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Estado de Minas ENTREVISTA/CRISTIANO AMON

"Sem o 5G, o Brasil atrasará a sua recuperação econômica", diz executivo

Brasileiro que comanda empresa americana gigante no ramo de tecnologia chega ao país nesta semana para debater os rumos da telefonia e os desafios da transformação digital


postado em 20/05/2019 06:00 / atualizado em 20/05/2019 14:11

(foto: Qualcomm Technologies/ Divulgação)
(foto: Qualcomm Technologies/ Divulgação)
São Paulo – Desde janeiro de 2018 no comando da gigante americana Qualcomm Technologies, uma das empresas de tecnologia mais valiosas do mundo, o brasileiro radicado nos Estados Unidos Cristiano Amon tem a missão de espalhar a telecomunicação 5G em todo o mundo.

Nesta semana, ele desembarca em Brasília para participar de um encontro que debaterá os rumos da telefonia, além de mostrar as vantagens do 5G, que deverá ter suas frequências licitadas em leilão do governo brasileiro em 2020.

Para o executivo, o 5G acelerará a transformação digital das empresas, tornará a economia brasileira mais dinâmica e ajudará o país a ganhar competitividade global. Confira a entrevista completa.

Qual é a sua expectativa para o mercado de 5G no Brasil?

O 5G sofreu um processo de aceleração no mundo inteiro, principalmente nos países desenvolvidos. A expectativa é que o Brasil tenha o 5G em 2020. Tudo vai depender do prazo para o leilão de frequências. Porém, uma coisa importante de destacar é que o 5G tem uma diferença principal em relação às outras gerações de telefonia móvel. Ele não atende só a necessidade da operadora, mas de várias outros setores, como a indústria automotiva, todos os segmentos industriais, cidades inteligentes, entre muitas outros. Para um país em desenvolvimento como o Brasil, que está em busca de crescimento econômico, o 5G representa uma grande oportunidade. Gostaria que fosse implementado o mais rapidamente possível.

''O 5G sofreu um processo de aceleração no mundo inteiro. A expectativa é que o Brasil tenha o 5G em 2020. Tudo vai depender do prazo para o leilão de frequências''



Num primeiro momento, o foco do 5G será para utilização nas empresas e para automação industrial?

O 5G tem começado com as operadoras. A tendência é sempre começar pelas operadoras. Mas aí surge uma provocação. Não há necessidade de o 5G começar com uma ou outra empresa de telefonia. O 5G pode surgir como redes privadas, em que empresas de diferentes setores industriais podem construir sua rede própria, uma rede corporativa. Então, o 5G não precisa, necessariamente, aguardar que as operadoras forneçam a tecnologia para o smartphone. Cada um pode construir toda a cobertura. Então, é mais fácil começar com as redes corporativas.

Então o 5G deve começar dentro das empresas?

Existe um planejamento na Anatel (agência reguladora do setor de telecomunicações) de licitar as faixas em março de 2020. Como existe esse apelo corporativo, não pode ser tecnologia voltada exclusivamente para serviços prestados pelas operadoras, mas também voltada à parte de industrial. Tudo vai depender dos detalhes do leilão que a Anatel vier a fazer, e das possibilidades técnicas de ser aberto para redes privadas.

Existe alguma estimativa de quanto o mercado brasileiro vai demandar de investimento para a implementação do 5G nos próximos anos?

Hoje não tenho esse dado. Talvez eu possa falar um pouquinho do que está acontecendo fora do Brasil. As redes de telefonia móvel têm passado por um processo de evolução. Com o 5G, há um processo de densificação das estações rádio-base, porque as distâncias são um pouco mais curtas. Porém, essas estações rádio-base são mais simples. Na questão dos custos, existe a seguinte situação: para as operadoras, que já têm uma capilaridade alta de fibra ótica, especialmente para a conexão das estações, o custo de se montar uma rede 5G é mais barato do que foi na rede 4G. No caso das operadoras que não têm uma capilaridade de fibra, a densificação das redes seria com custos maiores.

''O 5G precisa ser pensado como uma estrutura fundamental para o Brasil, assim como se planeja rodovias, ferrovias, portos e eletricidade''



É possível imaginar um 5G eficiente no Brasil antes mesmo de se ter um 4G que funcione bem? Grande parte do Brasil, especialmente fora das grandes cidades, ainda não tem uma boa cobertura.

