(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas ENTREVISTA/FERNANDO SIGAL

O consumidor hoje está mais consciente

Para o empresário Fernando Sigal, o grupo de moda Reserva se posiciona como alternativa para um público voltado ao capitalismo consciente


postado em 16/12/2019 04:00 / atualizado em 15/12/2019 19:23

(foto: Reserva/Divulgação)
(foto: Reserva/Divulgação)


São Paulo – O grupo de moda Reserva nasceu em 2004 e segue se multiplicando em novos negócios. Fundada pelos amigos Fernando Sigal e Rony Meisler há 15 anos, a marca já rendeu inúmeros filhotes. O negócio mais recente, no segmento de calçados, foi lançado há menos de um mês, no Shopping Rio Sul (Zona Sul do Rio). A Reserva Go, braço da Reserva, é a nova marca de calçados e se soma a outros quatro ramos do grupo. Ações de sustentabilidade foram incluídas no empreendimento, acompanhadas de inovações tecnológicas.

A primeira loja da Reserva Go permite que o cliente, por meio de uma tela touch, customize um dos modelos da marca, trocando cores e outros acessórios, num total de 4.500 combinações possíveis. O produto chega na casa do cliente, segundo a empresa, em até 21 dias. Quem levar um tênis antigo ganha desconto. A tecnologia também tem sido importante no grupo para monitorar de perto as medidas dos clientes.

Com o uso de ferramentas de inteligência artificial (IA), hoje é possível entender se uma modelagem de camisa não está funcionando bem e alterá-la a partir de informações de vendedores e consumidores. Em 15 anos, o grupo conseguiu chegar a 100 lojas próprias e 22 franquias, além da presença em cerca de 1,5 mil lojas multimarcas. Ao todo, são quase 2 mil funcionários. Neste ano, conta Fernando Sigal, diretor de Produtos da Reserva, a previsão é chegar a um faturamento de R$ 400 milhões. A seguir, trechos da entrevista com o fundador da marca carioca.
 

"Nunca tivemos os olhos voltados para a Ásia, mesmo sabendo que teríamos um fornecimento mais barato"

 
 
A marca foi fundada em 2004, quando a economia brasileira tinha outra cara. Atualmente, o que mudou em termos de produto e de público consumidor?
O crescimento da marca foi muito orgânico. O negócio surgiu do sonho de dois amigos, que por sua vez começaram a vender para os amigos, que eram formadores de opinião. A empresa cresceu conforme o Brasil também avançou. A Reserva conseguiu ter uma capilaridade nacional e se posiciona como alternativa para um público consciente. Tudo isso faz com que muitas pessoas, de diversos nichos, se conectem com a Reserva. O grande ponto da marca é essa consciência. Temos mais do que um cliente, temos um fã, um amigo, tanto pelo atendimento como pela preocupação em encantar.

Por que a marca abraçou a proposta do capitalismo consciente?
Rony e eu somos amigos desde os 2 anos de idade. Em casa e na escola, fomos educados para devolver ao mundo o que ele nos dá, por isso sempre tratamos a Reserva como mais do que um negócio. Claro que muita coisa teve de ser mudada ao longo do tempo, mas conseguimos crescer com esse propósito. Hoje, por exemplo, 95% da produção é feita no Brasil. Nunca tivemos os olhos voltados para a Ásia, mesmo sabendo que teríamos um fornecimento mais barato. O Brasil dá tanto para a gente, como não devolver para o Brasil? É uma questão ideológica. Atualmente, o que vem da China são os casacos de inverno, mas até o algodão do Peru é trazido para ser tecido no Brasil. Tem coisas que acontecem na Reserva que ninguém fica sabendo, são da essência.

A marca acabou se transformando em um grupo com outros negócios (com Reserva Mini, Ahlma, Oficina, Eva e Reserva Go). A partir de quando vocês identificaram a necessidade de ampliar a atuação em novos segmentos?
A Reserva é um laboratório, que é mutante, cresce, amadure e evolui. No caso dos calçados, vimos que havia uma demanda muito mal atendida no Brasil, por isso temos uma crença grande nesse mercado. O calçado masculino tem muito pouca referência, poucas marcas focadas no negócio. Isso já é uma oportunidade a partir do momento em que existem poucos players.

