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Estado de Minas

Estagnação no Brasil faz disparar pedidos de visto para os EUA

A apatia da economia nos últimos anos multiplicou os pedidos de permissão para brasileiros trabalharem em empresas americanas. Nos últimos 5 anos, solicitações cresceram 200%


postado em 02/08/2019 06:00 / atualizado em 02/08/2019 08:42

(foto: Arquivo pessoal )
(foto: Arquivo pessoal )

 São Paulo – Desemprego baixo, economia aquecida, salários em dólar, mais segurança e maior chance de ter qualidade de vida. A combinação de todos esses ingredientes, que descrevem o pujante momento do mercado americano, somada a um cenário oposto no Brasil, está fazendo disparar o número de brasileiros dispostos a deixar o país.

De acordo com a Hayman Woodward (HW), empresa americana especializada em mobilidade global e imigração, sediada em Washington, o ritmo de crescimento dos pedidos de permissão de trabalho para os Estados Unidos neste ano está cerca de 200% acima da média dos pedidos de 2013.

 “Só nos primeiros cinco meses deste ano, já atendemos mais clientes do que nos primeiros sete meses de 2018, e a expectativa para 2019 é bater novo recorde”, afirma Leonardo Freitas, sócio-diretor da HW e especialista em imigração. Em números absolutos, o escritório participou do processo de emissão de 4.300 mil vistos no ano passado, uma alta de 152,3% sobre os 1.704 vistos de 2013 e de 27,7% na comparação com os 3.366 pedidos de 2017. “Até dezembro, com certeza, teremos um volume ainda maior de pedidos, superando a marca de 6 mil processos no acumulado do ano.”

O êxodo de mão de obra brasileira não se restringe aos que buscam uma oportunidade nos Estados Unidos, onde se estima a presença de 1,4 milhão de brasileiros legais e ilegais, segundo dados do Ministério das Relações Exteriores, referentes a 2018. Fora do mercado americano, os destinos preferidos são Japão (210.032), Paraguai (201.527), Portugal (140.426), Espanha (128.238), Reino Unido (118 mil), Alemanha (95.160), Itália (67 mil), França (44.622) e Argentina (43 mil).

“O Brasil enfrenta um período de desemprego e recessão histórica, que não dá sinais de recuperação rápida e isso tende a intensificar ainda mais o fluxo migratório”, acrescenta Freitas, da HW. “Existe, de forma geral, uma frustração com a crise, principalmente após o período de prosperidade que o país alcançou na primeira década dos anos 2000.”

O imenso exército de trabalhadores que estão fazendo as malas só não é maior porque a burocracia de imigração é grande. De acordo com o instituto de pesquisas Datafolha, em 2018, cerca de 70 milhões de brasileiros com mais de 16 anos declararam que gostariam de deixar o Brasil. Trata-se de um terço da população do país, hoje estimada em 210 milhões de habitantes. Essa estatística é ainda maior entre jovens de 16 e 24 anos, já que 62% dos brasileiros dentro dessa faixa etária (cerca de 19 milhões de pessoas) manifestaram o desejo de migrar para outros países.

“É uma perda considerável, porque pode representar uma fuga de jovens que deixam de contribuir para o desenvolvimento da economia em busca de uma oportunidade melhor”, afirma Paulo Moraes, sócio e diretor-geral da consultoria internacional Talenses Executive Search. “Diferentemente do que ocorria algumas décadas atrás, o brasileiro que está se mudando do país é altamente qualificado, uma mão de obra que vai fazer falta para as empresas quando a economia reagir.”

DIFERENCIAL 

Nos Estados Unidos, que recebem mais de 30% dos expatriados, o setor privado acomoda a maioria dos brasileiros (73%). Os principais segmentos são administração, ciências, tecnologia, educação, saúde, hotel, entretenimento, arte, restaurantes, comércio e construção civil.

Em relação aos 27% que decidem emigrar para empreender, o levantamento da Hayman Woodward ouviu depoimentos de que os lucros são maiores que em seu país de origem, uma vez que existem menos impostos e burocracia. “A facilidade de abrir empresa ou de conseguir um trabalho com boa remuneração é sempre um diferencial que atrai brasileiros”, garante João Marques, dono da consultoria Emdoc, especializada em mobilidade global de pessoas.

Neste ano, as profissões mais buscadas pelos brasileiros nos EUA foram médicos, fisioterapeutas, dentistas, nutricionistas, engenheiros, pilotos de avião, profissionais de TI, arquitetos e profissionais de educação.