Vou responder em partes. A primeira é que 5G precisa ser pensado como uma estrutura fundamental para o país, assim como se planeja rodovias, ferrovias, portos e eletricidade. Hoje, vivemos num mundo em que as coisas estão conectadas, cada vez mais conectadas com a nuvem. Para isso funcionar bem, é preciso ter uma infraestrutura adequada. Aí está a importância de não só vincular o 5G às redes públicas, mas também às redes privadas.

Qual é o segundo ponto?

Um segundo ponto é o modelo que está sendo utilizado na Europa. Temos visto o compartilhamento de rede 5G entre as operadoras de lá. Aqui, em cidades com população menor, seria viável compartilhar essa rede. Esse pode ser um modelo interessante para o Brasil. A terceira questão é que ninguém tem nada a ganhar com um eventual atraso da nova tecnologia. Sem o 5G, o Brasil atrasaria ainda mais a sua recuperação econômica. É um desafio importante, e o Brasil precisa encontrar uma solução.

''Vivemos em um mundo em que as coisas estão conectadas. Para isso funcionar bem, é preciso ter uma infraestrutura adequada. Aí está a importância de não só vincular o 5G às redes públicas, mas também às redes privadas''



O fato de o Brasil ter dimensões continentais faz com que o plano estratégico de implementação da tecnologia seja mais desafiador do que em outros países, como na Europa?

Penso que não. O Brasil, apesar de ser grande, também é um país bastante urbano. Existe uma concentração em grandes cidades e, obviamente, tem de se começar o 5G nas áreas urbanas. O desafio maior é a disponibilidade de infraestrutura de fibra para você densificar as redes. O 5G tem um apelo importante para levar essa conectividade para residências e até para áreas mais longínquas, como fazendas e pequenas propriedades rurais.

O sinal da tecnologia 5G, embora muito mais rápido, tem um alcance menor do que o 4G?

Depende das frequências. O 5G começa com novas frequências. Nos Estados Unidos, está sendo usada a frequência de 600 megahertz. Na Europa, de 700 megahertz. Como o 5G está se desenvolvendo, começa a migrar o tráfego do 4G para o 5G. Temos visto isso, inclusive em frequências que anteriormente eram usadas para o 2G ou até 3G e que acabam sendo utilizadas para o 5G. Então, essa nova tecnologia precisa, sim, de mais estações rádio-bases, no caso da onda milimétrica, mas essa onda milimétrica também tem característica de Wi-Fi, que permite a implantação corporativa mais fácil.

''O 5G pode acelerar a transformação digital das empresas e a transformação digital da economia. Como 5G, o Brasil se tornaria mais competitivo no cenário global''



A tecnologia 5G precisa ser pensada como parte da infraestrutura do país, assim como rodovias, ferrovias e portos, mas o Brasil não está investindo em infraestrutura e algumas operadoras, como Oi e Nextel, estão mal financeiramente.

É uma situação que obriga o Brasil a buscar soluções, buscar modelos diferentes. Se o país, no momento, não pode investir em infraestrutura, veremos uma situação difícil no futuro. Aí terá de esperar o custo dessa tecnologia ficar mais barato. O risco dessa alternativa é o Brasil ficar para trás. Mas o Brasil pode encontrar outra alternativa, como incentivar o compartilhamento de redes de forma que as operadoras possam, juntas, construir uma rede única eficiente. Além disso, pode-se incentivar as redes privadas, de forma que não só a operadoras tenham que fazer todo o investimento, mas as diferentes empresas e setores da indústria possam se beneficiar da tecnologia. Assim, acelerarão o desenvolvimento econômico. Obviamente, não é tão simples, concordo com você, mas acho importante buscar caminhos que possam ser mais fáceis para a situação do Brasil.

O que uma rede consolidada de 5G vai representar para a economia? Isso tende a acelerar o processo de revolução digital nas empresas e no cotidiano dos consumidores?

Com certeza. O Brasil é um grande mercado móvel. O país é um mercado que tem uma facilidade de adoção de novas tecnologias e tem tido casos de sucesso para vários tipos de aplicativos. Mas, o mais importante, é que o 5G, sem dúvida, pode acelerar a transformação digital das empresas e a transformação digital da economia. Como 5G, o Brasil se tornaria mais competitivo no cenário global.


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