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Estado de Minas INDúSTRIA

Montadoras seguem em recuperação e reforçam otimismo para 2020

Vendas em 2019 cresceram graças ao mercado interno, que deve continuar a puxar o bom desempenho esperado para este ano. Em compensação, exportações podem cair 11%


postado em 08/01/2020 04:00



Em terceiro lugar em vendas em 2019, a Fiat emplacou 366.135 unidades em todo o Brasil, considerando automóveis e comerciais leves (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Em terceiro lugar em vendas em 2019, a Fiat emplacou 366.135 unidades em todo o Brasil, considerando automóveis e comerciais leves (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

São Paulo – As montadoras tiveram uma boa notícia. Dados divulgados na terça-feira (7) pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) apontaram para um crescimento de 2,3% na produção do setor no ano passado. Para 2020, segundo projeções, o desempenho poderá ser bem melhor, apesar das exportações estarem em trajetória de queda.

Ao todo, foram produzidas em 2019 2,94 milhões de unidades – somando os segmentos de automóveis, comerciais leves, ônibus e caminhões. Desde 2014 – ano pré-crise na economia brasileira –, quando a indústria produziu 3,15 milhões de unidades, o setor não registrava um número tão alto.

Com o resultado, 2019 marcou o terceiro ano seguido de crescimento da produção de veículos. As vendas no mercado interno têm sido responsáveis pela performance nos últimos dois anos. No ano passado, os emplacamentos locais responderam por um aumento de 8,9% nas vendas, com um total de 2,79 milhões de unidades comercializadas.

Com esses números, a expectativa da Anfavea é que o Brasil tenha conseguido subir do oitavo para o sexto lugar entre os maiores mercados de veículos do mundo. Com isso, o país teria deixado para trás a França e o Reino Unido, de acordo com  números ainda preliminares da associação.

PJ AJUDOU  

Segundo a Anfavea, os contratos fechados por meio de Pessoa Jurídica foram os que mais impactaram nos números. Entre os principais clientes estão as locadoras de veículos, estimuladas pelo mercado crescente de transporte por aplicativo, o setor agrícola, ainda aquecido pela alta produção e preço das commodities, e os frotistas que buscam junto às montadoras condições melhores de pagamento.

A crise na Argentina, principal cliente brasileiro, pesou no desempenho do setor. Em 2019, a retração nas exportações de uma forma geral foi de 31,9%. O embarque de 482,2 mil unidades representou o menor resultado desde 2015, quando o Brasil vendeu para outros mercados um total de 428,2 mil.

MAIS OTIMISMO 

Para 2020, a Anfavea trabalha com um desempenho bem mais otimista do que o registrado em 2019. A entidade espera que haja um aumento de 7,3% na produção de veículos. Se o número se confirmar, 3,16 milhões de unidades sairão das unidades fabris do Brasil. Apesar de parecer um volume elevado, ainda está bem distante do que foi visto em 2012, ano de pico da indústria.

A diferença entre o que se espera para esse ano e o que as montadoras produziram em 2012 chega a 750 mil unidades. Como explica o presidente da entidade, esse número equivale a três meses do faturamento do setor. "Foi uma crise muito profunda e longa e a recuperação é lenta.” O pior momento foi visto em 2016, quando a produção de veículos foi de 2,18 milhões de unidades e as vendas chegaram a 2 milhões.

“Do ponto de vista econômico, entendemos que 2020 começa em condições melhores que 2019, tem mais tendência de consumo, certa tendência de alta para a produção, mas a gente não pode permitir que este otimismo moderado atrase a continuidade das reformas estruturais, caso contrário vamos ter mais um voo de galinha”, disse Moraes.

EXPORTAÇÕES FRACAS 

Ainda de acordo com a associação, as vendas no mercado interno deverão atingir 3,05 milhões - alta de 9,4%. Já o cenário para as exportações é desfavorável. Se a projeção se confirmar, as montadoras deverão estar preparadas para uma queda de 11% nos embarques internacionais, chegando a 381 mil unidades. Segundo Luiz Carlos Moraes, presidente da entidade, a Argentina não dará sinais de recuperação no curto prazo. "O novo governo ainda está começando e não há nenhuma novidade que indique uma retomada em 2020”, disse aos jornalistas.

O otimismo revelado pela associação das montadoras está atrelada à melhora do ambiente interno. A Anfavea acredita que o Produto Interno Bruto (PIB) deverá crescer 2,5% em 2020. Também devem impactar nos números tanto os juros quanto a inflação em baixa. Para Moraes, há espaço para redução das taxas cobradas nos financiamentos. ”Ainda há mais espaço para a taxa do CDC (Crédito Direto ao Consumidor) cair.”

AGENDA POLÍTICA 

“Do ponto de vista econômico, entendemos que 2020 começa em condições melhores que 2019, tem mais tendência de consumo, certa tendência de alta para a produção, mas a gente não pode permitir que esse otimismo moderado atrase a continuidade das reformas estruturais, caso contrário vamos ter mais um voo de galinha”, avaliou o executivo.

