruas. Publicado na quarta-feira no Diário Oficial do Município, o decreto assinado pelo prefeito Alexandre Kalil proíbe o funcionamento de bares, restaurantes, shoppings, cinemas, teatros, academias e parques. O serviço de delivery de comida é permitido.  (Com Leandro Couri e Gladyston Rodrigues)
 


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