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Estado de Minas ENTREVISTA/MARIANA ACHUTTI - CEO DA SPUTNIK EDUCAÇÃO

"Novas tecnologias estão deixando a sociedade exausta'', diz CEO

Executiva defende falar de saúde mental nas empresas por prevenção e melhora de produtividade


postado em 27/01/2020 04:00 / atualizado em 27/01/2020 08:40

(foto: Reprodução/Portal Splish Splash)
(foto: Reprodução/Portal Splish Splash)

São Paulo Fundadora e CEO da Sputnik Educação, uma das maiores escolas corporativas do Brasil, Mariana Achutti vem ajudando a provocar mudanças no universo das universidades mantidas por empresas, ao oferecer novos métodos de aprendizado em companhias como Ambev, Boticário, Facebook e Google.

Segundo a executiva, escolas e universidades não têm sido capazes de formar profissionais preparados para a nova era da tecnologia e para uma sociedade em permanente processo de transformação. “O formato das salas de aula que conhecemos serviu para formar as pessoas para trabalharem em fábricas: o sinal para o intervalo, as carteiras lado a lado, os uniformes”, diz ela. “Isso precisa mudar.”

Nesta entrevista, Mariana Achutti detalhe como é o seu método de trabalho, fala do notável crescimento desse mercado e das habilidades que as empresas buscam no profissional do futuro.

O fato de empresas como Ambev, Boticário, Facebook, entre outras, estarem investindo em cursos “in company” é um sinal de que a educação no país ainda não entrega o que as empresas precisam? Como está o mercado da educação corporativa?
O formato das salas de aula que conhecemos serviu para formar as pessoas para trabalharem em fábricas. Oriunda da Revolução Industrial, a forma como fomos expostos à educação se assemelha a uma unidade fabril: o sinal para o intervalo, as carteiras lado a lado, os uniformes. Isso precisa mudar. Não só o formato não é mais condizente na era da Quarta Revolução que vivemos, mas também os conteúdos que aprendemos precisam ser revisitados. Isso também vale para o que se aprende nas universidades, que não condiz mais com a complexidade do mercado atual. Por isso, há tanta procura por modelos de educação diferenciados e cursos ‘in company’. O mercado da educação corporativa está aquecido por uma necessidade intrínseca das empresas de atualização, renovação de mentalidade e de atuação perante um mundo que está mudando o tempo todo.

''Nosso cérebro não foi desenhado para o número de informações que consumimos ao longo do dia. Não desligamos nunca''



Quais os objetivos da empresa para 2020? Há espaço para crescimento?
Com mais de 10 mil alunos, minha perspectiva para 2020 é crescermos 50%. Estamos investindo em uma metodologia ‘blended learning’ (ensino híbrido). Acreditamos que o aprendizado deva se dar de muitas formas e que a sala de aula presencial é apenas uma delas. Para isso, estamos criando formatos que levem uma pluralidade metodológica para que os próprios alunos criem, de forma personalizada, as suas jornadas de aprendizagem. Sabemos que cada pessoa aprende de um jeito diferente e queremos levar a personalização como uma opção para os nossos clientes. As universidades corporativas e os cursos ‘in company’ tendem a ter baixo engajamento por parte dos colaboradores. Por isso acreditamos que a forma e a metodologia são fatores fundamentais para que os alunos vejam valor no que é ensinado. Na era do ‘lifelong learning’ (educação continuada), é preciso aprender sempre, e muitos formatos de aprendizagem são o caminho para que isso se torne dinâmico, sempre pensando na aplicação do que é aprendido.

''O formato das salas de aula que conhecemos serviu para formar as pessoas para trabalharem em fábricas: o sinal para o intervalo, as carteiras lado a lado, os uniformes. Isso precisa mudar''



Como as empresas podem estimular seus funcionários a investirem em cursos e capacitação?
O conceito de ‘lifelong learning’ é antigo, mas acreditamos que, desta vez, ele veio para ficar. Se olharmos pela perspectiva do aprendizado, estar em diversos ambientes, formal e informalmente, nos ajuda a entender que o conhecimento não está restrito a um local físico fixo, como uma sala de aula padrão. As empresas podem estimular seus f uncionários criando ambientes seguros para experimentação e criatividade. As empresas precisam enxergar o erro como processo de melhoria contínua. Investir na educação de colaboradores que entendem que podem testar seu novo aprendizado em algo é ganhar duplamente.