Para o representante das montadoras, a possibilidade de o Congresso travar a partir de maio por causa das eleições municipais é uma ameaça a agenda de reformas como a tributária, o que poderá comprometer a previsão de crescimento do país.

Na agenda traçada para Brasília, a Anfavea espera avançar na revisão do Reintegra, mecanismo de compensação fiscal para as exportações. Hoje, essa compensação é de 0,1%, mas a entidade alega, segundo estudo entregue ao governo em dezembro, que os resíduos tributários nas vendas para o exterior chegam a 12%. Moraes sabe do problema fiscal que ainda não foi totalmente desarmado pelo governo, mas disse que espera trazer o Reintegra para as conversas em 2020.

VAGAS FECHADAS  

Um dos dados negativos das montadoras em 2019 foi o de empregos. Apesar do crescimento na produção de veículos, o setor fechou 4.013 postos de trabalho em 2019, sendo 842 apenas em dezembro.  O impacto maior veio do fechamento da unidade da Ford em São Bernardo do Campo. Ainda assim, as montadoras terminaram o ano passado com 125.596 trabalhadores em seus quadros.

A recuperação das vendas por enquanto não deverá ser vista nas carteiras de trabalho assinadas. “O aumento de emprego no setor no Brasil virá quando tivermos avanços estruturais que permitam um aumento muito maior das vendas e exportações robustas. Vai ter crescimento do emprego, mas talvez não na mesma dimensão que vimos lá atrás”, afirmou Moraes.






Sobra dinheiro para quem quer financiar. Ford sofre

As vendas da Ford caíram 3,5%. Em parte por tirar alguns de seus modelos de linha, como o Focus (foto: Marlos Ney Vidal/EM/D.A Press)
As vendas da Ford caíram 3,5%. Em parte por tirar alguns de seus modelos de linha, como o Focus (foto: Marlos Ney Vidal/EM/D.A Press)

O grande destaque para a indústria automotiva foi o crédito. A avaliação é de Raphael Galante, economista e consultor da Oikonomia Consultoria Automotiva. Segundo o especialista, em 2019 a oferta de dinheiro para quem quis financiar a compra de um veículo foi grande.

Dados divulgados na última semana de dezembro pelo Banco Central mostram que, de janeiro a novembro, o estoque registrou um aumento de 71,1%. Em 12 meses, segundo o BC, o crescimento foi de 80%. O volume de crédito para a aquisição de veículos chegou a R$ 47,853 bilhões. A expectativa é que essa fonte de recursos continue a apresentar boa procura por causa da demanda ainda aquecida dos motoristas pelo transporte por aplicativo, como o Uber, como alternativa à falta de emprego.

As taxas de juros no segmento, por sua vez, estão no menor patamar histórico, de 12% ao ano, mostra o BC. "Nunca teve tanto dinheiro como neste ano. Além de a oferta de crédito existir, significa que os agentes financeiros estão com apetite para ofertar recursos. Com o alongamento do prazo de pagamento, a prestação final do carro ficou mais barata. Do lado dos bancos, há vantagem, porque as taxas estão decrescentes e essa é uma modalidade com risco baixo já que o veículo é a garantia. Isso tudo serve para melhorar a rentabilidade dos financiadores”, explica Galante.

Além das vendas atreladas aos aplicativos de transporte, outro destaque em 2019, segundo o consultor, foram os modelos para PCD (pessoas com deficiência), que são vendidos com desconto e têm algumas vantagens em tributos como o IPVA. O crescimento tem a ver não apenas com o conhecimento maior dos consumidores sobre as regras para a compra desse tipo de veículo, mas um esforço das montadoras e das concessionárias para popularizar a modalidade nos pontos de venda.

Apesar dos bons números do setor, que dá sinais de que de fato deixou o fundo do poço para trás, nem todas as montadoras têm o que festejar. A Ford, que em fevereiro do ano passado anunciou o fechamento da unidade de São Bernardo do Campo, passa por uma reformulação global dos negócios. Suas vendas caíram 3,5% em 2019. Em parte, por conta da decisão de tirar alguns de seus modelos de linha – o Focus e o Fiesta nas versões hatch e sedan.

“A Ford está se reestruturando financeiramente, reorganizando plantas para ter um resultado melhor. Hoje, a marca tem no Brasil os modelos Ka, Ecosport e Ranger. Caiu do quarto para sexto lugar. O tamanho ainda bom, mas existe o risco de perder mais participação pela falta de opções. O consumidor que tinha o Fiesta e não tem alternativa na Ford vai conhecer opções dos concorrentes, como o Argo, o Polo e o HB20. Ao conhecer outras marcas, pode ficar difícil tê-lo de volta”, avalia Galante. (PP)
 


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