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Estado de Minas

Acordo Mercosul e UE anima produtores de cachaça no Brasil

Para representantes do setor, o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia pode turbinar a exportação do destilado, que hoje representa menos de 1% da produção


postado em 11/07/2019 06:00 / atualizado em 11/07/2019 12:17

Engarrafamento de cachaça em Salinas: produtos artesanais e de qualidade podem ser os principais beneficiados com a abertura de mercado (foto: GRUPO SALINAS/DIVULGAÇÃO 19/6/14)
Engarrafamento de cachaça em Salinas: produtos artesanais e de qualidade podem ser os principais beneficiados com a abertura de mercado (foto: GRUPO SALINAS/DIVULGAÇÃO 19/6/14)

O acordo de livre-comércio entre os países do Mercosul e da União Europeia acende a expectativa em produtores de cachaça de que o destilado de nacionalidade brasileira caia nas graças do Velho Continente. Menos de 1% da produção da bebida alcoólica, a segunda mais consumida no país – atrás apenas da cerveja –, é exportada, de acordo com a Associação Nacional de Produtores de Cachaça de Alambique (Anpaq). Ainda em discussão, o tratado que acaba com o imposto de exportação entre os dois blocos também reconhece a indicação geográfica da cachaça, o que garante que essa denominação, na Europa, seja exclusiva da aguardente de cana-de-açúcar proveniente do Brasil.

Entre quem já trabalha com a exportação do produto, a isenção tributária – que vai ocorrer gradualmente em cinco anos – é comemorada e reforça análises de mercado que apontam que, depois do gim e do rum, atualmente em alta, a cachaça será o próximo destilado a estourar na Europa. Lado a lado com o entusiasmo de um público além-mar, há apreensão por parte dos produtores de que a isenção de tributos às bebidas importadas leve brasileiros a trocar a cachaça por  uísque, bourboun, rum ou outro destilado.



Apesar disso, ninguém discute que a abertura de mercado representa a chance de apresentar a cachaça para o mundo e ampliar números tímidos. No ano passado, apenas 8,4 milhões de litros da aguardente foram exportados, frente a uma produção de mais de 1,2 bilhão de litros, que fez girar R$ 8 bilhões na cadeia produtiva. O comércio da bebida no exterior movimentou R$ 15,6 milhões em 2018, conforme dados apresentados na última Expocachaça, maior feira do setor. Minas Gerais, que concentra 44% dos alambiques do país, pode ser uma das grandes beneficiadas por esse acordo comercial.

A maior parte (80%) da exportação correspondeu à cachaça industrial, sendo que a artesanal, produto de maior valor agregado, representou somente 20% do volume total. Embora um quarto da produção vá para o Paraguai (24,86%), a quantidade exportada aos países europeus com maior representatividade nas vendas corresponde a 44% do total. A Alemanha foi a destino de 23,3% desse montante.

“Ainda não temos um estudo completo, mas nossa expectativa é que melhore muito a parte de exportação, porque a tributação acaba sendo onerosa”, afirma o presidente da Anpaq, José Otávio de Carvalho Lopes. Em linhas gerais, uma garrafa de cachaça de 6 euros acaba custando cerca de 11 euros com a tributação e a logística, quase o dobro.

Mas, além de vislumbrar novo público, o acordo traz receio quanto a novos concorrentes. “Tenho uma preocupação diferente. Possivelmente, cheguem destilados no Brasil com o preço muito baixo em relação à cachaça de alambique e pode ser uma desvantagem, uma competição predatória”, afirma Lopes. Em relação à tributação do produto interno, uma das defesas dos produtores de cachaça é que a alíquota varie conforme a gradação alcoólica, e não em relação ao valor agregado.

A abertura de mercado demandará a adequação dos alambiques, na avaliação do presidente da Expocachaça, José Lúcio Mendes. “Acredito que o pequeno empresário que exportar em pequenos volumes pode sair na frente e conseguir bons resultados. Vamos ter que nos preparar para aguentar a concorrência que vem de fora”, afirma.“A exportação é via de mão dupla. Vamos ter que aguentar a concorrência dos outros destilados. Hoje, a cachaça representa 86% do mercado de destilados no Brasil”, completa Mendes.