Em quantos estados a Sputnik atua? A empresa está em expansão?
Atendemos empresas de todo o Brasil e já fizemos projetos nos Estados Unidos, Argentina, México e Colômbia. Sinto que há muito espaço para transformação nos países da América Latina. Por isso, nosso plano para 2021 é formalizarmos nossa expansão pelo continente.

''A diversidade é a base da criatividade. Acho essencial as empresas se posicionarem investindo na contratação de times mais diversos''



Como é desenvolvido o programa de ensino para as empresas atendidas?
Nosso processo de desenvolvimento de trilhas educacionais é feito por meio de uma curadoria de profissionais, conteúdos e experiências, de acordo com a necessidade real do nosso cliente. Ocorre de forma customizada e pensada além do sintoma do problema. Focamos em entregar conteúdos e experiências que sejam caminhos viáveis para as empresas que nos procuram. Nosso primeiro passo é de diagnóstico e entrevistas com as pessoas que estão demandando, mas colocamos o aluno no centro, na maioria das vezes, para entender o que faz sentido aprender.

Muitos profissionais dizem que cursos ‘in company’ não são produtivos...
Já vi muitas empresas investindo milhares de reais em cursos que não tinham o que os funcionários queriam e precisavam. Aí, obviamente, não há um retorno concreto para esse investimento. Nossa construção de jornada de ensino leva em consideração as metas da organização, mas colocando sempre o aluno como protagonista.

Quais são as habilidades que um profissional precisa ter para alcançar o sucesso no mundo corporativo?
Hoje em dia, as habilidades mais valorizadas pelo mundo corporativo são as humanas, como inteligência inter-relacional, pensamento crítico, ética e moral, capacidade de julgamento, capacidade para lidar com emoções. Isso não somos nós que estamos dizendo, é a pesquisa “Future of Jobs”, feita pelo Fórum Econômico Mundial. E nenhuma delas aprendemos na escola.

Dados revelam que o Brasil é um dos países com mais casos de transtornos mentais no mundo. Como as empresas podem lidar com essa realidade e prevenir o aumento das estatísticas?
Foi exatamente o que falamos anteriormente sobre a necessidade de desenvolver as habilidades socio-emocionais. As empresas podem colaborar com um olhar honesto e profundo sobre a saúde mental de seus colaboradores e oferecer espaços seguros e respeitosos para todos.

É por isso que você defende a ideia de que a saúde mental deve ser uma meta corporativa. Por que e como fazer isso?
Sabemos que a velocidade da era informação está gerando inúmeras doenças psicológicas. Nosso cérebro não foi desenhado para o número de informação que consumimos ao longo do dia. São as inúmeras mensagens no Whatsapp, o feed do Instagram, o podcast, a televisão, as centenas de e-mails, e reuniões. As pessoas estão exaustas e isso não é somente culpa do trabalho. As novas tecnologias estão deixando a sociedade exausta. Não desligamos nunca.

Nesse contexto, qual deve ser o papel das empresas?
Como os casos de doenças psicológicas e a Síndrome de Burnout (a chamada síndrome do esgotamento profissional, distúrbio sintomático de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico em razão de situações de trabalho desgastantes) estão crescendo exponencialmente, as organizações devem alertar e prevenir seus times dos riscos da exaustão, criando estratégias para relações mais saudáveis com a tecnologia. Estudo recente feito pelo Google mostrou que empresas mais criativas e inovadoras são aquelas que são psicologicamente seguras. Ou seja, falar de saúde mental dentro das empresas não é somente para prevenir, mas para gerar maior produtividade no ambiente de trabalho. Acaba sendo uma relação ganha-ganha, entre funcionários e organizações.

O mercado tem exigido que as empresas invistam na diversidade. Qual é o seu ponto de vista a esse respeito?
A diversidade é a base da criatividade. Particularmente, não acredito em inovação, disrupção e criatividade sem a presença da diversidade. Acho essencial as empresas se posicionarem investindo na contratação de times mais diversos.



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