O que é bom para os Estados Unidos, é preocupante para as empresas brasileiras no médio e longo prazos. Isso porque, 89% dos brasileiros que trabalham legalmente nos EUA são pós-graduados ou graduados. Apenas 11% não completaram o primeiro ou segundo grau. Por consequência, a renda média anual deles está acima do valor dos próprios americanos. Enquanto os brasileiros residentes nos EUA recebem anualmente US$ 55 mil, os americanos totalizam US$ 54,46 mil de renda média anual.

“Isso evidencia dois fatores: o Brasil não está sendo capaz de absorver sua mão de obra qualificada, o que fica evidente com a comprovada fuga de talentos e, também, que o nível médio de qualificação dos brasileiros que vivem nos Estados Unidos tem se mostrado superior ao dos americanos”, acrescenta o especialista.


ENTREVISTA


Leonardo Freitas
sócio-diretor da Hayman Woodward e especialista em imigração


Mais de 90% consegue recolocação na sua área


Qual o perfil do imigrante que está buscando oportunidades lá fora?
O perfil do imigrante hoje é bem diferente do perfil do imigrante que vinha para os Estados Unidos na década de 1980 e 1990. São pessoas que têm uma renda anual acima de R$ 55 mil, graduação completa ou pós-gradução. Algumas não têm trabalho nos Estados Unidos quando chegam, mas vão com a intenção de empreender ou são recolocadas no mercado de trabalho. A maioria, mais de 90%, consegue recolocação na sua área de atuação, inclusive médicos, dentistas, profissionais liberais, advogados, pilotos de aviação comercial, nutricionistas, profissionais na área de TI e nos segmentos de administração, tecnologia, educação, ciência, saúde hotelaria, entretenimento, gastronomia e construção civil. Mas algumas profissões precisam de validação de diploma.

A que se atribui essa disparada do número de brasileiros indo para o exterior?
Sem dúvida nenhuma isso se deve à crise econômica dos últimos anos. Em 2016, nosso negócio cresceu 105%. Em 2017, cresceu 200% sobre esses 105%. Em 2018, crescemos 200% novamente, e não só no processo de imigração, mas também com planejamento tributário para pessoas que estão abrindo um negócio ou se mudando para o exterior. Nos últimos cinco meses deste ano, atendemos mais clientes do que nos sete primeiros meses de 2018. Já atendemos 2.100 famílias.

Por que nos cinco primeiros meses de 2019 houve uma alta tão significativa?
Chamo isso de efeito chicote. Havia um movimento muito grande de tensão entre esquerda e direita no Brasil, e a população começou a perceber que tudo o que ocorreu nos últimos anos vai demorar para se reverter. O êxodo brasileiro é de pessoas que estão desgostosas com o Brasil e infelizmente não veem uma saída melhor do que o aeroporto para encontrar uma qualidade de vida melhor, não só nos Estados Unidos, mas em vários outros países.

Qual a previsão para o segundo semestre?
Sem dúvida, vai crescer. A lei migratória para os Estados Unidos ainda está bem propícia, é bem receptiva para o imigrante que tem uma carreira entre cinco e 10 anos de formação acadêmica, com bacharelado para cima. Tendo um certo destaque na sua carreira, a pessoa consegue de uma maneira bem tranquila. Não diria que é fácil, mas tendo a documentação, cumprindo os critérios, obviamente, como as estatísticas vêm demonstrando, tem uma média de 85% de aprovação.

Em sua opinião, uma melhora da economia do Brasil reduziria esse ritmo?
A melhora da economia não melhora, necessariamente, a questão do êxodo. A economia melhorar não necessariamente melhora a segurança pública, que é o maior problema que as pessoas enxergam.

Existe demanda também para outros países?
Sim. Recebemos pedidos para outros países, como Reino Unido, Austrália, Canadá, Emirados Árabes, Arábia Saudita, China, Hong Kong e África do Sul. Mas os brasileiros ainda continuam procurando mais pelos Estados Unidos, Canadá e Portugal para migrarem.




. Os destinos preferidos

Os países mais procurados 
por profissionais brasileiros, 
segundo estudo da consultoria americana Talenses:

. EUA 32,53%

. Canadá 17,16%

. Portugal 15,02%

. Reino Unido 5,51%

. Espanha 5,42%

. Alemanha 5,24%

. Austrália 3,82%

. Itália 2,67%

Fonte: Pesquisa Profissionais no Exterior/Talenses 


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