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Estado de Minas USO MEDICINAL

Brasil adere à indústria bilionária da maconha

Com a aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, país passa a autorizar a produção e venda de medicamentos em farmácias, o que pode aumentar o interesse dos investidores


postado em 04/12/2019 04:00 / atualizado em 04/12/2019 08:28

Expectativa de aumento do consumo de derivados da cânabis atrai interessados em investir (foto: HempMeds/Divulgação )
Expectativa de aumento do consumo de derivados da cânabis atrai interessados em investir (foto: HempMeds/Divulgação )

São Paulo – A indústria brasileira da cânabis comemorou ontem a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que aprovou novas regras para o registro e venda de produtos derivados da planta para uso medicinal no Brasil. Agora, as empresas que conseguirem autorização do órgão regulador poderão fabricar produtos no país e vendê-los em farmácias.
 
Os números globais desse mercado não são precisos, mas apontam para a expansão exponencial. No primeiro semestre, o Banco de Montreal, a instituição privada mais antiga do Canadá, apontou, em relatório, que a receita mundial até 2026 pode chegar a US$ 194 bilhões. Em 2018, segundo o banco, teriam sido movimentados cerca de US$ 18 bilhões.
 
Já a consultoria Euromonitor International avalia que, até 2025, esse mercado será responsável por movimentar US$ 166 bilhões. Se a soma se confirmar, representará um crescimento de aproximadamente 1.200% em relação ao apontado em 2018, quando as vendas de cânabis, segundo a companhia, foram de US$ 12 bilhões.
 
A aprovação, confirmada pela Diretoria Colegiada da Anvisa, foi por unanimidade. O texto publicado pela agência detalha as exigências para a regularização desses produtos no país e determina quais serão os parâmetros de qualidade. A regulamentação ainda depende de publicação no Diário Oficial da União e entra em vigor após 90 dias.
 
Ficou estabelecido, ainda, que a norma, denominada Resolução da Diretoria Colegiada (RDC), deverá ser revisada em até três anos após essa data. Essa decisão foi tomada em função do que foi classificado como "estágio técnico-científico" dos produtos à base de Cannabis no mundo.
 
Assim como funciona para outros produtos, fabricantes e importadores desse tipo de medicamento terão de submetê-los às regras e a análise da agência para, só então, com a aprovação do órgão regulador, poderem fazer a comercialização. A expectativa é que tanto as empresas que já atuam na importação desses produtos quanto aquelas que ainda não atuam no Brasil passem a fazer as contas e desenhar modelos de negócios que se comprovem viáveis dentro das novas regras.
 
Por meio de nota, a Anvisa recomendou que as empresas não abram mão de suas estratégias de pesquisa para comprovação da eficácia e da segurança das formulações. "Estamos diante de uma situação em transição regulatória, uma vez que as propostas para os produtos derivados de cânabis se assemelham às mesmas estratégias terapêuticas de um medicamento”, alertou.
 
Com o marco regulatório, os produtos à base de cânabis passam a compor uma nova classe de medicamentos no Brasil. A adequação às regras não será simples. Passa pela aprovação dos produtos dentro das regras da Anvisa, adequação de bula e embalagem (que terá tarja preta), instalação de laboratórios e rede de distribuição para as farmácias. A manipulação está proibida, apenas a venda do produto industrializado.
 
Quem optar por importar em vez de nacionalizar a produção só poderá trazer a matéria-prima semielaborada. É proibida a importação da planta. Essa decisão em certa medida frustra os planos de algumas empresas que atuam no setor dentro e fora do Brasil. Por exemplo, aquelas dedicadas a insumos para o plantio, como estufas.

IMPORTAÇÃO


Uma das empresas que apostam no potencial das vendas de medicamentos feitos com cânabis no Brasil é a HempMeds, uma das subsidiárias da Medical Marijuana, dos Estados Unidos, a pioneira do setor a ter ações listadas em bolsa.
 
A HempMeds já vem atuando no Brasil para a importação de medicamentos à base de canabidiol. Até agora, o processo envolvia uma grande burocracia e a liberação é feita em caráter excepcional. O médico tinha de atender a uma série de exigências e preencher uma papelada para submeter o pedido à Anvisa, que, por sua vez, ficava sobrecarregada com essa demanda. Todo o processo leva até 90 dias até a chegada do medicamento nas mãos do paciente.
 
