(none) || (none)
UAI

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas

Marcha para a Amazônia

Não podemos simplificar chamando de grileiros os que incendeiam a Amazônia. É um tsunami humano ávido por terra


postado em 15/10/2019 04:00

Antônio Polankzyk
Engenheiro e ex-presidente de Cia Siderúrgica Belgo-Mineira

 
 
 
 
 
 O clima seco, a ausência de chuva e o desmonte da estrutura do Ibama transformaram  a Amazônia em um imenso incêndio. O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, falando ao jornal Estado de Minas, mencionou que existem três figuras complicadas na região: o madeireiro, o garimpeiro e o grileiro. O primeiro quer a madeira, o segundo o ouro, mas ambos não têm interesse em incêndios. O grileiro que busca terra para criar gado é o incendiário.

Mario, da terceira geração de imigrantes chegados às terra gaúchas, herdou do pai 25 hectares de terra, onde praticava uma agricultura familiar. Tem cinco filhos, e a terra ficou pouca para tanta gente. Escutou que havia terras baratas perto de Campo Grande. Foi ver, gostou, vendeu sua terra e mudou-se para lá. Com seu sotaque típico relata que "quando aqui cheguemo não tinha nada, era puro mato". Toda a família trabalhou arduamente, de sol a sol, nos dias de plantio e de colheita.

Hoje a família tem 4 mil hectares de soja e milho, um parque de máquinas agrícolas, secadores e silos de grãos, casas na cidade. "Estamos muito melhor do que no Sul". Multiplicando casos como este, o Centro-Oeste foi ocupado e transformado em um dos celeiros do mundo. Basta olhar os sobrenomes alemães, italianos, poloneses e o seu aspecto físico para ver que são descendentes de imigrantes. "Aqui, na região, nois tudo semo gaúcho, até o padre".

No final do século 19 chegaram ao Sul do Brasil mais de 500 mil imigrantes para ocupar as terras com florestas e não utilizáveis pela tradicional pecuária gaúcha. O governo criou a colônia de Jaguari e vendeu para cada casal 25 hectares de terra coberta de mata. Eram famílias numerosas, cinco a 10  filhos, e logo na segunda geração verificou-se que a terra seria insuficiente para todos. Continuar dividindo as terras restantes do estado foi uma atitude natural.

Na década de 1940, todas as terras inicialmente cobertas por florestas situadas às margens do Rio Uruguai foram transformadas em propriedades de 25 hectares. Nem as araucárias do nordeste gaúcho resistiram. Ocupado todo o espaço, mas agora por iniciativa própria, as terras do oeste catarinense e paranaense foram alvo dessa massa humana necessitando de terras.

Na década de 1970, terras com custo atraente na região central do país despertaram interesse. Uma combinação de fatores: o programa Polocentro, abertura de estradas, Embrapa, atuação do Banco do Brasil e o mercado externo da soja e da carne arrastaram milhares de agricultores e criadores ambiciosos e ávidos por terra. O cerrado não resistiu e em poucos anos foi substituído por lavoras e pastagens.

Fronteiras nacionais não são obstáculos. São mais de 500 mil "brasiguaios" e o avanço de plantadores brasileiros de soja, feijão e milho na Bolívia é conhecido. Ocupadas as regiões de matas e araucárias na região Sul e o cerrado do Centro-Oeste, o alvo passou a ser a Amazônia.

Não podemos simplificar chamando de grileiros os que incendeiam a Amazônia. É um tsunami humano ávido por terra. Assemelha-se a uma colônia de formigas, com motosserras e caixas de fósforo avançando em direção ao norte. É uma força irresistível, como foi a marcha para o oeste nos EUA. Ao longo de todas as rodovias, fotografias mostram áreas desmatadas. Mesmo com satélite, Inpi, Ibama, leis, regulamentos e esforços dos ambientalistas, a floresta não resiste a essa inexorável marcha de criadores e agricultores. Tropas para apagar incêndios, prender alguns e aplicar multas que nunca serão pagas não parecem ser a solução.

Como abordar o problema? Volto às palavras do general Hamilton Mourão: "Praticamente 50% do bioma da Amazônia é área preservada. Compete ao governo impedir que essas áreas sejam exploradas de forma ilegal".

É simples, mas é necessário agir. Em primeiro lugar, demarcar as terras que formam a reserva amazônica. Os grileiros devem saber onde podem e onde não podem se instalar.

Fiscalizar e proteger as reservas. O sistema atual fracassou, na prática. É necessário criar uma Guarda Floresta Amazônica, subordinada diretamente a Brasília e aquartelada na floresta. Postos de vigilância, quartéis e acampamentos em toda região, especialmente ao longo de rodovias, para impedir que as motosserras sejam ligadas.

Esta marcha para o Norte precisa e pode ser direcionada e controlada.




receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)