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Estado de Minas ACORDO EUA/CHINA

Perda pode chegar a US$ 10 bilhões

Promessa do governo chinês de aumentar compras em terras norte-americanas envolve produtos que o Brasil mais exporta


postado em 18/01/2020 04:00

Além da soja, os embarques brasileiros à China incluem as carnes de boi, frango e porco(foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo %u2013 24/11/03)
Além da soja, os embarques brasileiros à China incluem as carnes de boi, frango e porco (foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo %u2013 24/11/03)

 

O acordo comercial preliminar entre Estados Unidos (EUA) e China foi comemorado no mundo, mas pode sair caro para o agronegócio brasileiro, um dos grandes beneficiados pela guerra tarifária entre as duas maiores economias mundiais. Segundo cálculos do instituto de ensino e pesquisa Insper e da consultora britânica Oxford Economics, o impacto pode chegar a US$ 10 bilhões, 5% do valor total das exportações brasileiras em 2019.

 

“A perda americana com a guerra comercial foi de quase US$ 13 bilhões e, coincidentemente, as vendas do Brasil para a China foram de pouco mais de US$ 11 bilhões. Portanto, esse número corresponde a essa expectativa”, disse o professor de Relações Internacionais do Ibmec Marcelo Suano. O Brasil se tornou um aliado dos Estados Unidos com a chegada de Jair Bolsonaro ao poder em 2019, mas consiste num forte concorrente, em especial do agronegócio norte-americano.

 

No acordo assinado na quarta-feira em Washington, a China, principal parceiro comercial do Brasil, prometeu aumentar sua compra de produtos agrícolas americanos nos próximos dois anos em relação a 2017. Entre eles, estão soja, carne e outros itens importantes da exportação brasileira. A negociação pode também afetar as vendas externas do Brasil de petróleo e algodão.

 

O comércio exterior representa cerca de 20% do Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto da produção de bens e serviços) brasileiro. “Se essa guerra se encerrar realmente, a tendência natural é de que países como o Brasil, onde o setor primário, principalmente o agronegócio, é responsável pelo superávit da balança comercial, saiam perdendo”, acrescenta Marcelo Suano.

 

O Ministério da Agricultura “está estudando o impacto” do acordo entre EUA e China, explica o secretário- adjunto de Comércio e Relações Internacionais da pasta, Flavio Campestrin. “É fato que o Brasil sofrerá maior concorrência. Contudo, esse não é um resultado inesperado. Temos que ter em mente, ainda, que o impacto sobre os principais produtos exportados pelo Brasil depende não apenas do volume das importações chinesas, mas também da capacidade de incremento da produção americana para efetivamente supri-las”, destacou.

 

Na semana passada, o secretário substituto de Política Agrícola, Wilson Vaz Araújo, admitiu que o acordo poderia ter impacto, especialmente na soja, o principal produto de exportação brasileiro. No entanto, colocou panos quentes sobre o assunto.

 

“Nós ganhamos nesses anos. Acabamos tendo espaço maior no mercado. Se vamos retroceder um pouco? Pode ser. Mas acredito que o Brasil tem condição de reagir a isso e exportar para outros mercados”, afirmou. As exportações brasileiras de soja para a China, destinadas à alimentação animal, aumentaram 34% em 2018, mas caíram 24,7% em 2019, devido à peste suína que dizimou as criações desses animais.

 

Abertura Em compensação, houve um aumento de 80% nas exportações de carne bovina, 53% de frango e 101,4% de suínos, segundo o Ministério da Economia. Autoridades e analistas do mercado exterior concordam em que, a longo prazo, o acordo também beneficia o Brasil, que busca uma abertura comercial.

 

“Quanto mais equilibrado estiver o cenário internacional, melhor para todos. Tendo um crescimento econômico, o que está em jogo é nossa capacidade de concorrer no mercado internacional”, explica Suano. Com o acordo, a China também se comprometeu a comprar por US$ 78 bilhões adicionais em bens manufaturados, incluindo aeronaves, algo que poderia beneficiar a fabricante brasileira Embraer, cujo setor comercial está em processo de absorção pela Boeing americana.

 

BNDES financia exportações

 

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou, em dezembro, quatro empréstimos para exportações de aviões, ônibus e caminhões, por parte das empresas Embraer, Marcopolo, Mercedes e Scania, no valor total de US$ 370 milhões. Em nota, o banco estimou que as exportações financiadas garantirão a manutenção de 38 mil empregos no país.

 

A maior das operações foi destinada à fabricante de aviões Embraer, que tomou empréstimo de US$ 285 milhões para financiar a exportação de 11 aeronaves modelo E175 para a companhia aérea American Airlines, nos Estados Unidos. O crédito corresponde a 85% do investimento total do projeto, de US$ 335,3 milhões.

 

“O empréstimo ajuda a manter a liderança dos aviões produzidos no Brasil no mercado norte-americano de aeronaves regionais”, diz a nota do BNDES. Dois empréstimos financiarão a compra de 258 ônibus para o Sistema de Transporte Urbano da cidade de Santiago do Chile, que serão fornecidos pela Marcopolo e pela subsidiária brasileira da Mercedes. Somadas, as operações chegam a US$ 70,7 milhões.

 

O quarto empréstimo aprovado em dezembro para exportações pelo BNDES foi de US$ 15 milhões para financiar a venda de ônibus e caminhões fabricados pela subsidiária brasileira da Scania para diversos importadores no Peru. Segundo o banco de fomento, esses contratos de venda para o Peru permitirão ampliar a capacidade instalada da fábrica da Scania no ABC Paulista, o que permitiria a manutenção de 3 mil postos de trabalho.

 

Os desafios,  na visão de Guedes

 

O ministro da Economia, Paulo Guedes, participará de três painéis de discussão durante o Fórum Econômico Mundial, que será realizado em Davos, na Suíça, na próxima semana, além de uma agenda recheada de encontros. Entre os temas que serão debatidos pelo ministro, estão as perspectivas para a América Latina e a dominância do dólar na economia mundial. Na próxima terça-feira, Guedes debate o futuro do setor industrial no painel “Moldando o futuro da indústria avançada”. No mesmo dia, ao lado do presidente do Equador, Lenin Moreno, e outros convidados, o ministro participa do debate “Perspectivas para a América Latina”. Na quinta-feira, será a vez do painel “Desafiando a dominância do dólar”. 


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