Mendes aposta que a cachaça pode se beneficiar ainda de dois movimentos no mercado de bebidas: a valorização dos artesanais e dos produtos premiados, com alto valor agregado. “O produtor tem que trabalhar nichos de mercado para a cachaça artesanal, com foco em produtos com diferenciais de qualidade e premiações, com alto valor agregado”, diz.

Próxima moda

Um bom exemplo para aumentar a exportação são consórcios que promovem a união de produtores para exportar mais volume, rateando custos de logística e armazenamento. O Cachaça HUB, iniciativa que une produtores de cachaça para ganhar mercado externo, com foco no produto artesanal, já tem colhido frutos dessa experiência. Desde março, um grupo de nove marcas, sendo três mineiras, exporta para Luxemburgo, país com tributos menores e posição estratégica no continente europeu.

O primeiro lote foi de 64 caixas e, agora, o grupo já vai enviar o primeiro contêiner das artesanais, que abastecerão quatro pontos de venda. “O nosso objetivo é aumentar para mais 1% a exportação da cachaça. Ninguém conhece a cachaça e é uma grande oportunidade. A quantidade de cachaça artesanal é mínima. A maioria esmagadora é a industrial”, afirma o cofundador do Cachaça HUB, Luiz Salles, que já tem interessados na Finlândia, em Portugal e na Inglaterra.

Salles ficou um mês na Europa estudando o mercado e identificou que o destilado brasileiro está sendo cotado como a próxima moda no Velho Continente, depois do gim e do rum. “Esse boom ainda está por vir”, diz. Ele também chama a atenção para a necessidade de adequação das embalagens e do apoio do governo na promoção de eventos para divulgar o produto no exterior. “Um ponto bem chave dentro desse processo é o apoio do Estado”.

Produtor da cachaça artesanal Taverna de Minas, a mais premiada no Concurso Mundial de Bruxelas, e professor na Fazenda Escola Cana Brasil, Arnaldo Ribeiro afirma que o acordo chega na melhor hora do setor. Há dois anos, os produtores puderam migrar para o Simples, o que diminuiu a tributação no mercado interno e agora podeM vislumbrar o público externo.

“Como é um produto exclusivo do Brasil, quanto mais tiver abertura, melhor”, diz. A Taverna de Minas integra o Cachaça HUB e traça a meta de exportar 50% da produção, hoje de 100 mil litros. Atualmente, apenas 15% dela é voltada para o comércio exterior, com foco na França, Luxemburgo e China. “A cachaça, com o livre mercado, tem melhor qualidade e menor custo que o uísque”, diz

Saiba mais - Acordo comercial

Segundo o Ministério das Relações Exteriores, o acordo comercial prevê que garrafas inferiores a 2 litros tenham tarifas isentas em até quatro anos. No caso do produto a granel, cuja cota chegará a 2,4 mil toneladas ao ano, essa transição até o imposto zero levará cinco anos. Por definição, segundo a Anpaq, a cachaça é obtida a partir do mosto destilado da cana-de-açúcar e tem gradação alcoólica entre 38% e 48%.

Água na fervura

O presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou ontem a seus ministros que tem “questionamentos” sobre as condições “ambientais”, “sanitárias” e sobre os ramos de atividade sensíveis previstos no acordo firmado pelos países do Mercosul e da União Europeia (UE), enquanto pecuaristas irlandeses protestaram contra o tratado em Dublin. Segundo a porta-voz do governo francês, Sibeth Ndiaye, Macron quer “respostas extremamente claras” para dúvidas sobre as condições ambientais, de normas sanitárias e sobre o impacto nos negócios de mercados considerados sensíveis, como de carne bovina, açúcar e aves. “O presidente quer ter detalhes sobre a maneira como as cláusulas de salvaguarda que integram esse acordo comercial poderiam ser ativadas”, destacou Ndiaye. Na Irlanda, produtores de carne bovina marcharam ontem até o Parlamento, onde protestaram contra o tratado comercial. Eles consideram que o acordo é omisso quanto a restrições ambientais, ao passo que elas são adotadas na Europa.



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