Mesmo assim, a empresa conta atualmente com 1.200 pacientes ativos em sua base, crescimento de 240% nos últimos três anos. Além disso, tem cerca de 1.100 médicos cadastrados. É um número muito pequeno, em um país que conta com aproximadamente 450 mil médicos, admite Matheus Patelli, gerente de operações da companhia.
 
“Agora, um dos desafios será informar ao médico que a produção passará a ser nacional, quais são as dosagens, a posologia e as diferenças entre os tipos de medicamentos que produzimos”, explica Patelli. Para isso, a empresa vai aumentar as pesquisas no Brasil, onde há dificuldades para investigar o uso da planta, em decorrência dos problemas para a importação. Israel e Estados Unidos, por usa vez, lideram os trabalhos na área.
 
Para atender às regras da Anvisa, a HempMeds continuará a importar o óleo. Hoje em dia, as plantações de Cannabis sativa, rica em CBD, ficam na Polônia e o processamento do óleo é feito nos Estados Unidos. Agora, a empresa faz planos para não apenas aumentar a equipe de apenas 11 pessoas no Brasil, mas investir em estoques e na distribuição para as farmácias, o que poderá ser feito por meio de parcerias com empresas especializadas.
 
“Grande parte da discussão sobre o tema é baseada em desinformação e em preconceito. Chamam de a 'erva do mal'. Mas não é isso que se vê quando tantas famílias falam da mudança da qualidade de vida que seus doentes tiveram com esse tipo de tratamento. Como essa 'erva do demônio’ pode estar salvando tanta gente? Estamos falando de medicina, não de uso recreativo”, explica o executivo.
 
Atualmente, a HempMeds tem em seu portfólio nove produtos, que vão do CBD isolado à versão filtrada, que exclui a clorofila. Basicamente, esses medicamentos atendem a dois tipos de necessidade. Aqueles com até 0,2% de THC são mais usados para casos de epilepsia e mal de Parkinson. Esses precisarão da receita azul para a compra em farmácia. A outra categoria, que vai exigir a receita amarela e tem índices de THC acima de 0,2%, só será liberada para pacientes terminais.

De olho nos ganhos com a planta


O mercado de ações tem sido uma das portas de entrada de investidores interessados nos possíveis ganhos com a maconha. A Medical Marijuana Inc. foi a primeira empresa a ser listada em bolsa nos Estados Unidos. Tem crescido também o número de empresas de outros setores, como o de bebidas e de cosméticos, que têm se aproximado desse setor em busca de parceria ou como investidores, por conta de expectativa de aumento do consumo de derivados da cânabis no mundo.
 
Há pouco mais de um mês, uma gestora brasileira lançou o primeiro produto financeiro formado exclusivamente por ativos da indústria da cânabis. O fundo Vitreo Canabidiol FIA IE teve uma procura acima do esperado e a expectativa era que atraísse aportes totais de R$ 50 milhões a R$ 100 milhões.
 
A gestora levou seis meses na estruturação do produto. O primeiro fundo brasileiro lastreado em negócios da cânabis é formado por ações de empresas americanas e canadenses que atuam nesse segmento e por ETFs (abreviação para Exchange Traded Funds, como são chamados os fundos de índices comercializados como ações). As empresas que compõem o fundo têm negócios diversificados no setor: atuam na atividade agrícola, imobiliária (por meio de galpões em que as plantas são cultivadas), cosméticos, bebidas e farmacêutico.

TABU


Na época do lançamento, George Wachsmann, CIO da Vitreo, disse aos Diários Associados que estava preparado para possíveis polêmicas em torno do tema. “São tabus em uma sociedade conservadora, mas não estamos tomando partido nem de um lado, nem de outro. Iniciativas como esse fundo poderão colaborar para dar mais clareza sobre o assunto. Particularmente, ficarei muito feliz que mais doenças possam ser tratadas e seus sintomas melhorados”, declarou, na ocasião. 


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