Até que ponto a tecnologia ajuda no dia a dia da empresa? Quais são os ganhos que vocês têm hoje que não eram possíveis no começo?
A tecnologia é essencial hoje. Conseguimos chegar em lugares que só a tecnologia permite, seja por meio do site, do omnichannel ou com a nossa loja de Belém, que vende os mesmos produtos das lojas do Rio ou de São Paulo. O mais importante é que a tecnologia nos ajuda a tomar decisões melhores. Na Oficina, por exemplo, usamos um algoritmo de medidas para entender como evoluir as modelagens. Adotamos inteligência artificial e um sistema de nuvem para entender onde precisamos focar. A mineração de dados entra aí. Internamente, temos uma área que busca tecidos tecnológicos adaptados à anatomia do cliente. Agora, com base em feedbacks de clientes e vendedores, conseguimos a cada coleção melhorar as modelagens e entregar um produto melhor.

Como funciona o projeto dos tecidos?
A partir de estudos para camisaria, por exemplo, podemos produzir camisas para a pessoa usar em uma viagem, com tecnologia antiodor ou mesmo com impermeabilização para evitar manchas causadas por líquidos.

É só tecnologia ou o cliente tem participação nesses processos?
Uma vez por semana, um cliente é convidado para um café e, olho no olho, nos diz o que pensa e isso nos ajuda a entender mais sobre a marca. Não acredito só em tecnologia ou só nesse contato, mas na junção dos dois. Somamos a isso o que nos dizem os vendedores. Por exemplo, o que as pessoas têm falado sobre o tamanho de um bolso que não permite que uma carteira fique bem.

Não é incomum ver no comércio popular produtos pirateados com a marca Reserva. Até que ponto esse é um problema?
A pirataria faz parte do mercado brasileiro. Como todas as marcas, conseguimos nos diferenciar garantindo que os produtos tenham qualidade e pensando sempre acima do que a pirata entregaria como benefícios. Também temos ações mais pragmáticas para diminuir a pirataria, como o encaminhamento de denúncias para as autoridades.

A crise tornou mais difícil vender moda no Brasil? Como contornar o problema da renda e do desemprego?
Temos uma inteligência interna que nos permite colocar o mix certo em cada loja. Ele é pensado para atender a diferentes tipos de clientes. Seria uma mentira falar que não sentimos os efeitos do desemprego e da economia mais fraca, mas agora vemos que ela está acelerando cada vez mais.

Como está o processo de internacionalização dos negócios?
Isso é estudado. Somos ágeis para tomar decisões, depois de virar a chave é tudo muito rápido, mas agora não há uma previsão sobre quando a internacionalização deve acontecer. Mas a ida para outros países é uma das estratégias que discutimos. Temos muitas coisas sobre a mesa sendo avaliadas como oportunidade, mas não existe nada de concreto que eu possa falar.

Como o grupo tem financiado a expansão? 
Em determinado momento, um fundo de investimentos passou a fazer parte da empresa, há cinco anos, mas temos condições de nos financiar, somos geradores de caixa.

Enquanto há empresas de moda com propostas ligadas à responsabilidade socioambiental, como a Reserva, no Brasil e no exterior, há casos de companhias do setor envolvidas com trabalho análogo à escravidão, remuneração baixa e falta de preocupação com o uso de recursos naturais. Até quando esse cenário vai perdurar?
Há economias mais evoluídas quanto à sua consciência e outras que estão bem abaixo do razoável. Mas o importante é que a nova geração é muito mais consciente do que as anteriores. Esse comportamento que nós e outras empresas adotamos é parte integrante do que ela quer consumir. O mercado como um todo está em transformação. A criação da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvetex) faz parte dessas mudanças. Cada vez mais as marcas de moda vão compreender que o mercado consumidor está mais consciente ambiental e socialmente


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)